Pergunta:
Ao resolver um exercício sobre o poema de Ricardo Reis Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio, deparei-me com a seguinte questão:
«No primeiro verso da segunda estrofe, a forma verbal pensemos encontra-se no:
– presente do indicativo
– presente do conjuntivo
– pretérito imperfeito do conjuntivo.»
A dúvida reside no facto de me parecer que estas formas verbais estão no imperativo e não no presente do conjuntivo, como indica a solução (nem há hipótese para o imperativo). Penso que poderá tratar-se de um lapso, por isso, gostaria de confirmar.
Resposta:
De facto, essa forma verbal — «pensemos» — gera dúvidas, sobretudo, porque sabemos que o imperativo usa a primeira pessoa do plural do presente do conjuntivo. Repare-se que no próprio discurso transparece o misto de expressão do desejo do sujeito, um dos valores do conjuntivo (se não o privilegiado), e o de conselho/exortação que se adequa perfeitamente à mensagem do poema.
O sujeito poético, o eu que fala, está aí a aconselhar e a exprimir o seu desejo ao tu, à Lídia. É como se ele quisesse dizer: «Desejo que pensemos.» Aliás, ao longo de todo o poema é esse sentido que sobressai.
O caso do conjuntivo com valor de imperativo tem suscitado sempre muitas dúvidas. Mas basta pegar no que nos dizem Cunha e Cintra sobre o emprego do conjuntivo — «Quando usado em orações absolutas, ou orações principais, envolve sempre a acção verbal de um matriz afectivo que acentua fortemente a expressão da vontade do indivíduo que fala» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 2002, p. 464) — e a distinção do imperativo: «Cumpre distinguir das correspondentes do imperativo certas formas do presente do conjuntivo empregadas sem a anteposição do que. O imperativo, neste caso, exprime ordem, ou exortação; o conjuntivo, desejo, ou anelo» (idem).
Do mesmo modo, a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003), de Mira Mateus et al., analisa a diferença entre os valores do imperativo e do presente do conjuntivo, porque sabemos que muitas vezes se confundem. Sobre o modo imperativo diz o seguinte: «O modo imperativo diferencia-se dos outros modos na medida em que se especializou na expressão da modali...