Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Ao resolver um exercício sobre o poema de Ricardo Reis Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio, deparei-me com a seguinte questão:

«No primeiro verso da segunda estrofe, a forma verbal pensemos encontra-se no:

– presente do indicativo

– presente do conjuntivo

– pretérito imperfeito do conjuntivo.»

A dúvida reside no facto de me parecer que estas formas verbais estão no imperativo e não no presente do conjuntivo, como indica a solução (nem há hipótese para o imperativo). Penso que poderá tratar-se de um lapso, por isso, gostaria de confirmar.

Resposta:

De facto, essa forma verbal — «pensemos» — gera dúvidas, sobretudo, porque sabemos que o imperativo usa a primeira pessoa do plural do presente do conjuntivo. Repare-se que no próprio discurso transparece o misto de expressão do desejo do sujeito, um dos valores do conjuntivo (se não o privilegiado), e o de conselho/exortação que se adequa perfeitamente à mensagem do poema.

O sujeito poético, o eu que fala, está aí a aconselhar e a exprimir o seu desejo ao tu, à Lídia. É como se ele quisesse dizer: «Desejo que pensemos.» Aliás, ao longo de todo o poema é esse sentido que sobressai.

O caso do conjuntivo com valor de imperativo tem suscitado sempre muitas dúvidas. Mas basta pegar no que nos dizem Cunha e Cintra sobre o emprego do conjuntivo — «Quando usado em orações absolutas, ou orações principais, envolve sempre a acção verbal de um matriz afectivo que acentua fortemente a expressão da vontade do indivíduo que fala» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 2002, p. 464) — e a distinção do imperativo: «Cumpre distinguir das correspondentes do imperativo certas formas do presente do conjuntivo empregadas sem a anteposição do que. O imperativo, neste caso, exprime ordem, ou exortação; o conjuntivo, desejo, ou anelo» (idem).

Do mesmo modo, a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 2003), de Mira Mateus et al., analisa a diferença entre os valores do imperativo e do presente do conjuntivo, porque sabemos que muitas vezes se confundem. Sobre o modo imperativo diz o seguinte: «O modo imperativo diferencia-se dos outros modos na medida em que se especializou na expressão da modali...

Pergunta:

Qual é o grau superlativo absoluto sintético da palavra friorento?

Resposta:

A forma é friorentíssimo.

Segundo a norma, o superlativo absoluto sintético «forma-se pelo acréscimo ao adjetivo do sufixo -íssimo» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 258).

Pergunta:

Como é que se chama um conjunto de folhas secas?

Como é que se chama um conjunto de lenha?

Resposta:

Segundo o Dicionário de Nomes Colectivos (Lisboa, Europa-América, 2006), de Fernanda Carrilho, têm as seguintes designações os conjuntos de:

– folhas (secas ou frescas): folhada; folhagem; folhame; folharia; folhedo; ramo (folhas unidas pelo pé);

– lenha: bagaçada (lenha miúda); bardia (lenha junto à habitação); braçada (quando se pode cingir com os braços de uma só vez); braçado, feixe (lenha quando atada ao meio); lio; meda (feixes); molho; trancaria.

Pergunta:

Como se divide em sílabas a palavra raciocínio?

Resposta:

A divisão silábica da palavra raciocínio é feita do seguinte modo: ra·ci·o·cí·ni·o.

Uma vez que a divisão silábica se faz, em regra, pela soletração da palavra — e as pausas correspondem a sílabas —, e não havendo no termo raciocínio nenhum dos casos particulares previstos (pela gramática tradicional e pelo novo Acordo Ortográfico, na Base XX), pois as duas vogais no final da palavra não formam ditongo (o que implicaria que as vogais não se separassem), a palavra é dividida de acordo com as pausas da soletração.

Nota: Para os casos de dúvida sobre divisão silábica, acentuação e sílaba tónica (para além da grafia), aconselha-se a pesquisa no Portal da Língua Portuguesa e no Dicionário da divisão silábica, recursos disponíveis da responsabilidade do ILTEC, que respeitam o novo Acordo Ortográfico.

Pergunta:

Na palavra tia, ao fazer a divisão silábica, pode-se separar o ditongo ia, ou não?

Resposta:

A divisão silábica tem por base a pronúncia das palavras e faz-se por soletração, mas assenta na grafia convencionada para a mudança de linha (translineação). Por isso, as vogais de ia devem separar-se, porque é um caso de hiato.

As regras para a divisão silábica – da gramática tradicional e da Base XX, do atual Acordo Ortográfico – determinam que «se podem separar as vogais ou ditongos decrescentes» (José Nunes de Figueiredo e António Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Lisboa, Bertrand, 1965, p. 44), ou seja, «as vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui, ora-ção, sacris-tães, traves-sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita» (AO). Por isso, a divisão silábica do nome/substantivo tia é feita da seguinte forma: ti•a.

Nota: Para os casos de dúvida sobre divisão silábica, acentuação e sílaba tónica (para além da grafia), aconselha-se a pesquisa no Portal da Língua Portuguesa e no ...