Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual o pressuposto e o subentendido na frase «Amigo verdadeiro é aquele que está sempre ao seu lado»?

Resposta:

Para que se possa responder a essa questão, é necessário fazer-se a análise da frase.

O enunciado — «Amigo verdadeiro é aquele que está sempre ao seu lado» — é uma frase complexa com uma estrutura de subordinação, em que a subordinada é uma relativa livre com o antecedente «aquele».

Da sua análise, retiram-se as seguintes conclusões:

Sujeito: «Amigo verdadeiro»

Predicado: «é aquele que está sempre a seu lado»

Predicativo do sujeito: «aquele que está sempre a seu lado»

Oração matriz: «Amigo verdadeiro é aquele»

Oração subordinada relativa livre (com antecedente): «que está sempre a teu lado»

Análise da oração subordinada:

Sujeito: «que» (relativo ao antecedente «aquele»)

Predicado: «que está sempre ao seu lado»

Predicativo do sujeito: «sempre ao seu lado».

A partir desta análise verificamos que há, portanto, dois sujeitos nessa frase:

«Amigo verdadeiro» – sujeito simples (da 1.ª oração)
«que» (referente «aquele») – sujeito da oração subordinada.

Assim, este sujeito «que» (que é um pronome relativo) refere-se ao pronome demonstrativo «aquele» que o precede e que, por sua vez, se refere ao sujeito da frase matriz «Amigo verdadeiro». Estamos, por isso, perante um caso de sequência de dois pronomes — aquele e que — em que só o primeiro tem como antecedente um sintagma nominal — «amig...

Pergunta:

A frase «Quem ama, educa», quanto à colocação da vírgula, está correta? Por qual motivo?

«Quem ama» é sujeito? «Educa» é oração principal?

Na frase «Foi ele quem fez o trabalho»:

– «ele» é sujeito, ou predicativo?

– «quem fez o trabalho» é oração subordinada adjetiva restritiva, ou oração subordinada substantiva?

Invertendo: «Quem fez o trabalho foi ele», «Quem fez o trabalho» será or. sub. adj. rest. ou or. sub. subs. sujetiva?

Resposta:

Não é correta a colocação da vírgula entre os constituintes de uma oração. Portanto, como na frase «Quem ama educa» , «quem ama» é o sujeito da oração superior — «educa» —, não se deve colocar a vírgula a separar o sujeito do predicado.

As frases — «Quem ama educa» e «Foi ele quem fez o trabalho» — são «frases complexas caraterizadas por uma estrutura de subordinação, em que as orações [«Quem ama» e «quem fez o trabalho»] são um constituinte da oração superior, com uma função sintática própria, a de sujeito da oração matriz» (Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 675).

Portanto, as duas frase têm em comum o facto de serem orações complexas por subordinação em que a subordinada é uma relativa livre [também denominada oração relativa sem antecedente expresso, devido ao «facto de não existir na estrutura em que se inserem um antecedente nominal realizado, donde a designação de orações relativas sem antecedente» (Telmo Móia, A Sintaxe das Orações Relativas Livres sem Antecedente, p. 34)].

Relativamente à análise da 2.ª frase — «Foi ele quem fez o trabalho»:

Sujeito da frase complexa – «quem fez o trabalho»

predicado – «Foi ele»

«ele» – predicativo do sujeito.

Sujeito da frase subordinada – «quem»

predicado – «fez o trabalho»

complemento direto – «o trabalho».

Classificação das orações da frase ...

Pergunta:

Pode utilizar-se o plural «forças motrizes»?

Resposta:

Se o adjetivo deve «tomar a forma singular ou plural do nome/substantivo que qualifica» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 252), é natural que o adjetivo motriz seja flexionado no plural, de modo a concordar com o nome/substantivo força a que se refere.

Ora, como motriz termina em -z, forma o plural acrescentando-se -es: motrizes.

Portanto, é legítimo usar-se a estrutura «forças motrizes».

Pergunta:

Gostaria de saber se as palavras maça (verbo maçar) e maçã (nome) podem ser consideradas homógrafas.

Resposta:

Se tivermos como referência a definição do Dicionário Terminológico para homografia — «relação entre palavras que têm a mesma grafia, apesar de serem, normalmente, pronunciadas de forma distinta. Existe homografia entre: sede – vontade de beber – e sede – local» —, apercebemo-nos de que se faz referência à pronúncia distinta, mas que não se aborda a questão da acentuação gráfica.

Por sua vez, se recorrermos à gramática tradicional, verificamos que José Nunes de Figueiredo e António Gomes Ferreira, no seu Compêndio de Gramática Portuguesa (Lisboa, Sá da Costa, 1965, p. 57), definem palavras homógrafas como «as que têm idêntica ortografia, mas acentuação e significação diversa: sabia, sábia e sabiá; fábrica e fabrica; , e se».

No entanto, como não se trata de uma referência da gramática tradicional, parece-nos que a classificação mais adequada será a de homógrafas imperfeitas, nomenclatura utilizada pelo Dicionário do Português Contemporâneo e pelo Dicionário Houaiss, uma vez que o caso das palavras maça (forma do verbo maçar) e maçã (nome de fruto) não se identifica, na totalidade, com os critérios apresentados pelo DT para a ocorrência de homografia, pela presença do acento gráfico no nome/su...

Pergunta:

Ao redigir um texto em meu trabalho, deparei-me com a seguinte dúvida: pelas regras do Novo Acordo Ortográfico (já vigente), a palavra concluído leva acento?

Resposta:

O adjetivo e particípio passado concluído não altera a sua grafia com o Acordo Ortográfico de 1990, mantendo o acento agudo no i.

Nota: Sobre este tema, o ponto 1 da Base IX (Da acentuação das vogais tónicas grafas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas) do AO estipula o seguinte:«As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), , atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo,