Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual é a origem do sobrenome Pinto Brito?

Resposta:

Não encontrámos nenhum registo do sobrenome/apelido Pinto Brito nas obras específicas sobre os nomes próprios portugueses, embora a obra Antroponímia Portuguesa (Lisboa, Imprensa Nacional, 1928), de J. Leite de Vasconcelos, ateste dois casos de junção de apelidos com o sobrenome Pinto: Pinto e Silva e Pinto Osório.

Trataremos, portanto, de cada um deles, separadamente.

Segundo Manuel Sousa, em As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas, Pinto é um apelido derivado de uma alcunha bastante vulgarizada nos primeiros séculos da nacionalidade portuguesa, uma vez que existe um grande número de famílias Pinto nas remotas gerações dos Livros Velhos de Linhagens.

Parece «provir de Paio Pinto Soares, morador na terra da Feira, pai de D. Maior Pais Pinto, casada com D. Egaz Mendes de Gundar, companheiro de D. Afonso Henriques, na batalha de Ourique. Deles houve geração que propagou o apelido, nomeadamente na zona de Ferreiros de Tendais, e que entrou em inúmeras famílias portuguesas. As  famílias Pinto puderam manter uma situação social preponderante no decurso das primeiras gerações» (pp. 203-204).

Por sua vez, o apelido Brito tem raízes toponímicas, segundo parece, tirado que foi do lugar de Brito, situado entre o rio Ave e a Portela dos Leitões. As origens desta família são muito remotas. «O tronco desta família terá sido D. Soeiro de Brito, rico-homem ou infanção do imperador D. Afonso VI de Leão. Do casamento de João Anes de Brito com D. Madalena da Costa (filha de Gonçalo da Costa, do Conselho de D. Afonso III), houve larga geração, entre a qua...

Pergunta:

Qual a origem dos meus dois apelidos, Santos e Paço?

Resposta:

Paço(s) é, segundo J. Leite de Vasconcelos (em Antroponímia Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1928), um apelido geográfico tirado do nome do espaço a que a família é associada, razão pela qual, tal como os restantes apelidos de origem geográfica, é usado, frequentemente, com a preposição de.

Por sua vez, segundo José Pedro Machado, em Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, o apelido Paços, frequente em Portugal e na Galiza, provém de Paços, nome usado para designar as terras que rodeiam um palácio, formado a partir do plural de Paço: Paço da Rainha, Paço de Arcos, Paço de Sousa, Paços de Ferreira, Paços de Vilharigues. Somente na grafia, é-lhe atribuída, também, a procedência geográfica.

Relativamente ao apelido Santos, já está publicada uma resposta sobre a sua origem.

Pergunta:

Tenho dúvidas sobre o uso dos verbos em certas frases, como, por exemplo:

1. «Se não a ver», ou «se não a vir»?

2. Ou «se não vier»?

3. E «veres» e «vires»?

Resposta:

1. A forma correta na primeira frase condicional1 é «Se eu não a vir», em que é de regra o emprego do modo conjuntivo (e, neste caso, na forma do futuro simples) do verbo ver.

Como essa forma verbal (1.ª ou 3.ª pessoa do singular do futuro do conjuntivo do verbo ver: «se/quando eu a vir»; «se/quando ele/a a vir»; «se/quando eu vir esse filme»; «se/quando ele/a vir o João») coincide com a do infinitivo do verbo vir, gera dúvidas sobre a sua correção, razão pela qual se incorre, frequentemente, no erro de se usar o infinitivo do verbo ver.

2. «Se não vier» é uma frase correta, pois é usado o futuro do conjuntivo do verbo vir. Exemplo:

«Se não vier esta tarde, não poderá participar nos treinos.»

3. «Veres» e «vires» são as formas da 2.ª pessoa do singular dos infinitivos pessoas dos verbos ver e vir, respetivamente.

Exemplos:

«Torna-se difícil veres com tão pouca luz.»

«Será complicado, para ti, vires a este encontro?»

Pergunta:

Nas frases «O vento era brando» e «Os portugueses passaram muitos perigos», como se classificam os verbos quanto à construção sintáctica?

Resposta:

O verbo [ser] da frase «O vento era brando» é um verbo copulativo (também denominado predicativo, de cópula ou de ligação, porque «seleciona semanticamente um argumento interno [o adjetivo brando] com a relação gramatical de predicativo de sujeito» (Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 302).

Trata-se, portanto, de um caso de predicado nominal, em que o verbo copulativo «determina o esquema relacional SU (sujeito) V (cop) PRED (do sujeito)» (idem, p. 303).

Análise da frase «O vento era brando»:

Sujeito: «O vento»

Predicado (nominal): «era brando»

«era»: verbo

«brando»: predicativo do sujeito.

Por sua vez, o verbo [passar, com o sentido de «suportar» e de «transpor»] da frase «Os portugueses passaram muitos perigos» é um verbo transitivo direto que «seleciona um argumento interno com a relação gramatical de complemento/objeto direto» (idem, p. 298) — o grupo nominal «muitos perigos». Como transitivo direto, esse verbo «determina o esquema relacional SU (suj.) V  OD (ob./compl. direto)» (idem, p. 298).

Assim, a análise da frase é feita do seguinte modo:

Sujeito: «Os portugueses»

Predicado: «passaram muitos perigos»

Pergunta:

Penso que as palavras com a letra c seguida de e ou i se lêem s, enquanto que, se for seguida de a, o ou u, lêem-se k. Estou certo?

Resposta:

De facto, quer no início quer no interior da palavra, antes das vogais e ou i, a letra c pronuncia-se como se fosse um s (no início de palavra ou depois de consoante), razão pela qual esta úlltima consoante ocorre frequentemente nessa posição.

Repare-se que, geralmente, uso do s inicial ou do c  (antes de e ou i) se deve à etimologia, pois o som é o mesmo (que é representado na transcrição fonética por [s]), como se pode verificar pelos seguintes exemplos:

Com c (antes de e ou i): cebola, cereal, cereja, certeza, cima, cimento, conceber, alicerce, Escócia, especial, Macedo.

Com s (no início das palavras ou depois de consoantes): sábio, saco, sede, sério, seta, solitário, surdo