Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se na palavra valete o a é aberto ou fechado. Muito obrigado.

Resposta:

Tendo como referência transcrição fonética da palavra valete [vаlɛt(ə)] do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2010), o a da antepenúltima sílaba é aberto, mas não tónico (o que implicaria a presença do acento gráfico), sendo a penúltima sílaba a tónica (valete).

Se se tratasse de um a fechado, a sua transcrição fonétca estaria representada pelo sinal ɐ.

Pergunta:

Como é que fica o som J nas transcrições fonéticas? Exemplos: abranger ou João.

Resposta:

Nas transcrições fonéticas, o som das consoantes g e j nas palavras abranger [ɐbrɐ̃Ʒеɾ] e João [Ʒwɐ̃w̃] é representado pelo sinal [Ʒ], que, nestes casos, se trata de consoantes fricativas palatais (tal como sucede em , gelo, genro).

Distinto deste som fricativo palatal é o da consoante oclusiva g de gato, agora, frango, que é representado pelo símbolo [ɡ].

Pergunta:

Gostaria de saber como fazem a divisão silábica das seguintes palavras: rainha, planícies e dormiam.

Resposta:

As três palavras têm em comum a sequência de vogais, o que provoca dúvidas a nível da sua soletração, a base da divisão silábica, dificultando a identificação e delimitação das sílabas, pois, nestes casos, essa tarefa nem sempre é intuitiva.

Por isso, não podemos deixar de ter em conta as regras da divisão silábica previstas no ponto 4 da Base XX, do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, que estabelece que: «As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui, ora-ção, sacris-tães, traves-sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita: ala-úde, áre-as, ca-apeba, co-ordenar, do-er, flu-idez, perdo-as, vo-os. O mesmo se aplica aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e vogais: cai-ais, caí-eis,

Pergunta:

Gostaria de saber se é possível esclarecer-me sobre se o nome da terra onde vivo se escreve Cête ou Cete.

É uma freguesia do concelho de Paredes, no distrito do Porto.

Resposta:

O Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (vol. I, Lisboa, Liv. Horizonte, 2003, de José Pedro Machado), regista Cete como nome de dois topónimos que se distinguem na pronúncia:

Cete, topónimo de Paredes, que evolui de Cety (em 924) e de Ceti (em 1258) que talvez tenha a sua origem no genitivo do antropónimo Ceto, escrito Seto em 1009. É colocada, também, a hipótese de remeter para o topónimo francês Cette (atualmente Sète), do pré-celta set-, «monte».

Cete (ê), topónimo de Matosinhos.

Perante estes dados, apercebemo-nos de que o topónimo de Paredes se pronuncia com o e aberto (da sílaba tónica), enquanto o de Matosinhos, tal como é assinalado no dicionário, tem a sílaba tónica com o e fechado.

Pergunta:

Gostaria de conhecer a etimologia (origem e evolução histórica) e os significados da palavra talismã.

Resposta:

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, a palavra talismã deriva «do francês talisman, que, por sua vez, provém do árabe Talāssim, plural de Tilasm, «talismã, encanto», vocábulo estrangeiro, tomado, segundo parece, do grego bizantino télesma, «cerimónia religiosa», derivado de teleîn, «cumprir, fazer um sacrifício».

Relativamente aos significados de talismã, não há dúvida de que estes estão relacionados com a sua origem. Tal termo é, portanto, usado para designar: todo o «objeto que, em determinadas circunstâncias, mediante certos procedimentos de magia, se supõe adquirir propriedades e virtudes espirituais, bem como a possibilidade de curar doenças e/ou livrar de perigos; figura de pedra ou metal, com carateres gravados, que se supõe ter poderes sobrenaturais; aquilo que se supõe produzir um efeito surpreendente, maravilhoso ou mágico; encanto» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010).