Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Se eu utilizar a locução «em que pese» na função de conjunção subordinativa adverbial concessiva (isto é, como sinônimo de embora ou de apesar de), o verbo que sucede a ela fica no subjuntivo, ou no infinitivo?

Resumindo, qual é o correto:

«Em que pese o réu ter negado a autoria do fato delituoso, ele foi condenado a uma pena severa», ou «Em que pese o réu tenha negado a autoria do fato delituoso, ele foi condenado a uma pena severa»?

Resposta:

Segundo o Guia do Uso do Português: confrontando regras e usos (Maria Helena de Moura Neves, ob. cit., São Paulo, Editora UNESP, 2003, p. 284), «a construção em que pese a, seguida de referência a pessoa, significa "por mais que desagrade a alguém"», sendo também «frequente a construção em que pese(m) o(s), que significa "apesar do peso de", "apesar de"» (idem), construção esta em que «o verbo concorda com o sujeito, que lhe vem sempre posposto». Como exemplos de tais construções, apresentadas como «bastante usuais», são-nos dadas as seguintes frases:

1. «Livre das pressões, em que pese a reclamação daquele torcedor mato-grossense, Jorginho voltou a ser o craque de sempre.»

2. «Em que pesem o desequilíbrio e as susceptibilidades entre os parceiros, nos últimos dez anos conseguiu-se reverter a natureza do relacionamento com a Argentina.»

Assim sendo, e se tivermos em conta o modelo destas duas frases, depreendemos que as expressões «em que pese a» e «em que pese(m) o(s)», embora signifiquem «apesar do peso de», «apesar de», implicam uma construção do tipo: «Em que pese a negação da autoria do facto delituoso, o réu foi condenado a uma pena severa.»

Para chegarmos a essa conclusão, para além de termos como referência os dois exemplos (1., 2.), constatámos que as construções «em que pese a» e «em que pese(m) o(s)» não se encontram abrangidas pela norma que prevê o uso do «infinitivo (flexionado ou não flexionado) com o conector apesar de na oração concessiva» (Mira Mateus et alli, Gramática da Língua Portuguesa...

Pergunta:

O que significa «linguística ortoépica»?

Resposta:

O adjectivo ortoépico significa «que é relativo a ortoépia», termo «que se refere à parte da gramática em que são definidas as regras da pronúncia correcta» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa).

Por sua vez, o Dicionário de Linguística (Zélio dos Santos, ob. cit., Rio de Janeiro, Presença, 1981) explica ortoépia como «parte da ortofonia que trata da perfeita articulação dos fonemas em que se toma por padrão a norma respeitada pela classe culta».

Tendo como referência estas definições, depreendemos que linguística ortoépica é a que descreve a pronúncia considerada culta e relevante numa dada comunidade linguística.

Pergunta:

Vejo frequentemente a palavra espectro utilizada no sentido de «leque», como por exemplo:

a) «O espectro político português...»

b) «Um largo espectro de iniciativas terá lugar...»

c) «Tens um espectro de alternativas para...»

No dicionário não encontro esse sentido de espectro, dado que aparecem apenas os sentidos de «assombração», «fantasma», ou então relativo à dispersão de radiações compostas: «espectro solar», «espectro magnético», «espectro de absorção», etc.

Julgo que a utilização que referi acima se trata de uma extrapolação deste último sentido. A minha questão é se esse extrapolamento é pertinente ou se, pelo contrário, se trata de uma má utilização do termo.

Agradecida.

Resposta:

De facto, a grande maioria dos dicionários apresenta, para espectro, os sentidos que focou, destacando-se o da ideia de «suposta aparição de um defunto, incorpórea, mas com a sua aparência; fantasma; assombração» e, também, o do «resultado da dispersão» associado à física – «gráfico, registo fotográfico ou visual de uma distribuição de quantidades observáveis ou propriedades dispostas segundo a sua magnitude» – e ao sistema solar (espectro estrelar ou solar).

Mas tanto o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Lisboa, Círculo de Leitores, 2007) como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001), e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2004), nos fornecem outros  sentidos: «evocação obsedante (o espectro do passado)»; «o que apavora, aterroriza ou constitui ameaça (o espectro da guerra, da fome)»; «coisa vazia, falsa, ilusão (o espectro da glória)»; «pessoa muito magra, de cor macilenta (o trabalho excessivo fizera dele um espectro)» e também, por extensão do termo científico do domínio da física, da medicina («gama mais ou menos extensa de germes ou infecções comuns sobre a qual actua um antibiótico») ou da matemática («conjunto de valores próprios de uma matriz»), o do valor que propôs e sobre o qual colocou a sua dúvida, ou seja, o de «conjunto de», «leque de», enfim, «a expressão funcional de uma distribuição».

Pergunta:

A seguinte questão foi apresentada na minha prova da faculdade:

«Escolha a alternativa que preenche o pontilhado, na seguinte afirmativa: A metáfora e a metonímia são figuras de linguagem utilizadas na construção de sentido...

a) Elucidativo

b) Descritivo

c) Denotativo

d) Impositivo

e) Figurado»

Gostaria de ajuda para esta questão pois eu respondi a alternativa e), visto que a metáfora diz respeito à comparação, semelhança com algo. No entanto, fiquei em dúvida entre o sentido figurado e o elucidativo.

Podem me ajudar?

Obrigada.

Resposta:

Analisemos, em primeiro lugar, o valor de sentido elucidativo e o de sentido figurado. A construção de sentido elucidativo é aquela que tem o objetivo de «tornar claro, explicar, esclarecer, ilustrar, comentar»  (Dicionário Houaiis da Língua Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 2007), ao passo que a de sentido figurado é «aquela que implica representação de algo ou de alguém, põe um elemento de valor convencional, imitativo» (idem).

Debrucemo-nos, também, sobre o que caracteriza a metonímia e a metáfora. Segundo o Dicionário de Literatura (dir. Jacinto do Prado Coelho, II vol., Porto, Figueirinhas, 1979), uma e outra resultaram de associações, mas, «é indispensável notar que [a metonímia ] se trata de um caso de uma associação por contiguidade e não por semelhança – como é o caso da metáfora».

Assim sendo, se tivermos em conta que a metonímia é a «figura pela qual se designa uma realidade por meio de um termo referente a outra que está objectivamente relacionada com a primeira», apercebemo-nos de que tal relação é, portanto, «externa e objetiva». A metonímia surge, também, no Dicionário de Termos Literários como «a figura de linguagem por meio da qual se coloca uma palavra em lugar de outra cujo significado dá a entender. Ou a figura de estilo que consiste na substituição de um nome por outro em virtude de uma relação semântica extrínseca existente entre ambos. Ou, ainda, uma translação de sentido pela proximidade de ideias. Consiste, assim, na ampliação do âmbito de significação de uma palavra ou expressão, partindo de uma relação objectiva entre a significação própria e a figurada» (E-Dicionário de Termos Literários, coord. de...

Pergunta:

Qual a origem e o significado do nome feminino Silene (por vezes também encontrado como "Cilene" aqui no Brasil)?

Obrigado!

Resposta:

Silene (nome/substantivo feminino) designa um género botânico, «da família das cariofiláceas, que reúne cerca de 700 espécies, originárias do hemisfério norte, especialmente do Sul dos Balcãs e do Sudoeste da Ásia, cultivadas como ornamentais». Etimologicamente, silene é o aportuguesamento do latim científico taxonómico do género Silene (1735), que, por sua vez, provém do latim científico Silenus, i, «Sileno, companheiro de Baco, < mitón. gr. Silenós, ».

Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vol. XVI, Lisboa, Círculo de Leitores, 2007.