Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Qual o feminino das palavras barão e cônsul?

Resposta:

O feminino de barão é baronesa, um dos casos anómalos de formação do feminino dos nomes terminados em -ão.

Relativamente ao feminino de cônsul, embora a gramática tradicional registe a forma consulesa para designar a esposa do cônsul e, também, a mulher/funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros que exerce a função/o cargo de cônsul, a realidade é que se tem vulgarizado a forma cônsul (nome comum de dois géneros) – «a cônsul» – para se distinguir a pessoa que tem a seu cargo um consulado. A defender esta posição, Evanildo Bechara, em Moderna Gramática Portuguesa (2002, pág. 134), apresenta os seguintes argumentos: «As convenções sociais e hierárquicas criaram usos particulares que nem sempre são unanimemente adotados na língua comum. Todavia já se aceita a distinção, por exemplo, entre a cônsul (= senhora que dirige um consulado) e a consulesa (= esposa do cônsul), a embaixadora (= senhora que dirige uma embaixada) e a embaixatriz (= esposa do embaixador).»

Pergunta:

Existe a palavra chiquiísima, apesar de não ser tão comummente utilizada?

Resposta:

Não, na escrita tal forma não é reconhecida. Existe, sim, a forma chiquíssima, pelo menos em Portugal, onde é frequente, como forma de se caraterizar e elogiar a arte de alguma senhora (ou alguma jovem) de se saber vestir, de usar o traje sempre adequado e elegante em todas as situações, o que lhe confere o estatuto de distinção. É essa a razão pela qual se recorre ao superlativo absoluto sintético de chique, adjetivo dos dois géneros que designa «elegante», derivado do francês chic.

Repare-se que, na formação do grau superlativo, quando «o adjetivo terminar em vogal – como é o caso de chique –, esta desaparece ao aglutinar-se o sufixo -íssimo» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 258), do que resulta a forma chiquíssimo(a).

Segundo as gramáticas, os casos em que ocorre a repetição do i inicial do sufixo -íssimo são os dos adjetivos terminados em -io(a), que, ao se retirar a vogal final – o(a) – mantêm o i que o antecedia. Exemplo: seriíssimo, necessariíssimo. De qualquer modo, Cunha e Cintra esclarecem que «a língua atual prefere seríssima, necessaríssimo, com um só i» (idem, p. 260).

Pergunta:

Existe a expressão «haverá oportunidade para reflectir», ou não será mais correcto «haverá oportunidade de reflectir»?

Resposta:

As duas formas estão corretas.

De facto, o nome/substantivo oportunidade implica o uso indiscriminado de uma das duas preposições – de, para –, sempre que corresponda à ideia de «ter ocasião de» (cf. Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho).

Portanto, poderá dizer/escrever tanto «Haverá oportunidade para refletir» como «Haverá oportunidade de refletir», sem que uma forma esteja mais correta do que a outra.

Pergunta:

O que significa «mentira deslavada»?

Resposta:

«Mentira deslavada» significa uma mentira mal preparada e que, por isso, se torna descarada, atrevida.

Pode parecer estranha a marca negativa de atrevimento associada a deslavada, sobretudo tratando-se de uma mentira, mas isso deve-se ao facto de que é sinal de falta de respeito pela pessoa a quem se mente se o discurso/texto construído denunciar imediatamente a falta de verdade. Por isso, quando se usa a expressão «isso é uma mentira deslavada», o emissor sente-se atingido, agredido pelo atrevimento de quem mentiu, porque não se preocupou em forjar uma situação em que a mentira fosse menos óbvia.

Fontes: Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões, 2000; Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001; Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem minha dúvida a respeito da regência do seguinte verbo:

Diz-se: «rezar nas intenções», ou «pelas intenções»?

Resposta:

A forma correta da frase é «rezar pelas intenções».

Repare-se que a sintaxe do verbo rezar prevê o uso de duas preposições – a, por – para situações distintas (cf. Dicionário Prático de Verbos Seguidos de Preposições, de Helena Ventura e Manuel Caseiro, 1992). Assim:

«Rezar a» = «orar a»; «dizer oração». Exemplo: «Rezo a Deus.»

«Rezar por» = «orar por»; «dizer oração por». Exemplo: «Reza por mim!» «Rezaram pela saúde do filho doente.»