Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Pergunto qual a frase certa: «Estou desejoso por chegar aí», ou «Estou desejoso para chegar aí»?

Resposta:

O Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes, regista unicamente a preposição de como regência do adjetivo desejoso, o que se pode verificar através do exemplo fornecido: «Sentou-se, pois, ao lado, atento e desejoso de agradar ao interlocutor» (Afrânio Peixoto, A Esfinge, p. 86).

Assim, a forma correta da frase apresentada é:«Estou desejoso de chegar aí.»

Nota: Repare-se que é essa, também, a preposição pedida pelo nome/substantivo desejo. Exemplo: «Pode-se assentar como máxima que, em cada Estado, cresce o desejo de glória com a liberdade dos seus habitantes» (Mário Barreto, Cartas Persas, p. 188).

Pergunta:

Na frase «Ontem eu fui ao médico, ele estava atrasado, eu estava na sala de espera e estava muito nervosa», está correto o uso do imperfeito, ou poderia usar «Eu fiquei nervosa»?

Resposta:

O uso do pretérito imperfeito está correto nesse enunciado, apesar de a primeira afirmação ter o verbo no pretérito perfeito.

Repare-se que o texto em análise começa com uma narração (evidente pela ação/movimento marcada pelo verbo no pretérito perfeito — «Ontem fui ao médico»), mas logo passa para uma enumeração de descrições, em que o sujeito/narrador explica com minúcia o que se passava simultaneamente, fazendo uma pausa na ação (caraterização das situações – atrasado, na sala, muito nervosa) – o médico «estava atrasado, eu estava na sala e estava muito nervosa» –, razão pela qual é usado o pretérito imperfeito, o tempo privilegiado da descrição.

Pergunta:

«A mármore está fria.» Se estou me referindo a pedra de mármore, a frase fica correta?

Resposta:

Não, essa frase não está correta, porque a palavra mármore é um nome/substantivo masculino. Assim, a frase deveria ser: «O mármore está frio.»

Note-se que não haveria qualquer irregularidade se o termo mármore fosse precedido da palavra pedra, nome que geralmente acompanha aquele termo: «A pedra-mármore está fria.»

No caso apresentado, o erro ocorre porque houve a elipse da palavra feminina – pedra – que determinaria esse género.

Pergunta:

Tenho uma dúvida que me acompanha há algum tempo. Quando cumprimento alguém por escrito, «Olá, Rita!», devo colocar a vírgula entre o cumprimento e o nome, ou não? Eu coloco-a sempre, mas tenho visto muitas pessoas que não a colocam.

Resposta:

De facto, ultimamente (e talvez devido às mensagens dos telemóveis), vemos com frequência a falta da vírgula antes do vocativo (o nome da pessoa a quem nos dirigimos), o que foge às regras da pontuação.

Tal como a consulente sugere, este é um dos casos particulares do emprego da vírgula, em que deve ser usada «para isolar o vocativo» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 641), como forma de destacar o apelo a determinada pessoa, o destinatário da nossa mensagem.

Pergunta:

Por que motivo não devemos tratar uma pessoa licenciada por dona? E porque devemos usar o termo Dra.?

Resposta:

O título de doutor(a) contempla «todos os diplomados por escolas superiores» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 295). Por isso, em situação formal, se nos dirigirmos a uma pessoa licenciada, que possui habilitação do ensino superior, a forma correta de tratamento é senhor(a) doutor(a), fazendo acompanhar as formas senhor ou senhora da menção do respetivo título (ou cargo).

É considerado menos respeitoso usar-se como tratamento do título (doutor, engenheiro, ministro, presidente, capitão, diretor) não precedido de senhor, senhora, porque estas são as formas convencionadas de respeito ou de cortesia.

Por esta razão se recomenda esta forma – senhora doutora –, não se aconselhando o uso isolado do termo dona, que «se aplica, em princípio, a senhoras de qualquer classe social» (idem), excluindo a especificação do grau académico próprio de um determinado cargo ou função.