Pergunta:
Não poucas vezes, ouvi dizer, de brasileiros, “abissurdo” ou inguinorante”, mas sempre levei estes casos de anaptixe[1] à conta de agramaticalidades tipicamente brasileiras (tanto quanto sei, de origem africana ou mesmo angolana).
Quando, porém, ouvi senadores a pronunciarem o impeachment como “impichiment”, na sessão do Senado em que foi votada a exoneração da Presidente Dilma Roussef, perguntei-me se se tratava duma agramaticalidade ou, antes, de um brasileirismo, já enraizado na variedade brasileira do português. Agora, no discurso de tomada de posse de Jair Bolsonaro, ouvi-o dizer “corrupição” em vez de corrupção.
Gostava de saber, do Ciberdúvidas, se esta anaptixe é uma agramaticalidade fonética ou é um brasileirismo, já registado como aceite na variedade brasileira do português.
[1 N. E. – O termo anaptixe denomina «[a] epêntese de vogal no interior de um grupo consonantal (p.ex.: latim febrariu > português fevreiro > fevereiro; tramela > taramela; no português informal do Brasil, diz-se peneumonia por pneumonia<...
Resposta:
No caso de "abissurdo", creio tratar-se do desconhecimento da tonicidade da palavra, acrescido da falta do padrão português: consoante + vogal. O que faz o falante perante a sequência "bs"? Facilita sua vida inserindo vogal onde não existe. O mesmo ocorre em "corrupição" em vez de corrupção.
No segundo caso, "inguenorante", acredito que haja alguma relação com o prefixo negativo in-, usado a todo momento: infeliz, inculto, incapaz, intransigente. Quanto ao n acrescentado, o falante que faz este tipo de "erro" conhece a palavra ignorância, que, possivelmente, também vai pronunciar " inguinorância".
Há inúmeros outros casos, como "adevogado"/ "adivogado" em vez de advogado, "ad(i)vertir", "ob(i)soleto", "impreg(ui)nar", entre tantas outras. A verdade é que falantes brasileiros tem dificuldades em pronunciar sons consonantais sem vogais, seja em português ou em quaisquer outras línguas. Ex: 'strada em português de Portugal passa a ser "istrada" ; 'star (também no português europeu) passa a "istar".
No que diz respeito ao caso citado em inglês, a tendência é basear a língua falada pela forma escrita, sempre um equívoco, e no caso do inglês um suicídio, já que a língua inglesa escrita não sofreu reformas ortográficas ao longo dos tempos, o que causa dificuldades para os próprios nativos, a tal ponto, que o processo de alfabetização é bem mais longo do que que entre nós.
Até hoje o velho ditado não é dispensado em todos os países de língua inglesa. No português a interpretação oral de cada letra é relativamente clara e constante. No inglês, além de ser...