Pergunta:
Gostaria de ser esclarecido quanto à função sintática das formas pronominais o e lhe em frases como as seguintes:
«Se és ecologista, eu sou-o também.»
«O assunto é-lhe indiferente.»
Nas gramáticas que consultei, a forma o é classificada como pronome pessoal acusativo/complemento direto, e a forma lhe como pronome pessoal dativo/complemento indireto. Além disso, com a implementação do Dicionário Terminológico, estas formas de pronome pessoal são utilizadas, mais do que nunca, nas fórmulas de teste das funções sintáticas complemento direto e complemento indireto.
Assim, será admissível considerar que estas são situações excecionais de uso do pronome o/a/os/as como predicativo do sujeito e de lhe/lhes como complemento do adjetivo? Ou serão utilizações consideradas incorretas?
Antecipadamente grato pela atenção.
Resposta:
Uma das características do predicativo do sujeito (quando não é localizador de tempo ou de espaço) é a de ser substituível pelo pronome o, que, habitualmente, se considera demonstrativo (Cf. p. 136 da Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cunha e Cintra).
Em «O assunto é-lhe indiferente», estamos perante um dos casos periféricos, em que o pronome dativo lhe não corresponde, efetivamente, a um complemento indireto, embora, do ponto de vista semântico, lhe possa ser atribuído o papel temático de destino, ou meta, como acontece no complemento indireto típico que encontramos em «O João deu uma prenda à Maria», em que há um objeto (o tema, ou paciente — CD) que se desloca do sujeito (agente) para o CI (beneficiário, destino, ou meta…).
Os usos mais periféricos do pronome dativo estão apresentados na resposta Dativo ético e de posse em português.
No caso em análise, estamos perante um dativo de interesse.