Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Agradeço, antes de mais, a leitura atenta que Francisco Miguel Valada fez do meu texto. Não pude deixar de reparar que, ao comentá-lo, digamos assim, cumpriu escrupulosamente todas as regras do Acordo de 1945 e acertos seguintes, embora me não conste que, não o fazendo, fosse submetido a algum tipo de punição.

Pergunta:

Gostaria de saber como se pronuncia correctamente a palavra plenitude: se com e aberto (como café) ou se com e fechado (como questão).

Agradeço a atenção dispensada.

Resposta:

A pronúncia é uma das áreas em que é mais difícil fixar uma forma única de dizer, pois há variações regionais que não são consideradas incorrecções. No caso de plenitude, os dois dicionários que apresentam a transcrição fonética são divergentes: segundo o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, o e lê-se como e de questão; segundo o Grande Dicionário, da Porto Editora, o e lê-se como o e de medo.

De qualquer forma, sendo uma sílaba pré-tónica, a evolução da pronúncia do português mostra que a tendência é ler-se como o e de questão.

Pergunta:

O treinador José Mourinho afirmou: «Sou o José Mourinho com todas as qualidades e defeitos.» Esta frase está correcta? A verdade é que foi reproduzida em todos os jornais sem edição, por isso fico na dúvida. Parece-me que o determinante indefinido todas se refere tanto às «qualidades» como aos «defeitos». Ora, estando no feminino, não haverá aqui um problema de concordância? Não seria preferível escrever «todos os defeitos e qualidades» ou «todas as qualidades e todos os defeitos»? Por outro lado, parece-me que escrevendo desta maneira se altera bastante o que o treinador português afirmou. Não o sentido, é certo, mas de algum modo o ritmo, a entoação da frase.

Eu não sei se já responderam a questões similares a esta, mas eu tenho muitas dúvidas deste género quando estou a escrever e agradeceria que me ajudassem a ultrapassá-las.

Resposta:

A estrutura que lhe causa dúvidas, «com todas as qualidades e defeitos», ainda que comum, apresenta, à luz da norma, um desvio que se prende com o uso da coordenação representada pela conjunção e. As regras da coordenação preconizam que só elementos de estrutura idêntica ou equivalente se podem coordenar. Por essa razão, a interpretação que faço da estrutura em apreço é a seguinte: estamos perante dois grupos preposicionais, havendo, no segundo, elipse da preposição e do indefinido: «Com todas as qualidades e [com todos os] defeitos.» Habitualmente, este tipo de elisão faz-se sem quaisquer desvios. Porém, sempre que os nomes a coordenar são de género diferente ou estão em número distinto, aconselha-se a repetição dos determinantes (que apresentam marcas de género ou de número distintas) e, mesmo, em alguns casos, da preposição. Na frase em análise, e num discurso formal, o ideal seria registar «com todas as qualidades e todos os defeitos», podendo ficar elidida apenas a preposição, embora haja quem defenda a sua repetição: «Com todas as qualidades e com todos os defeitos.»

No entanto, a frase em apreço é a reprodução de um texto oral, no qual o filtro, digamos assim, da norma é mais flexível, sendo aceitável a forma como o texto ocorreu. Quanto ao facto de os jornais divulgarem a frase, se o objectivo era veicular o texto de Mourinho ipsis verbis, o tipo de desvio que ocorre não justifica a intervenção dos jornalistas, até porque, como refere, ao fazer a edição, alterar-se-ia a ideia de ritmo e de oralidade.

A interpretação que o consulente faz é distinta da que acabo de expor, mas é igualmente lícita. Do seu ponto de vista, não há elipse, e o determinante todas condiciona, ou abrange, os dois nomes, devendo, por isso, estar no masculino, dado haver um nome masculino. Essa é...

Pergunta:

Estou com uma grande confusão na cabeça. Gostava de ser esclarecida de uma vez. Afinal, o que são recursos expressivos e o que são figuras de estilo e, por fim, onde se enquadram as sensações visual, olfativa, gustativa, táctil e a auditiva? Sou professora de Língua Portuguesa no 2.º ciclo e estou baralhada com o que vejo nos manuais e nas listas de recursos expressivos que aparecem nas gramáticas. As vossas perguntas e respostas não foram muito esclarecedoras, nomeadamente:

Pergunta n.º 22 544

Pergunta n.º 8051

Pergunta n.º 20 949

Obrigada.

Resposta:

Um dos grandes problemas que estão associados a questões como a que apresenta prende-se com o conceito, errado, de que só alguns iluminados utilizam recursos expressivos da língua. No seu texto, poderia, por exemplo, centrar-me na seguinte frase:

«Afinal, o que são recursos expressivos e o que são figuras de estilo e, por fim, onde se enquadram as sensações visual, olfativa, gustativa, táctil e a auditiva?»

Estamos perante uma pergunta enfática, com algum grau de, digamos, impaciência, ou saturação, que já se anuncia nas frases anteriores. Opta por fazer não uma, mas uma sequência de três perguntas, ligadas por coordenação copulativa. Além disso, anuncia que vai concluir, através de uso parentético (através de vírgulas) de «por fim».

O que a consulente fez foi usar a língua que conhece, e domina, de forma eficaz, para produzir um determinado efeito: dúvida, por um lado, e insatisfação, por outro. Ao fazê-lo, usou recursos expressivos. Não vou aplicar a “lupa” da análise estilística à sua frase, caso contrário dir-lhe-ia ainda que recorre a repetições como «o que», etc., dando jus ao que digo no último dos exemplos de respostas mal conseguidas que inclui na sua pergunta. Aí defendo — e mantenho! — que todos os falantes de uma língua materna a usam adequadamente para conseguir os seus objectivos. Para isso, recorrem a diversas estratégias que não são outra coisa a não ser recursos expressivos da língua. Se se tivesse concentrado na segunda parte dessa mesma resposta, veria que os recursos estilísticos são muito mais abrangentes do que as figuras de estilo, sendo muitas destas situadas na retórica. Efectivamente, as figuras de estilo são, também, por vezes, identificadas como figuras de retórica.

Poderemos dizer que a língua possibilita a cada falante o uso de uma grande quantidade de recurso...

Pergunta:

Qual é o gentílico de Mascate, capital de Omã, país da Península Arábica?

Com a palavra, os genialíssimos consultores do Ciberdúvidas.

Muito obrigado.

Resposta:

Muitas são as localidades para cujos habitantes a língua portuguesa não tem gentílico. Poderá ser esse o caso de Mascate, pois não encontrei qualquer gentílico associado a esta cidade. Existe no Brasil o termo mascate, que designa «vendedor ambulante», ou, no Recife, «português», segundo se lê no Dicionário Houaiss.