Apesar de uma separação política com praticamente 900 anos, a verdade é que, para surpresa de muitos, continuam muito fortes os laços linguísticos e culturais dos países de língua portuguesa com a Galiza. No espaço ibérico essa relação é especialmente notória na toponímia, que, com as inevitáveis variações locais, associa o norte de Portugal às atuais províncias galegas. Mas é nos territórios para onde os dialetos galego-portugueses se expandiram que os apelidos dão testemunho da vitalidade dessa herança.
Tal é o enquadramento da proposta de recuperação e valorização do património onomástico galego-português que encerra este livro escrito por Diego Bernal Rico e publicado pela Através Editora, sediada em Santiago de Compostela. O autor adota a ortografia reintegracionista, de aproximação ao português, opção a que dá relevo o prefácio do tradutor e académico Marco Neves, grande divulgador de temas linguísticos, entre eles, o da relação do galego com o português, quando diz (p. 15): «Não sabemos nós, em Portugal, a sorte que temos em haver tantos galegos empenhados em estudar a língua – a nossa língua. Uma boa resposta nossa poderia ser uma maior atenção ao que se escreve a norte da fronteira – sobre língua e não só. Este livro é um bom ponto de partida.»
É, portanto, de um autêntico guia que se trata, quando depois do prefácio, em secção introdutória (intitulada «Boas-vindas ao nosso museu»), o autor convida o leitor a abrir «o misterioso baú dos apelidos» (p. 19). Seguem-se nove secções dedicadas a noções elementares dos estudos de onomástica e a...