Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tenho a dúvida da palavra pen drive. Qual é o género a que a palavra pertence?

Como sabem, é uma palavra inglesa, que já se interiorizou na mente dos falantes da língua portuguesa.

Costumo dizer assim para mim: «A pen drive», e não «o pen drive».

Gostaria de saber qual é o uso adequado.

Resposta:

O termo português para pen drive (ou pendrive) é simplesmente caneta. No Brasil, o anglicismo é usado sobretudo como substantivo masculino (cf. iDicionário Aulete, que o regista sob forma hifenizada, pen-drive). Em Portugal, emprega-se comummente pen, no género feminino, certamente porque está consagrada a associação à palavra caneta.

Pergunta:

Reparei, outro dia, no slogan de uma determinada marca de champô, que diz o seguinte: «Cabelos secos, com tendência a ganhar jeitos?» A minha dúvida coloca-se na maneira como está conjugado o verbo ganhar. Será que não devia ser «Cabelos secos, com tendência a ganharem jeitos?» O sujeito da frase está no plural («cabelos»), portanto o verbo deveria concordar com o mesmo, certo?

Esclareçam-me, por favor.

Obrigada e parabéns pelo sítio na Internet!

Resposta:

O infinitivo precedido da preposição a e com valor descritivo (infinitivo de narração; ver Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 483) pode não concordar com a expressão nominal a que se refere:

«Meus criados e vassalos
Por essa torre a dormir
Nem de nosso anor suspeitam,
nem o podem descobrir.»

(Almeida Garrett, ibidem)

Vemos nestes versos de Garrett o partido que se tirou da possibilidade de não haver concordância («a dormir», em vez de «a dormirem»), justamente para permitir a rima.

Mas, sublinhe-se, o emprego do infinitivo flexionado com intenção descritiva é perfeitamente gramatical, como, aliás, Evanildo Bechara o atesta (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, pág. 284), ao tratar daquilo a que ele chama "infinitivo histórico ou de narração":

«E os médicos a insistirem que saísse de Lisboa» (Júlio Dinis)

Agradecemos as palavras finais.

 

Pergunta:

Gostaria de saber a origem do sobrenome Lima.

Resposta:

Antes de se fixar como apelido, Lima terá sido aplicado inicialmente a pessoas provenientes da região do Lima (Limia em castelhano e galego), rio que nasce no Sul da Galiza (Espanha) e encontra a sua foz na costa do Minho (Norte de Portugal). Trata-se de um nome de origem pré-romana, cuja raiz se liga aos topónimos Lemos (Monforte de Lemos, na Galiza) e Lamego (Portugal). Note-se que não tem que ver com a capital do Peru, Lima, que evoluiu do nome do rio que passa pela cidade, o Rimac (ver José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa e Fernando Cabeza Quiles, Os Nomes de Lugar, Vigo, Edicións Xerais de Galicia, pág. 239/240).

Pergunta:

Aqui no Ceará o termo "banquista" é muito utilizado, mas há divergência acerca do termo. Uns dizem que o certo é banqueiro, no sentido de ter muita regalia, escolher muito, ser cheio de querer.

Agradeço se responderem, pois estamos ansiosos para saber qual é o certo.

Obrigados!

Resposta:

Duas obras brasileiras, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, não registam a palavra "banquista". Realtivamente a banqueiro, o Houaiss dá as seguintes acepções:

«1 aquele que é proprietário de um banco; 2 indivíduo com a função de diretor num banco; 3 aquele que executa operações bancárias; 4 Derivação: sentido figurado. homem muito rico; capitalista; 5 Rubrica: termo eclesiástico; em Roma, funcionário pontifical incumbido de vender ou expedir as bulas ou breves das dispensas matrimoniais; 6 Rubrica: ludologia; nos jogos de banca, o que distribui as cartas, faz e recebe os pagamentos de apostas; 7 Rubrica: ludologia; indivíduo que tem banca ('fundo de apostas') para jogo de roleta ou jogo do bicho; 8 Regionalismo: Brasil; nos açougues, banco do encarregado de cortar a carne; 9 Regionalismo: Brasil; nos antigos engenhos de açúcar, indivíduo incumbido da casa das caldeiras à noite»

Dado que a acepção 4 parece a mais próxima da mencionada pelo consulente, será banqueiro o termo que o consulente procura. Não obstante, isto não põe em causa a aceitabilidade de "banquista" como um regionalismo do Ceará que aguarda dicionarização.

Pergunta:

A palavra aporte existe? Por ex.: «Estudo do aporte de iodo na população portuguesa.»

Resposta:

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa consigna a palavra aporte, que significa «contribuição (social, literária, científica, financeira etc.) para determinado fim; subsídio, achega». No entanto, esclarece: «palavra galicística que os puristas sugeriram não usar». É, portanto, preferível usar os termos portugueses incluídos na definição da palavra.