Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Escreve-se “Casamansa” ou “Casamança”?

Qual a grafia que deve adoptar-se em relação a este topónimo do Senegal?

Obrigada.

Resposta:

José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico-Etimológico da Língua Portuguesa, regista Casamansa como designação de um rio que serve de fronteira entre o Senegal e a Guiné-Bissau (África Ocidental). Além disso, é o nome da zona senegalesa actualmente dividida nas regiões de Ziguinchor e Kolda, compreendidas entre o sul da Gâmbia e o referido rio.

O Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves também inclui a forma Casamansa. E mais recentemente, o Dicionário Temático da Lusofonia (direcção e coordenação de Fernando Cristóvão, Lisboa, Texto Editores, 2005) dedica um artigo a Casamansa, grafando este nome com s na última sílaba. A forma “Casamança” não é, portanto, correcta, devendo ter surgido por influência do francês “Casamance”.

Leio algures: «[...] fomos assistir a um dos mais carismáticos concertos deste início de Outubro John Cale ex-Velvet Underground no CCB grande auditorio. Meia casa com um som rock bastante energético que nos levou a crer que este SR. 1 ainda tem garras para tocar guitarra e sintetizador.»
     Quem consulte o Dicionário da Academia das Ciências de ...

Pergunta:

Agradecia que me informassem se a palavra “Caribe” e “Caraíbas” têm o mesmo significado e qual é a mais correcta. Vejo que existem referências a «Mar do Caribe» e «Mar das Caraíbas».

Resposta:

Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa, de 1966, só regista caraíba, adjectivo dos dois géneros, e Caraíbas, etnónimo masculino que se aplica ao povo indígena das Antilhas e topónimo feminino nas designações ilhas Caraíbas e mar das Caraíbas. José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, só inclui caraíba como adjectivo e substantivo, mas no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (3.ª edição, de 2003) regista igualmente a variante Caribes. Ambos os termos remontariam à palavra utilizada pelos Caraíbas para designar os invasores espanhóis, pois que significa «estrangeiro» (ibidem). Os espanhóis transformaram o termo em designativo das populações que o usavam. Ainda para José Pedro Machado (Dicionário Etimológico), caraíba teria sido recebido do espanhol.

Mais recentemente, o mesmo José Pedro Machado, no Grande Vocabulário da Língua Portuguesa (2001), regista caraíba [adjectivo e substantivo], Caraíbas (etnóni...

Pergunta:

Gostaria que me ajudassem na resolução desta dúvida. No Dicionário de Terminologia Linguística surge a forma separada com um hífen. Nos dicionários, a palavra está aglutinada. Qual a forma correcta?

Resposta:

Trata-se de um caso de composição morfológica (também chamada "erudita"), em que participa o elemento antepositivo neuro- (de origem grega, como o significado de «nervo» ou «sistema nervoso»). Compostos com este elemento dispensam o hífen. No entanto, quem consulte o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, encontrará neuro-epitélio, com hífen, ao lado de neuroembrioma, sem ele.

O Dicionário Houaiss regista neuroepitélio, repondo o uso geral de neuro- sem hífen.

De qualquer maneira, quer o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, quer o Dicionário Houaiss consagram a forma neurocirurgia. Sendo assim, só se pode concluir que a forma “neuro-cirurgia”, que consta, de facto, da lista de exemplos do subdomínio de morfologia (Num. Linguística B2.4.1.2.1.) do Dicionário de Terminologia Linguística, é incorrecta.

 

N.E. – Com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, passou a prevalecer a regra estabelecida na

Pergunta:

Qual a origem do nome “Judite Labandeiro”?

Resposta:

Segundo José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Judite remonta ao nome hebraico ‘Iehudith’, «judia» (o autor afirma haver outras significações atribuídas, sem as enumerar), através do latim ‘Judith’. É, pois, um nome relacionado com Judá, em hebraico ‘Iehudah’, «louvor a Deus», nome de um dos filhos de Jacob. Está também ligado a Judas, ‘Iehudah’, pelo grego ‘Ioúdas’, em que o -s é desinência grega (idem, ibidem).

Em relação a Labandeiro, não foi possível encontrar a sua origem, mas a forma “Lavandeira”/“Labandeira” é apelido galego. Pode significar duas realidades: uma ave ou várias aves conhecidas como lavandeiras também em Portugal; ou uma lavadeira. O apelido português Labandeiro tem outra variante, Lavandeiro, formas talvez simplesmente relacionadas com o ofício de lavandeiro ou lavadeiro, muito embora estes vocábulos tenham ainda outras acepções («cesto, «fossa para depositar água pluvial», «pequeno mamífero»; cf. José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa). Mas tudo isto são conjecturas.