Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Fiquei com dúvida em relação ao diminutivo do substantivo planilha.

Resposta:

Na sua origem, planilha é já por si um diminutivo. Com efeito, esta palavra é a adaptação do termo do castelhano platense (Argentina) planilla, que significa «impresso ou fomulário com os espaços em branco para preenchimento de dados nas petições e declarações junto a administração pública» (Dicionário Houaiss). Quanto ao diminutivo, caso seja necessário, pode formar-se planilhinha ou planilhazinha.

Pergunta:

Gostaria, se possível, que me esclarecessem o sentido e o emprego da expressão «com efeito».

Obrigado!

Resposta:

A expressão «com efeito» é uma locução adverbial e emprega-se habitualmente com o sentido de «de facto; na realidade; na verdade; efectivamente; realmente» (cf. Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora). Indica que o conteúdo da oração ou da frase em que ocorre especifica, justifica ou explica o conteúdo da oração ou da frase imediatamente anteriores (exemplos retirados do Corpus do Português, de Mark Davies e Michael J. Ferreira):

(1) «olhando para trás de mim, tenho a noção nítida, recordo-me com efeito, da cor de certas épocas e, muito frisantemente, da cor do período romântico» (Mário de Sá-Carneiro, A Estranha Morte do Professor Antena)

(2) «Um factor tem vindo a reduzir o embaraço da escolha: o leque de opções em cada categoria de software tem diminuído de um modo significativo. Com efeito, há alguns anos, havia dezenas de aplicações de software para cada área.» (Expresso, 13/09/97)

Pergunta:

Gostaria de saber como devo destacar títulos de obras. Devo sublinhar o título, ou destacá-lo com maiúsculas, ou de uma outra forma?

Resposta:

Os critérios de apresentação de referências bibliográficas podem variar muito, pelo que é sempre bom saber quais são as normas ou a tradição seguidas no lugar em que for apreciado o trabalho que contiver esses títulos. Para dar um ideia de como estas convenções mudam, diga-se que o sublinhado costumava usar-se só com textos manuscritos, mas de há algum tempo para cá, com a variedade e flexibilidade dos meios informáticos, encontra-se também em textos impressos, mesmo quando não se trata de hiperligações.

O procedimento mais comum é pôr os títulos em itálico, se se tratar do texto de um ou ou mais autores contido num ou em mais volumes. Se a obra se divide em diferentes textos ou artigos de diferentes autores, é corrente que a referência se faça primeiro ao artigo, entre aspas (há biblografias que as dispensam neste caso), seguida da que é relativa ao volume que o contém, em itálico.

Os equívocos de uma viagem linguística

 

Na SIC, canal de televisão português, uma jornalista convida a «fazer de “trugalheiro” da língua portuguesa». Promete-se uma “Viagem pela Língua Portuguesa”, com imagens de um antigo mapa do Reino que entrecortam outras de gente — idosa, na maioria — que vive em campos, aldeias, vilas...

Pergunta:

Foi dito a um dos consulentes do Ciberdúvidas que a palavra fênix tem cinco letras (indiscutível) e cinco fonemas. Pela análise que fizeram, deram-me a entender que consideram haver seis fonemas, que representaram assim: f-e-n-i-k-s. Entretanto, seguindo a pronúncia correta, pelo menos aquela registrada no Aurélio (que nunca ouvi no Brasil), fênix tem o x pronunciado "s", o que mudaria a contagem: f-e-n-i-s. Cinco letras e cinco fonemas, portanto.

Obrigado por este maravilhoso espaço de discussão.

Resposta:

Penso que o consulente pretende que confirmemos o que diz. Retomemos, pois, a questão da pronúncia de fénix.

Já aqui se disse que em Portugal não há consenso quanto à pronúncia de fénix. A pronúncia tradicional – e recomendada – é a que termina com o som que começa a palavra xaile. Deste modo, as cinco letras (ou os cinco grafemas) de fénix representam cinco sons: <fénix> = [fɛniʃ].1 Contudo, há muitos falantes de português europeu (PE) que pronunciam com [ks] final, imitando a pronúncia do <x> final das palavras tórax e clímax.

No Brasil parece haver uma situação semelhante, isto é, de variação entre [ʃ] e [ks] em final de palavra, visto Maria Helena de Moura Neves ter a necessidade de observar que a «a pronúncia recomendada é fênis» (Guia de Uso do Português – confrontando regras e usos). Se às cinco letras correspondessem sempre cinco sons no português brasileiro (PB), acho que a referida linguista dispensar-se-ia de lembrar o emprego recomendado.

Note-se, por último, que em PB, mesmo que a palavra seja pronunciada só com cinco sons, haverá duas variantes: uma, com o [s] de sal ou passar – [fenis]; e outra quase como em PE – [feniʃ]. Disse «quase como em PE», porque a vogal da primeira sílaba é não um e aberto ([ɛ]) mas um e fechado ([e]), dado que em PB só há vogais fechadas antes de consoante nasal, como sucede em cênico e fenômeno. É por isso que a grafia brasileira fênix se distingue pelo acento da portuguesa fénix.

1 A transcrição entre []...