Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Aqui no Ceará o termo "banquista" é muito utilizado, mas há divergência acerca do termo. Uns dizem que o certo é banqueiro, no sentido de ter muita regalia, escolher muito, ser cheio de querer.

Agradeço se responderem, pois estamos ansiosos para saber qual é o certo.

Obrigados!

Resposta:

Duas obras brasileiras, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, não registam a palavra "banquista". Realtivamente a banqueiro, o Houaiss dá as seguintes acepções:

«1 aquele que é proprietário de um banco; 2 indivíduo com a função de diretor num banco; 3 aquele que executa operações bancárias; 4 Derivação: sentido figurado. homem muito rico; capitalista; 5 Rubrica: termo eclesiástico; em Roma, funcionário pontifical incumbido de vender ou expedir as bulas ou breves das dispensas matrimoniais; 6 Rubrica: ludologia; nos jogos de banca, o que distribui as cartas, faz e recebe os pagamentos de apostas; 7 Rubrica: ludologia; indivíduo que tem banca ('fundo de apostas') para jogo de roleta ou jogo do bicho; 8 Regionalismo: Brasil; nos açougues, banco do encarregado de cortar a carne; 9 Regionalismo: Brasil; nos antigos engenhos de açúcar, indivíduo incumbido da casa das caldeiras à noite»

Dado que a acepção 4 parece a mais próxima da mencionada pelo consulente, será banqueiro o termo que o consulente procura. Não obstante, isto não põe em causa a aceitabilidade de "banquista" como um regionalismo do Ceará que aguarda dicionarização.

Pergunta:

A palavra aporte existe? Por ex.: «Estudo do aporte de iodo na população portuguesa.»

Resposta:

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa consigna a palavra aporte, que significa «contribuição (social, literária, científica, financeira etc.) para determinado fim; subsídio, achega». No entanto, esclarece: «palavra galicística que os puristas sugeriram não usar». É, portanto, preferível usar os termos portugueses incluídos na definição da palavra.

Pergunta:

Fiquei com dúvida em relação ao diminutivo do substantivo planilha.

Resposta:

Na sua origem, planilha é já por si um diminutivo. Com efeito, esta palavra é a adaptação do termo do castelhano platense (Argentina) planilla, que significa «impresso ou fomulário com os espaços em branco para preenchimento de dados nas petições e declarações junto a administração pública» (Dicionário Houaiss). Quanto ao diminutivo, caso seja necessário, pode formar-se planilhinha ou planilhazinha.

Pergunta:

Gostaria, se possível, que me esclarecessem o sentido e o emprego da expressão «com efeito».

Obrigado!

Resposta:

A expressão «com efeito» é uma locução adverbial e emprega-se habitualmente com o sentido de «de facto; na realidade; na verdade; efectivamente; realmente» (cf. Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora). Indica que o conteúdo da oração ou da frase em que ocorre especifica, justifica ou explica o conteúdo da oração ou da frase imediatamente anteriores (exemplos retirados do Corpus do Português, de Mark Davies e Michael J. Ferreira):

(1) «olhando para trás de mim, tenho a noção nítida, recordo-me com efeito, da cor de certas épocas e, muito frisantemente, da cor do período romântico» (Mário de Sá-Carneiro, A Estranha Morte do Professor Antena)

(2) «Um factor tem vindo a reduzir o embaraço da escolha: o leque de opções em cada categoria de software tem diminuído de um modo significativo. Com efeito, há alguns anos, havia dezenas de aplicações de software para cada área.» (Expresso, 13/09/97)

Pergunta:

Gostaria de saber como devo destacar títulos de obras. Devo sublinhar o título, ou destacá-lo com maiúsculas, ou de uma outra forma?

Resposta:

Os critérios de apresentação de referências bibliográficas podem variar muito, pelo que é sempre bom saber quais são as normas ou a tradição seguidas no lugar em que for apreciado o trabalho que contiver esses títulos. Para dar um ideia de como estas convenções mudam, diga-se que o sublinhado costumava usar-se só com textos manuscritos, mas de há algum tempo para cá, com a variedade e flexibilidade dos meios informáticos, encontra-se também em textos impressos, mesmo quando não se trata de hiperligações.

O procedimento mais comum é pôr os títulos em itálico, se se tratar do texto de um ou ou mais autores contido num ou em mais volumes. Se a obra se divide em diferentes textos ou artigos de diferentes autores, é corrente que a referência se faça primeiro ao artigo, entre aspas (há biblografias que as dispensam neste caso), seguida da que é relativa ao volume que o contém, em itálico.