Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem qual o significado dos sinais: (...), (....) e [...] quando usados numa citação.

Grata pela atenção.

Resposta:

Os sinais que refere destinam-se a indicar que há cortes ou supressões no texto que é citado. A forma desses sinais tem tido alguma variação e, ao que sabemos, não há ainda uma norma específica que estabilize a forma de indicar tais supresões e o respectivo uso. No entanto, a mais corrente é empregar [...] para indicar supressão de texto ou de palavra (ver Código de Redacção Interinstitucional da Comissão Europeia). Em alternativa, há quem use (...), com três pontos, mas nunca (....), com quatro pontos.

No Código de Redacção Interinstitucional da Comissão Europeia usam-se os chamados pontos elípticos, sujeitos às seguintes normas:

«Pontos elípticos

Geralmente são três os pontos de reticência. No entanto, existem casos em que se podem multiplicar na parte omitida de qualquer citação de trecho que se transcreve. Empregam-se:

1. Pontos elípticos de três pontos para indicar vocábulo incompleto:

«Morrer! Mo... Mas eu não estou doente!» (Raul Brandão)

2. Pontos elípticos de cinco pontos para indicar parte de texto suprimido de um período:

«..... não acho texto algum da lei, ou sagrada ou profana, que obrigue as mulheres a serem tolas e não saberem falar.» (Luís António Verney)

3. Pontos elípticos em toda a linha para indicar supressão de versos ou de linhas de texto:

«Nesta, cuja memória esquece a Fama,
Feira, que de Santarém vem de ano a ano,
Jazia co’uma freira um franciscano
Eram de barro os dois, ...

Pergunta:

Podem comentar o significado e etimologia de "reptizar"? Encontrei a palavra no Memorial do Convento, na expressão «reptizar mulheres» (p. 50, 34.ª edição), mas não consigo descobri-la em nenhum dicionário. Parece-me óbvio que tenha um significado próximo de «seduzir», mas gostava de confirmar, para além de estar interessado em conhecer a sua etimologia.

Resposta:

Na verdade, também nós não encontramos "reptizar" dicionarizado. Mas existe reptar, na acepção de «lançar desafio a, provocar» (cf. Dicionário Houaiss), indo ao encontro do sentido proposto pelo consulente. Será lapso do escritor?

Pergunta:

Gostaria de saber se, na variante europeia da língua, a palavra maçon (membro da Maçonaria) é válida. Na variante brasileira, são aceitas apenas as grafias maçom e mação por dicionários e pela Academia Brasileira de Letras.

Muito obrigado.

Resposta:

Maçon é grafia francesa. Em português, escreve-se maçom e mação.



Pergunta:

Atendendo à resposta dada por vós em A tralha e as bandeiras, agradecia então que me informassem o nome que devo dar a essa "tralha" que, por exemplo, no portal do Governo Português é tão referida... «do lado do mastro», «do lado esquerdo» serão opções correctas subentendendo-se que a bandeira está orientada?

Agradecendo.

Resposta:

A descrição dada na resposta em causa é de certo modo confirmada pelos dicionários que consultei. Entre eles, saliento o da Academia das Ciências de Lisboa, que, entre outros significados, define tralha como termo náutico que designa um «cabo que circunda e reforça as orlas das redes e dos panos das velas numa embarcação».

Só na Internet, num artigo da Wikipédia, é que encontro a seguinte explicação: «a tralha é a região da bandeira onde esta se prende ao mastro.» Nesse artigo, também se diz que o termo é usado em vexilologia, que o Dicionário Houaiss define como «estudo das bandeiras, das suas simbologias, usos, convenções etc.». Todas estas informações requerem confirmação, mas, a serem rigorosas, quererão dizer exactamente o que o consulente percebe: «do lado esquerdo da bandeira».

Pergunta:

Preciso de dois exemplos de pressuposto e subentendido na seguinte frase: «A juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância pode ser educada e a embriagez passa, mas a estupidez dura pra sempre.»

Muito obrigado!

Resposta:

A sua pergunta é um tanto vaga, porque não sei se quer um ou dois exemplos de cada situação. Além disso, não sei exactamente que definições de pressuposto e subentendido tem em mente. Parto do princípio de que sejam as mais correntes, tal como aparecem no Dicionário Houaiss:

Pressuposto: «aquilo que se supõe antecipadamente; pressuposição, conjectura, suposição»;

Subentendido: «aquilo que se pensa ou se deduz, mas que não foi dito ou escrito».

Posto isto, considero que a verdade das afirmações feitas na frase e a existência de estados como a juventude, a imaturidade, a ignorância, etc. são pressupostos. São subentendidos os valores negativos associados à imaturidade, à ignorância, etc. e a conclusão de que a estupidez é o maior dos males porque não é transitória.