Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Queria saber a origem e o significado dos topónimos seguintes: Meligioso, Trezói, Mortágua, Penacova, Boas-Eiras.

Resposta:

A fonte de que dispomos é o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado.

 

Meligioso

Sem dados no dicionário consultado.

Trezói

José Pedro Machado lembra que Rebelo Gonçalves (Vocabulário da Língua Portuguesa) recomenda a forma Tresoi, apesar de se ter imposto a forma Trezói. Esta não é fiel à pronuncia local, que é [tɾɨzoj], com ó "fechado". Machado acrescenta que este nome está documentado talvez desde 1056, como antropónimo (Trasoy) e com mais segurança desde 1066 e 1258, como topónimo. Considera que tem origem germânica: «de *thrasa, "briga, questão", e -ói, talvez do godo weiths, "santo"».

Mortágua

Para Machado é obscura a origem deste topónimo, «apesar das várias hipóteses que admitem a preença do voc. água».

Penacova

Segundo Machado, é topónimo existente no Centro e no Norte de Portugal, bem como na Galiza, nas Astúrias (Penacoba) e no Norte de Castela (Peñacoba, em Burgos). Tem origem em pena (= penha) e cova, feminino do adjectivo covo, «côncavo». Como designação de uma vila do concelho de Coimbra, Machado confirma que «na verdade, no local existe uma penha com acentuada depressão».

Boas-Eiras

Sem dados no dicionário consultado. No entanto, o topónimo parece transparente, isto é, interpretável a parti...

Pergunta:

Qual é a designação correcta da secção final de um livro onde se elencam informações sobre a respectiva redacção, tradução, impressão, etc., e onde se incluem igualmente as notas legais sobre direitos de autor: «ficha técnica», «cólofon», ou outra? «Ficha técnica» parece-me mais comum noutros meios de comunicação (Internet, cinema, etc.), mas gostaria de ter a vossa opinião.

Muito obrigada!

Resposta:

«Ficha técnica» é o nome que também se aplica à secção em apreço. O cólofon ou colofão designa na actualidade a «inscrição final onde o tipógrafo indica a data e o lugar da feitura da obra» (cf. Dicionário Houaiss); na Idade Média, era também, «nos manuscritos e nos incunábulos medievais, nota final que fornece referências sobre a obra e indicações relativas à sua autoria, transcrição, impressão, lugar e data de sua feitura» (idem).

Pergunta:

Qual o género de make-up?

Resposta:

No Dicionário Houaiss, no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, o anglicismo make-up (o mesmo que maquilhagem em português europeu e maquiagem ou maquilagem em português do Brasil) é do género masculino. O plural é make-ups, segundo a Mordebe.

Pergunta:

Como escrever: «com patologia cardio- ou cerebrovascular»? Utiliza-se o hífen para demonstrar a relação (cardiovascular ou cerebrovascular), ou isto não é possível?

Resposta:

Em princípio, deverá escrever-se «com patologia cardiovascular ou cerebrovascular». No entanto, sabe-se que a influência da língua inglesa é grande e que ela permite empregar radicais gregos ou latinos separados de um segundo elemento com que formam palavra desde que se encontrem numa série coordenada de palavras que tenham em comum esse segundo elemento: «homo- and heterosexual». As línguas românicas estão a imitar este procedimento, que, aliás, não é completamente estranho à língua portuguesa. Lembremos que, numa sequência de advérbios de modo, só o último advérbio é que toma o sufixo -mente: «profunda e completamente feliz». Isto é possível, porque mente era originalmente um substantivo modificado por adjectivos como profundo e completo: «profunda e completa mente» Algo de semelhante ocorre em inglês, uma vez que, retomando o exemplo de há pouco, sexual é interpretado como termo modificado por uma estrutura de coordenação constituída pelos elementos homo- e hetero-.

Pergunta:

Ao acabar uma ficha de trabalho coloca-se «.../cont.», visto que esta vai continuar?

Na folha seguinte o correcto é «.../» antes de começar?

Será que me podem ajudar?

Resposta:

A informação que vou dar é de memória: se bem me lembro, em certos escritórios em Portugal, era costume colocar, na primeira página, a sequência .../ e, na página seguinte, /... Todas as correcções são bem-vindas.