Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Já faz algum tempo que estou à procura de um dicionário ou uma lista em que estão enumerados os substantivos e adjectivos portugueses com as preposições que se utilizam junto com eles. Como estrangeira, acho isto uma das coisas mais difíceis da língua portuguesa. Já tenho o Guia Prático de Verbos com Preposições, da editora LIDEL, à minha disposição, mas agradeceria muito se me pudessem dizer se existe um guia semelhante para combinações de preposições com adjectivos e substantivos.

Resposta:

Com as características que menciona, há, ao que sei, poucas obras. Referirei apenas as seguintes:

Francisco Fernandes, Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjectivos, São Paulo, Editora Globo, 1995.

M. Ghitescu,Dicionário Prático de Substantivos e Adjectivos com os Regimes Preposicionais, Edição Fim de Século, 1992.

Énio Ramalho, Novo Dicionário Lello Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa, Porto, Lello & Irmão Editores, 1985.

Pergunta:

Gostaria de saber se há erro ao se escrever: «graças a um cenário mais favorável nos EUA, Inglaterra e França». Há falta de paralelismo? O correto seria «... nos EUA, na Inglaterra e na França», ou seria dispensável colocar-se a preposição antes de cada país?

Agradeço antecipadamente.

Resposta:

É realmente mais correcto escrever «nos EUA, na Inglaterra e na França», uma vez que o uso «nos» tem sentido apenas em associação com «EUA». Os outros elementos coordenados, «Inglaterra» e «França», têm, portanto, de ser antecedidos, cada um, da contracção da preposição com o artigo: na.

Pergunta:

Existe algum tipo de redação em que se desobriga o uso de título?

Resposta:

Há textos que não têm propriamente título. Por exemplo, as cartas informais. Certos textos literários podem também não ter título; é o caso de muitos poemas do período clássico, que são identificados através do primeiro verso (o chamado incipit).

Pergunta:

Queria saber a origem e o significado dos topónimos seguintes: Meligioso, Trezói, Mortágua, Penacova, Boas-Eiras.

Resposta:

A fonte de que dispomos é o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado.

 

Meligioso

Sem dados no dicionário consultado.

Trezói

José Pedro Machado lembra que Rebelo Gonçalves (Vocabulário da Língua Portuguesa) recomenda a forma Tresoi, apesar de se ter imposto a forma Trezói. Esta não é fiel à pronuncia local, que é [tɾɨzoj], com ó "fechado". Machado acrescenta que este nome está documentado talvez desde 1056, como antropónimo (Trasoy) e com mais segurança desde 1066 e 1258, como topónimo. Considera que tem origem germânica: «de *thrasa, "briga, questão", e -ói, talvez do godo weiths, "santo"».

Mortágua

Para Machado é obscura a origem deste topónimo, «apesar das várias hipóteses que admitem a preença do voc. água».

Penacova

Segundo Machado, é topónimo existente no Centro e no Norte de Portugal, bem como na Galiza, nas Astúrias (Penacoba) e no Norte de Castela (Peñacoba, em Burgos). Tem origem em pena (= penha) e cova, feminino do adjectivo covo, «côncavo». Como designação de uma vila do concelho de Coimbra, Machado confirma que «na verdade, no local existe uma penha com acentuada depressão».

Boas-Eiras

Sem dados no dicionário consultado. No entanto, o topónimo parece transparente, isto é, interpretável a parti...

Pergunta:

Qual é a designação correcta da secção final de um livro onde se elencam informações sobre a respectiva redacção, tradução, impressão, etc., e onde se incluem igualmente as notas legais sobre direitos de autor: «ficha técnica», «cólofon», ou outra? «Ficha técnica» parece-me mais comum noutros meios de comunicação (Internet, cinema, etc.), mas gostaria de ter a vossa opinião.

Muito obrigada!

Resposta:

«Ficha técnica» é o nome que também se aplica à secção em apreço. O cólofon ou colofão designa na actualidade a «inscrição final onde o tipógrafo indica a data e o lugar da feitura da obra» (cf. Dicionário Houaiss); na Idade Média, era também, «nos manuscritos e nos incunábulos medievais, nota final que fornece referências sobre a obra e indicações relativas à sua autoria, transcrição, impressão, lugar e data de sua feitura» (idem).