Pergunta:
Aqui, em Macau, é largamente utilizado nos diários portugueses, revistas, sites institucionais, etc., bem como na expressão oral diária, um termo que me parece ser só daqui: panchão(ões). O termo é utilizado para designar "petardos" chineses. No interessante trabalho intitulado Glossário do Dialecto Macaense – notas linguísticas, etnográficas e folclóricas (Macau, Instituto Cultural de Macau, 1988), de Graciete Nogueira, o termo poderá ser um neologismo formado do termo chinês Bianpao, que em chinês designa um cartucho de pólvora, revestido por papel.
O termo entrou no "falar português" da comunidade portuguesa radicada em Macau, há já muitos anos, mas também é, pelo que sei, utilizado por portugueses em Portugal.
Nos dois novos dicionários da língua portuguesa consultados (Texto Editora e Porto Editora), continuo sem encontrar o referido termo.
A minha questão é: será "panchão" um termo "bastardo"? Por que razão este e outros (como é o caso do termo "taikonauta", do chinês "taikong" e grego "nauta" [mais recente, é verdade, mas criado em 1988!)] ainda não contemplam os dicionários de português recentemente actualizados?
Quais as razões que levam um dicionário a incluir apenas (se não estou em erro) termos originários do Brasil e dos países africanos de língua oficial portuguesa, quando a presença portuguesa na China durou cerca de 500 anos (um relação que originou também um vocabulário próprio)?
Finalmente, em relação ao termo "taikonauta", escreve-se com K ou com C ("taiconauta") como também já vi?
Muito obrigado pela atenção que esta dúvida mereceu da vossa parte!
Resposta:
É óbvio que o termo em causa não é "bastardo". Se ainda não está registado na maioria dos dicionários gerais de português, é talvez porque, como o consulente sugere, a variedade do português falado em Macau tem sido esquecida. Contudo, o desconhecimento não é total, porque o Dicionário Houaiss acolhe a palavra panchão, definindo-a como termo da pirotecnia e regionalismo de Macau, com o significado de «foguete chinês queimado nas festividades, esp. no Ano-Novo Lunar»; diz ainda que vem do «ch[i]n[ês] pau-tcheong, segundo Dalg[ado], citando Pelliot “a origem do nome não é muito clara, mas o sentido não é certamente 'embrulho de pólvora'“».
Repare-se que o referido dicionário atribui a primeira atestação do termo ao grande orientalista Monsenhor Sebastião Rodolfo Dalgado, que o incluiu no seu Glossário Luso-Asiático (2 vols., Coimbra, 1919-1921). Importa também assinalar que a etimologia proposta por Dalgado não parece coincidir com a apresentada pelo consulente. Como não possuímos outras fontes susceptíveis de indicar a proposta mais correcta, limito-me a deixar a sugestão de que a proposta de Dalgado é mais plausível pela semelhança fonética (panchão < pau-tcheong).
Quanto a "taikonauta"/"taiconauta", trata-se de um neologismo ausente dos dicionários actualmente disponíveis. Consultas na Internet indicam que o termo é uma criação chinesa para designar os exploradores espaciais chineses ou ligados à República da China, assim como astronauta é, no fundo, uma criação do inglês para referir os exploradores que participaram e participam em projectos espaciais norte-americanos, e cosmonauta, a adaptação da palavra russa aplicada aos exploradores envolvidos em iniciativas do mesmo âmbito, antigamente soviéticas e hoje russas. O termo de origem chinesa é formado pel...