Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
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Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Por gentileza, como se abrevia o seguinte título académico: publicitário?

Resposta:

A Academia Brasileira de Letras acolhe public. como redução de publicidade, mas nada indica sobre a abreviatura de publicitário. Creio que não existe uma forma consagrada, mas pensando em casos como os de engenheiro > eng.º ou arquitecto > arq.º, a forma public.º afigura-se-me possível.

Acrescente-se que, pelo menos, em Portugal, a palavra publicitário aplica-se a uma classe profissional e não a um título académico. Bacharel, licenciado, mestre, doutor é que são títulos académicos.

Pergunta:

Agradecia informação sobre a possível existência de:

Dicionário de dizeres transmontanos

Dicionário de açorianismos

Dicionário da gíria popular

Dicionário de termos antigos

Tenho pesquisado na Internet, mas não encontrei menção a editores que possa contactar para adquirir as obras.

Cf. As dez línguas de Portugal

Resposta:

Indico algumas referências, umas mais recentes que outras, distribuídas pelos tipos de dicionário mencionados na pergunta:

Dicionário de transmontanismos

Vítor Fernando Barros, Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Lisboa, Âncora Editora e Edições Colibri, 2006

Dicionário de açorianismos

J. M. Soares de Barcelos, Dicionário dos Falares dos Açores — Vocabulário Regional de Todas as Ilhas, Coimbra, Livraria Almedina, 2008

Dicionário da gíria popular

Augusto Simões, Dicionário de Expressões Populares, Lisboa, Edições D. Quixote, 1993

Dicionário de termos antigos

Frei Viterbo de Joaquim Santa Rosa, Elucidário das Palavras, Termos e Frases Que em Portugal antigamente Se Usaram e Que hoje regularmente Se Ignoram, Livraria Civilização Editora, 1993

Pergunta:

[Ainda a respeito de stem cells] Pelo menos no Brasil usa-se célula-tronco, como se pode ver nesta página da Wikipédia.

Resposta:

O Dicionário Houaiss Eletrônico (2001) já acolhe célula-tronco com o significado de «célula indiferenciada capaz de gerar, por divisão mitótica simétrica, duas células-filhas idênticas a ela ou, por divisão mitótica assimétrica, uma célula-filha diferenciada e outra nova célula que permanece indiferenciada e mantém a linhagem original». Convém notar que stem significa o caule ou pé de uma flor ou o pedúnculo de um fruto. Mas, visto entre tronco e caule a diferença residir mais na escala do que na função, parece-me que célula-tronco é uma forma adequada e até expressiva. E assinale-se que a palavra está também a ser adoptada em Portugal, pelo que pude apurar de uma consulta a páginas portuguesas da Internet.

Pergunta:

O nome turma tem aumentativo?

Os nomes colectivos têm aumentativo?

Resposta:

Pergunta-se muitas vezes se esta ou aquela palavra tem aumentativo. Em princípio, os colectivos, como qualquer outra classe de substantivos, podem ter, se a sua estrutura morfológica permitir a adjunção dos sufixos de aumentativo. No caso de turma é possível formar turmão e turmona, assim como se cria turminha, num registo de tom familiar. De qualquer modo, é escassíssimo o uso dos colectivos no grau aumentativo, talvez porque esta subclasse já sugere uma realidade de dimensão importante.

1 Mas há colectivos incompatíveis com a flexão em grau; p. ex. (o asterisco indica agramaticalidade): flora > *florão, *florona, *florazona.

Pergunta:

A palavra próstata (órgão próprio da genitália masculina) tem alguma relação etimológica com a palavra prostituta, prostituição? Fundamento da pergunta: observando as palavras, há semelhanças interessantes que fazem com que a pessoa identifique nestas palavras, exemplo, "prost(ata)" "prost(ituta)". Não há vinculação de origem grega — ou mesmo de outra língua — que passou pelo latim e chegou no português? Estes vocábulos não sofreram metaplasmos e foram se definindo semanticamente diversos?

Resposta:

Há realmente uma relação etimológica entre próstata e prostituta, porque ambas as palavras (a primeira é grego que passou ao latim, e a segunda é só latina) remontam ao mesmo sufixo e ao mesmo radical do indo-europeu.

Vejamos, em primeiro lugar, a etimologia de cada palavra.

Próstata

«[do] lat[im] cien[tífico] prostata 'id.', empr[és]t[imo] gr. prostátēs,ou 'colocado na frente de; donde, chefe, dirigente; protetor, defensor', do v[erbi] proístēmi 'colocar na frente, pôr em relevo, pôr em evidência'; de pró- 'diante, na frente' + hístēmi 'colocar'; assim chamada por situar-se antes da bexiga»

Prostituta

«lat[im] prostitŭo,is,ī,ūtum,ĕre 'colocar diante, expor, apresentar à vista; pôr à venda; mercadejar com a sua eloqüência; prostituir, divulgar, publicar', de pro- 'na frente, diante de' + statuĕre 'pôr, colocar, estabelecer; expor aos olhos', de stātus,us 'repouso, imobilidade; atitude, postura (de um combatente); assento, situação; estado das coisas, modo de ser', do rad[ical] de stātum, sup[i]n[o] de stāre 'estar'»

Em Histórias de Palavras — do Indo-Europeu ao Português (Lisboa, A. Santos), de Ernesto d´Andrade, indica-se que ambas as palavras têm em comum os seguintes radicais:

a) *per1, qu...