Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual é a origem da palavra calhau?

Resposta:

Apenas posso repetir o pouco conclusivo comentário etimológico do Dicionário Houaiss: «orig[em] contr[o]v[ersa]; prov[elmente] orig[em] céltica, como o fr[ancês] caillou (1275), que vem do gaulês *caljo "pedra". O mesmo dicionário fixa em 1457 a mais antiga atestação da palavra em português.

Pergunta:

Tenho dúvidas no que se refere à flexão do adjetivo caro (do tupi "karo"), na qualidade de adjetivo pátrio do respectivo povo indígena (também conhecido como arara-caro).

Segundo o Dicionário Houaiss, caro, para o significado pretendido, é um adjetivo e um substantivo de dois gêneros. Assim, estaria correto «língua caro», «língua cara» ou ambos (o idioma falado por esse povo)?

Muito obrigado.

Resposta:

A classificação da entrada de caro, como sinónimo do apelativo arara-caro, parece-me realmente um tanto confusa no respectivo verbete disponível no Dicionário Houaiss. Como adjectivo dos dois géneros, usa-se deste modo:

«costume caro»/«língua caro»

Ou seja, o adjectivo não varia em género. O mesmo acontece, quando é substantivo:

«o caro», «a caro», «os caros», «as caros»

No entanto, é na própria entrada que se diz que a palavra é um substantivo masculino. Visto que, segundo o dicionário em referência, o termo caro é sinónimo de arara-caro, verifico que esta última forma, um etnónimo, está também classificada como substantivo masculino, acrescentando-se a indicação de «plural». Concluo, portanto que caro e arara-caro são substantivos masculinos plurais quando designam globalmente o grupo étnico em apreço.

Pergunta:

Gostaria muito de saber a origem e o significado do antropônimo Razine. Agradeço-vos a deferência a mim dispensada.

Resposta:

Conheço Razine só como transcrição francesa do apelido russo Разин (que pode ser transliterado como Razin). É este o apelido de uma figura famosa da história da Rússia, Stenka Razine (1630-1671), chefe de uma revolta dos Cossacos no Sul daquele país. 

Sobre a origem deste nome, nada encontrei. Tanto pode ter origem eslava como não.

Pergunta:

Olá, compatriotas do português!

Envio uma primeira palavra de agradecimento pela existência e continuidade deste espaço — Obrigado!

Colocando a minha questão, é frequente falarmos de anglicismos e galicismos mas estou a trabalhar neste momento em algo que poderei resumir como as influências da língua de Camões no inglês no contexto de traduções realizadas por falantes não-nativos do inglês e gostaria de saber que denominação dar em português a uma palavra presente no texto inglês mas com marcada influência lusa, seria um "lusismo" ou um "portuguesismo"?

Espero ter explicado correctamente a minha dúvida e, mais uma vez, obrigado pela vossa existência e pelo vosso bom trabalho!

Resposta:

O termo que se aplica ao conceito em apreço é portuguesismo (substantivo comum, daí a minúscula inicial), segundo o Dicionário Houaiss, que o atesta na seguinte frase: «A palavra marmalade é um p[ortuguesismo] na língua inglesa.» Os termos lusismo e lusitanismo são mais usados como designação de palavras típicas apenas do português europeu (ibidem).

Pergunta:

Quais são os morfemas que compõem os neologismos imexível e convivível?

Resposta:

Primeiro, um rápido comentário sobre os neologismos em apreço. O sufixo -vel costuma seleccionar o tema do passado de um verbo transitivo ou um verbo intransitivo cujo sujeito é interpretado como um tema1 (ver Maria Helena Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, 2003, págs. 948/949). O verbo mexer é transitivo, e, deste modo, aceita-se sem restrições a forma mexível, que é base de imexível. Quanto a convivível, é discutível a aceitabilidade desta forma, porque conviver não é nem verbo transitivo nem verbo intransitivo cujo sujeito tem o papel de tema («eles convivem»); apesar disso, vou analisar a palavra convivível como morfologicamente possível mas semanticamente anómala. Assim:

imexível

[[i]prefixo [[[mex]radical [í]vogal temática]tema verbal do passado [vel]sufixo]]

convivível

[[[con]prefixo [[viv]radical [í]vogal temática]tema verbal do passado] [vel]sufixo]]

Considero base de derivação de imexível o adjectivo deverbal mexível, e de convivível, o tema do passado de conviver. Note-se que i-, variante de in-, selecciona adjectivos, pelo que é toda a forma mexível que é a base de derivação. No caso de convivível, apesar de con-, variante do prefixo co-, poder associar-se a b...