Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Informar o significado e o conceito do termo "taylor made".

Resposta:

A expressão inglesa tailor-made1 significa o mesmo que «feito por medida» em português europeu, ou «feito sob medida», em português brasileiro (ver The Oxford Portuguese Dictionary).

1 Este termo tem hífen. Além disso, tailor, «alfaiate», escreve-se com i e não com y; o {#apelido|sobrenome} Taylor é que tem y (cf. Behind the Name).

Pergunta:

No artigo da Wikipédia sobre Minas Gerais, leio o seguinte:

«Vários edifícios de importância histórica foram tombados.»

Que significa tombar nesta frase?

Resposta:

É um verbo formado por conversão de tombo, «inventário dos bens de raiz com todas as demarcações» e «registro ou relação de coisas ou fatos referentes a uma especialidade, a uma região etc.» (Dicionário Houaiss).

Tem duas acepções, de acordo com o Dicionário Houaiss:

1. «fazer o tombo de; arrolar, inventariar, registrar. Ex.: <t. os bens de uma herança> <t. os livros de um cartório>

2. (regionalismo brasileiro) «colocar (o governo) sob sua guarda (bens imóveis e/ou móveis que, sendo de interesse público por seu valor histórico, arqueológico, etnográfico, artístico, paisagístico etc., devem ser conservados e protegidos pelo Estado)»

Pergunta:

«Estreou nos cinemas mais um filme de vampiro.»

Na frase acima, «um» é artigo indefinido, ou numeral?

Informo que, antes de encaminhar a pergunta, verifiquei a esta resposta. Como em muitas situações na língua portuguesa, frases diferentes levam a análises diversas, e mesmo na resposta referida se menciona a possibilidade de duas análises («Convém, no entanto, acrescentar que a classificação de um como numeral não é impossível nas expressões "um terramoto" e "um acidente de viação", desde que devidamente contextualizado...), insisto em que, se for possível, se analise a frase por mim enviada (a propósito, tudo indica tratar-se de numeral, mas gostaria de uma confirmação).

Obrigado.

Resposta:

Considero que um é ambíguo no contexto em causa. Duas leituras são possíveis:

(1) «Estreou(-se)1 nos cinemas mais um filme de vampiro.» = «Estreou nos cinemas um filme de vampiro que se soma ao conjunto já existente de filmes de vampiro.»

(2) «Estreou(-se) nos cinemas mais um filme de vampiro.» = «Estreou nos cinemas um filme de vampiro que não identifico (não digo qual é o título, quem é o realizador, quem são os actores, etc.) e que se soma a outros já existentes.»

Em (1), interpreto «um» como um numeral, enquanto em (2) o que faço é atribuir a «um filme de vampiro» uma leitura específica, que decorre de o discurso estabelecer um referente que é uma parte singular não identificada de um conjunto considerado como «filmes de vampiro» (ver Maria Helena Mira Mateus et al. Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, págs. 224/225). Note que posso adaptar (1) substituindo a palavra um por outros numerais:

(1)´ «Estrearam(-se) nos cinemas mais três filmes de vampiro.»

A leitura proposta em (2), por seu lado, permite a pluralização de um (ver Mateus, op. cit., pág. 228/229):

(2)´ «Estrearam(-se) nos cinemas mais uns filmes de vampiro.»

Esta frase pode também reescrever-se sem determinante explícito, mantendo a leitura específica:

(2)´´«Estrearam(-se) nos cinemas mais filmes de vampiro.»

1 Como intransitivo e no sentido de «exibir-se pela primeira vez», usa-se estrear-se e

Pergunta:

Gostaria de saber se, quando, numa frase, nos referimos a uma empresa ou a um ministério especifico, deveremos usar minúsculas ou maiúsculas.

Exemplo:

«A CP fez uma alteração aos seus horários. Segundo a Empresa, o motivo foi…»

Resposta:

Não no caso que apresenta, porque, na frase, o uso da terceira pessoa sugere que o contexto tem função informativa. Além disso, emprega-se empresa como mera estratégia de referência textual para evitar repetir «CP».

No entanto, é possível que na troca de correspondência se escreva «Empresa» com maiúscula por uma questão de deferência; por exemplo:

«Exmos. Senhores,

Tendo conhecimento de que a CP decidiu alterar os seus horários, gostaria de apresentar algumas sugestões que muito contribuirão, estou certo, para uma melhor relação da Empresa com os utentes...»

Neste caso, também se pretende evitar repetir CP, através de «a Empresa», mas a maiúscula é sinal de cortesia.

Pergunta:

O que são sufixos de adjectivalização? Para que servem? Podem dar exemplos?

Resposta:

Se consultar a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho), de Maria Helena Mira Mateus et al., verá que entre os afixos derivacionais se encontram os sufixos de adjectivalização, que são aqueles que, seleccionando bases adjectivais, nominais ou verbais, permitem formar adjectivos (págs. 944/945).

Os sufixos de adjectivalização podem, portanto, ser (ver ibidem):

a) deajectivais (base adjectival): patern[al], conform[ista];

b) denominais (base nominal): científ[ico], rug[oso], fenomen[al];

c) deverbais (base verbal): lavá[vel], domina[dor], chama[tivo], tolera[nte].