Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Em que situações se devem usar as expressões «na maioria» e «na sua maioria»?

Agradecido pelo tempo dispensado.

Resposta:

De modo intuitivo, podem definir-se os seguintes critérios de uso das expressões em causa:

a) «na maioria» é expressão de valor adverbial seguida de um complemento preposicional: «na maioria das vezes/da população...»;

b) «na sua maioria» ocorre como expressão adverbial, logo após a expressão nominal a que se refere: «A população, na sua maioria, receia o desemprego.»

Pergunta:

Gostaria de saber que lugar ocupa a língua portuguesa nas línguas mais faladas no mundo. E quais são as línguas mais faladas no mundo. Encontro informação contraditória e aqui, no ciberdúvidas, a informação já é antiga.

Gostaria de transmitir uma informação correcta aos alunos.

Muito obrigada pela atenção!

Resposta:

Existem várias listas de línguas mais faladas no mundo, umas mais credíveis do que outras, mas, que eu saiba, não se dispõe de uma tabela reconhecida internacionalmente. Seja como for, sugiro a consulta do Ethnologue, que se afirma como um catálogo exaustivo das línguas do mundo (é publicado pelo Summer Institute of Linguistics): na edição de 2009 desta obra, o português aparece como a sétima língua que tem mais falantes no mundo.

 

Cf. A origem da lingua portuguesaPortuguês é a terceira língua europeia mais falada no mundo

Pergunta:

Nas frases de tipo imperativo, pode-se utilizar o ponto final ou o ponto de exclamação. Gostaria de saber quando é que se deve utilizar o ponto final e o ponto de exclamação nas frases de tipo imperativo. Quando se dá uma ordem, deve-se utilizar o ponto de exclamação? Obrigada.

Resposta:

Não é obrigatório o ponto de exclamação a fechar uma frase imperativa, porque um ponto final pode também ocorrer:

1) «Cala-te!»

2) «Retire uma senha e aguarde a sua vez.»

Em 1), o ponto de exclamação indica ordem, ou seja, imposição da vontade do sujeito enunciador sobre o comportamento de um interlocutor. Em 2), o ponto final torna a frase mais cortês, dando-lhe o valor de pedido.

Pergunta:

Como classificar os seguintes nomes, indicando se são uniformes ou biformes quanto ao género e ao número: Lisboa; instrutores; alunos; Outubro?

Resposta:

Creio que há alguma confusão na origem da pergunta. Na terminologia tradicional, pelo menos, na versão fixada pela Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, mencionam-se os substantivos uniformes quanto ao género, exemplificados pelas palavras artista e mártir, e quanto ao número, como ourives e lápis. No entanto, não existe o termo «substantivo biforme».

Seja como for, se por «biforme» se entendem os substantivos que têm masculino e feminino com o mesmo radical (exemplo: lobo/loba) ou palavras que têm singular e plural (lobo/lobos), então suponho que instrutores e alunos serão (impropriamente) chamados «biformes», porque, respectivamente, têm, por um lado, os femininos instrutoras e alunas, e, por outro, as formas de singular instrutor e aluno.

Em relação a substantivos próprios como Lisboa ou aos nomes dos meses e dos dias da semana, embora a distinção em causa me pareça irrelevante, pode afirmar-se que são uniformes, uma vez que não lhes corresponde uma forma do género oposto como *Lisboo ou *Outubra. Sobre a categoria de nome, aceita-se em certos contextos o plural («as Lisboas que conheci ao longo da vida»; «os Outubros tornaram-se secos»), e, nessa medida, dir-se-ão biformes.

Em suma, acho que é inútil aplicar os termos uniforme e biforme aos substantivos. Será que a pergunta tinha antes em mente a distinção entre adjectivos uniformes (barrete/casa

Pergunta:

Por gentileza, gostaria de saber se no caso de uma procuração de pessoa jurídica devemos colocar o artigo definido, ou seja... «Por este instrumento particular, a JÚLIO GOLÇAVES ADVOGADOS ASSOCIADOS...»

A minha pergunta é a seguinte: É necessário colocar o artigo a antes do nome da pessoa jurídica, ou não? Por favor, qual é a forma correta?

Desde já, agradeço a atenção.

Resposta:

Não é estritamente necessário, mas a prática notarial indica que, normalmente, ocorre o artigo.

Geralmente, as firmas são referidas com artigo; exemplo (retirados de Esmeralda Nascimento e Márcia Trabulo, Elucidário De como Elaborar Documentos de Interesse Geral, Coimbra, Livraria Almedina, 2003, pág. 255):

«A PROINF [- Produtos Informáticos], Lda. compromete-se...»

«... será paga adiantadamente pela STP [- Sociedade Transformadora de Papéis, Lda.] à PROINF a quantia de 2000 €...»