Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Frase 1 – «Os meus patrões casaram a filha.»

Frase 2 – «O garoto mentiu aos pais.»

Porque é que na primeira frase o verbo é transitivo directo e na segunda é transitivo indirecto?

Resposta:

Frase 1 – O verbo casar é transitivo, porque selecciona um complemento directo: em «casaram a filha», «a filha» é o complemento directo.

Frase 2 – O verbo mentir é transitivo indirecto, seleccionando um complemento indirecto (ver Dicionário Terminológico), isto é, um complemento introduzido pela preposição a que pode ser substituído pelos pronomes lhe e lhes. No caso em apreço, «aos pais» é esse complemento indirecto, que pode ser substituído pelo pronome lhes: «O garoto mentiu-lhes.»

Pergunta:

Na frase «Os rapazes mais jovens não sabiam», qual é o grau do adjectivo jovens?

Resposta:

«Mais jovens» é o grau comparativo de jovens, plural de jovem. A estrutura comparativa não está explícita na frase, mas pode ser desenvolvida:

«Os rapazes mais jovens [do que os outros] não sabiam.»

Pergunta:

«With more severe clinical signs, including severe dehydration.»

Gostaria de saber se é errado traduzir a palavra inglesa severe para severo, como termo médico. Disseram-me que a tradução correcta é grave, e não severo.

Obrigada.

Resposta:

O Oxford Portuguese Pocket Dictionary traduz severe, referido a doença, como grave. Também no Dicionário Verbo Oxford Inglês-Português, severe, junto de palavras equivalentes a problem, «problema», damage, «dano», shortage, «carência, falta», injury, «ferimento», depression, «depressão», shock, «choque», é traduzido por grave.

Parece-me que a consulente tem de estar atenta à própria expressão em português. A tradução correcta não depende apenas da correspondência palavra a palavra; também decorre da sensibilidade de encontrar as compatibilidades lexicais mais correntes na língua de chegada, aqui, o português. Assim, o que se lê em inglês, sem o adjectivo em questão, verte-se em português como «com mais sinais clínicos, incluindo desidratação». Em seguida, escolhe-se o adjectivo mais adequado, que, neste caso, se me afigura ser grave: «com mais sinais clínicos graves, incluindo desidratação grave». Com desidratação, não é impossível usar severa: «desidratação severa».

Pergunta:

Gostaria de saber por qual razão no dicionário Aurélio o encontro consonantal ps não se encontra separado na translineação do vocábulo parapsicologia.

Resposta:

Na edição do Aurélio XXI a que tive acesso, o que encontro é não a partição silábica para translineação mas, sim, a análise morfológica de parapsicologia, que é constituída pelo prefixo de origem grega para- e por psicologia, palavra da mesma proveniência. Noutras circunstâncias, siga-se o que recomenda o n.º 2 da Base XX do Acordo Ortográfico de 1990, à semelhança do que o Acordo de 1945 e o Formulário Ortográfico de 1943 determinavam: «são divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente grupos», como ocorre em íp-silon. Sendo assim: pa-rap-si-co-lo-gi-a (ver também MorDebe).

Pergunta:

O Correio da Manhã publicou, no dia 1 de Dezembro de 2009, o seguinte título: «Raile de protecção trespassa jovem.» Em resposta à minha reclamação junto da direcção do CM, recebi a seguinte resposta: «Mas é assim que se escreve agora.»

Poder-me-iam informar se o termo "raile" é português correcto?

Desde já os meus agradecimentos.

Resposta:

É. Raile é o aportuguesamento de rail proposto pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001), da Academia das Ciências de Lisboa. Esta forma está também registada na base de dados da MorDebe, no Portal da Língua Portuguesa e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora (orientação científica de João Malaca Casteleiro). Este aportuguesamento parece válido apenas para o português europeu, porque não o encontro na edição brasileira do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.