Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber desde que ano se deixou de escrever Luiz e se passou a escrever Luís.

A alteração foi feita com base em que acordo?

Qual foi o período em que foi "permitida" a escrita nas duas formas?

Resposta:

No caso português, não consigo determinar a data, mas posso dar algumas pistas que, quanto a mim, apontam para o desaparecimento ou a redução do uso da forma Luiz após a reforma ortográfica de 1911; são elas:

— No Thesouro da Lingua Portuguesa, do dr. Fr. Domingos Vieira, publicado em 1873, aceitam-se duas formas, luis (sem acento) e luiz, para designar uma moeda francesa cuja denominação tinha origem no nome próprio Louis, a que corresponde o português Luís.

— Cândido de Figueiredo, na 3.ª edição do seu Novo Diccionario da Língua Portuguesa, já regista só luís.

Significa isto que antes de 1911 é que se aceitavam as duas grafias, pelo menos, como designação de uma moeda. É de crer que tenha acontecido o mesmo ao seu epónimo, Luís, nome de reis franceses.

Pergunta:

No trecho «A influência africana fervendo sob a européia e dando um acre requeime à vida sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarana quando não predominando em regiões ainda hoje de gente escura», como é classificado sintaticamente o «quando não»?

Resposta:

Não se atribui designação especial à função sintáctica de «quando não». O mais que se poderá dizer é que ocorre como conector.

Segundo o Dicionário de Usos do Português do Brasil, de Francisco S. Borba, a expressão «quando não» significa (exemplos retirados da referida fonte):

a) «para não dizer», «senão»

«Eu lia a história de um homem famoso com a maior indiferença, quando não com desprezo.»

«O temperamento irreverente, quando não incendiário, da cantora atrai um público cativo muito pareceido com ela.»

b) «ou então»

«De tardinha, depois da janta, eu ia mais ele à Vila, no Ford que ele tinha e, quando não, a cavalo mesmo.»

«Eu necessito ampliar meu comércio, seja embora em pequena escala. Quando não, observar a marcha dos negócios por lá.»

A interpretação mais adequada à frase apresentada pelo consulente é a que atribui a acepção a) a quando não: «o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarana, quando não [= «para não dizer»] predominando em regiões ainda hoje de gente escura.»

Pergunta:

Qual o diminutivo e o aumentativo de chave?

Resposta:

A palavra chave é compatível com a construção de diminutivos e aumentativos regulares: chavinha, chavezinha, chavona são formas que podem ser usadas pontualmente, talvez mais frequentemente no caso dos diminutivos do que no caso do aumentativo.

Deve, no entanto, sublinhar-se que existem formas irregulares que, conservando o valor diminutivo ou aumentativo original, podem adquirir também nova acepções:

chaveta: «peça que fixa uma roda», «sinal gráfico {»;

chavão: «frase estereotipada»;

chaveirão: «grande chave».

Pergunta:

Na frase «Ai de vocês, fariseus! Gostam de muitos cumprimentos em público», qual o significado da expressão «ai de vocês»?

Obrigado!

Resposta:

A sequência «ai de» associada a pronomes pessoais oblíquos («ai de mim», «ai de ti», «ai dele», etc.) significa «pobre de, desgraçado de, infeliz» (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Gostaria de saber a pronúncia correta das palavras escopo e alopecia. Acredito que escopo se pronuncia com os dois ós fechados (ex: escôpô), estou certo? Já na palavra alopecia, acredito que a pronúncia seja com o ó fechado e com é aberto (ex: alôpécia), correto?

Agradeço a atenção!

Resposta:

No Dicionário Houaiss, a indicação de pronúncia para a entrada escopo é com o fechado ("escôpo") na penúltima sílaba. Já a vogal da última sílaba se lê como todos os oo em posição final átona, ou seja, u.

Quanto a alopecia, é importante referir que a palavra tem duas formas (ver Aurélio XXI): alopecia, que é uma adaptação directa do grego alōpekía,as, «pelada», e alopécia, por via do latim alopecĭa, «doença que faz cair os cabelos da cabeça e da barba» (Dicionário Houaiss).1 Os dicionários brasileiros são omissos quanto à pronúncia destas variantes, mas é de admitir que, entre falantes do Brasil, a palavra soe como descreve o consulente: "alôpêcía", com acento tónico na sílaba -ci- de alopecia, ou "alôpécia", com acento tónico na sílaba -- de alopécia.

1 Alopécia parece ser a prosódia mais frequente no Brasil (comunicação pessoal de Ilda Rebelo, consultora do Ciberdúvidas).