Pergunta:
O termo «chefferie» em francês («chiefdom» em inglês, «jefatura» em espanhol) pode ser traduzido como «cheferia» em português? Não encontrei qualquer dicionário que contemplasse essa forma. Será lícito utilizá-la?
[É de assinalar que] [o] termo «chefferie» nada tem que ver com chefia. O Dicionário Francês-Português da Porto Editora diz, por exemplo:
1. circunscrição colocada sob a autoridade de um oficial de engenharia militar;
2. território sob a autoridade de um chefe de tribo.
[...] na internet [...], na variante brasileira do português existem inúmeras ocorrências. Por exemplo:
— No início era apenas uma simples cheferia. Com os anos, os hauças teriam ocupado parcelas da região
— O reino teria sido fundado pelo seu ancestral Ntinu-Wene, chefe Kikongo que, chegado do norte, atravessou o grande rio e conquistou a cheferia ambundu
— Pouco se sabe sobre suas origens, este estado sucedeu o de Ghana em esplendor e poder, sabe-se que certo senhor de uma cheferia negra (antigo Mandinga)
— senhor da mais humilde cheferia
— etc.
Assim, mantenho a dúvida quanto à possibilidade de utilização do termo na acepção acima exposta.
Obrigado.
Resposta:
A forma "cheferia" não se encontra dicionarizada, mas é verdade que ocorre em textos publicados no Brasil e relativos à organização sociopolítica de comunidades não europeias, sobretudo em África. Uma ocorrência deste termo surge definida em nota na tradução brasileira da obra de Marc Ferro, Le Livre Noir du Colonialisme (O Livro Negro do Colonialismo, Rio de Janeiro, Edições Ediouro, 2004):
«Chefaria ou cheferia: sistema social baseado na autoridade e no estatuto superior de um chefe consuetudinário, geralmente o patriarca de uma família.»
Entre chefaria e cheferia, deve preferir-se a primeira forma, porque -aria é o sufixo tradicionalmente recomendado.1
1 A tradição gramatical favorece -aria, mas o Dicionário Houaiss observa que esta forma nem sempre se pode sobrepor a termos terminados em -eria: «[...] [-eria] vem sendo objeto de rejeição didática purista, mas apresenta uns casos em que o suf. -aria , ver, canônico poderia ser fonte de ambigüidade, como em bateria, galeria, sobranceria [...].»