Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Como se deve traduzir Port-au-Prince? "Porto Príncipe", como fizeram os brasileiros? "Porto de Príncipe"?

Obrigado.

Resposta:

Port-au-Prince, nome francês da capital do Haiti, tem uma forma portuguesa correspondente, Porto Príncipe. Não se trata de inovação, pelo menos, em português europeu, uma vez que foi registada, por exemplo, em 1966, no Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, para ser acolhida mais tarde, em 2009, no recente Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora. Não encontro dicionarizadas as formas "Porto de Príncipe" ou, numa tradução mais fiel, "Porto do Príncipe", que, embora possíveis, parecem não ter ganho o favor dos lexicógrafos.

Pergunta:

A expressão «facinho facinho» está na "boca do povo". Ana Maria Braga lançou e a CEF está usando no comercial. Nas escolas, professores empregam a expressão para mostrar a facilidade de certo conteúdo e criticam aqueles que acham isso um erro. Gostaria que o Ciberdúvidas comentasse a respeito.

Obrigada pela atenção.

Resposta:

Ao que tudo indica, é uma expressão brasileira popular que consiste numa deturpação de facilzinho, no sentido de «muito fácil». É provável que a pronúncia brasileira de fácil, "fáciu" ou "fáci", associada depois ao sufixo de diminutivo -inho, tenha dado "facinho".

A repetição intensifica o valor semântico da expressão e torna-a equivalente a «muitíssimo fácil». Esta reiteração tem implicações gráficas, podendo ser representada de duas formas: ou por hífen, facinho-facinho, à semelhança de assim-assim; ou por vírgula, «facinho, facinho», como acontece noutros casos de repetição («andou, andou» ou «andou, andou, andou» = «andou muito»; «beijo grande, grande» ou «beijo grande, grande, grande» = «beijo muito grande»).

Pergunta:

Transcrevo do livro A Infanta Capelista, de Camilo Castelo Branco, 1.ª Edição Ulmeiro: Novembro de 1998 – ISBN: 972-706-288-1, o seguinte (pág. 42):

«Isto dizia o democrata, enquanto o outro do cérebro rabido e fulminativo, esmurraçando o mármore, nos certificava que...»

Qual o significado de "rabido"?

Obrigado pela vossa atenção.

Resposta:

A palavra em questão é rábido e não "rabido". O adjectivo rábido é usado em duas acepções: «que tem raiva» (sinónimo de danado, rabioso, raivoso); «que se enfureceu; que revela forte irritação; raiva» (sinónimo de furioso, rabioso e raivoso; «que parece enraivecido; violento» (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa). Quanto à palavra que qualifica, cérebro, podemos interpretá-la como «cabeça», «forma de pensar e de sentir», «temperamento». Por fulminativo, entende-se «que fulmina», com sentido agentivo, tal como destrutivo, («que destrói»); por extensão, é possível atribuir os significados de «fulminante», «repentino», «agressivo» e «intempestivo». Por conseguinte, «o outro do cérebro rábido e fulminativo» é parafraseável por «o outro que tinha um temperamento violento e intempestivo».

Pergunta:

Gostaria de saber algumas palavras da mesma família de bigode.

Obrigado.

Resposta:

Por exemplo, bigodaça, bigodudo, bigodeira, bigodar, abigodar, bigodelha.

Pergunta:

Quando na mesma página de um livro aparecem na sua parte inferior os sinais (*) asterisco e (#) cardinal, é verdade que o primeiro (asterisco) deve ler-se: «a nota ao pé da página diz» e o segundo (cardinal): «a nota de rodapé diz»? Há diferença entre «nota ao pé da página» e «nota de rodapé»?

Resposta:

Não há. Ambos os casos são de notas de rodapé também conhecidas por notas de pé de página. Trata-se de designações que significam o mesmo: «a [nota] que se coloca abaixo da página e que é extensão (observação, informação bibliográfica, explicação etc.) de algo dito ger. nessa mesma página» (Dicionário Houaiss).

As notas de rodapé têm geralmente chamadas que estão numeradas, sobretudo em textos de várias páginas como são, por exemplo, os artigos científicos. Em textos mais curtos, usa-se também o asterisco, sobretudo para esclarecer títulos ou o nome do autor, mas, havendo necessidade de fazer mais chamadas e não usando um sistema de numeração, recorre-se por exemplo a uma cruz ǂ e a outros símbolos. O sinal de cardinal é que não me parece muito comum nem adequado, porque se pode confundir com uma outra convenção de origem anglo-saxónica, equivalente a n.º: # 4 = n.º 4.