É absolutamente natural, explicável a confusão gerada na mente desta nossa consulente. E não há maneira de o novo «Acordo Ortográfico» ser posto a funcionar! Mas vejamos:
a) A grafia «sóciopolítico» do Dicionário Aurélio tem uma explicação: há gralha. E uma prova disto é que ele regista, sem acento em «socio-», as outras palavras com este elemento.
b) O «Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa» de Rebelo Gonçalves, na página 216, menciona um dos casos em que se deve usar o hífen:
«Nos compostos em que entram, morfologicamente individualizados e formando uma aderência de sentidos, um ou mais elementos de natureza adjectiva terminados em o e uma forma adjectiva.»
Entre os vários exemplos, cita os seguintes: físico-químico, póstero-palatal, trágico-marítimo, ântero-inferior; latino-cristão, grego-latino, afro-negro.
Conforme a regra, ambos os elementos destas palavras se encontram morfologicamente individualizados, tanto assim que, na pronúncia, marcamos bem o acento tónico. Por isso é que as palavras esdrúxulas têm acento gráfico nesse primeiro elemento, como vemos em ântero-inferior. Se o primeiro elemento não se apresentasse individualizado, não teria acento gráfico.
c) Quanto a sociocultural, não se passa precisamente o mesmo: não pronunciamos a primeira sílaba com a intensidade suficiente para individualizarmos o elemento socio-. Normalmente proferimos a primeira sílaba do socio- com a mesma intensidade com que proferimos o final deste elemento. É a falta desta individualização que nos leva a escrever sociocultural, sociolinguística, sociopolítico, sociodrama, sociocracia, sociofilia, etc.
Na pág. 250 da mesma obra, lemos o seguinte:
«É inadmissível o uso do hífen nos compostos em que um elemento de origem substantiva, proveniente do grego ou do latim e terminado em o, se combina com um ou mais elementos substantivos ou adjectivos». E dá como exemplos aerodinâmico, astrofísica, etc. Depois, na pág. 252, esclarece:
«Se em compostos do modelo referido se mantém, contra o que é normal, o o final de um elemento antes de vogal de um elemento imediato, não deve, por isso, empregar-se o hífen, mas fazer-se, como nos casos em que ao o se segue consoante, a aglutinação dos elementos. Exemplos: hidroavião e não hidro-avião (...)».
Ora o elemento socio não é de natureza adjectiva, mas substantiva, do latim «sociu(m)». Portanto, escreva-se também socioeconómico. Não esquecer: socio é de natureza substantiva e não adjectiva.