Pergunta:
–Anda o bullying muito na berlinda ultimamente, não necessariamente pelos melhores motivos. Continuamos porém incapazes de nos referir a este comportamento através da língua portuguesa. É difícil criar termos novos, institucionalmente pouco há quem a isso se dedique, e os estrangeirismos entram na nossa língua a um ritmo cada vez mais elevado. O meu contributo vale por isso o que vale, no caso vertente.
Se considerarmos que o bullying é uma forma de assédio onde a intimidação se acompanha de uma forte componente de humilhação, por que não designar tal comportamento por «intimilhação»? Poderemos então falar do(a) «intimilhado(a)», do acto de «intimilhar», de comportamentos «intimilhantes», Poderá não ser esta a melhor forma de designar este comportamento. Que se proponha outra, mas que não se faça do português uma língua morta, incapaz de encontrar novas soluções linguísticas para reflectir novas realidades.
Resposta:
Fica aqui feita a proposta. Observe-se que este neologismo é constituído por uma amálgama, isto é, a associação de partes de outras palavras numa só palavra (inti-, de intimidar + -milhação, de humilhação). Não sei que fortuna pode ter esta nova palavra; sei é que há casos de amálgama (ver Margarita Correia e Lúcia San Payo Lemos, Inovação Lexical em Português, Lisboa, Colibri, 2005, pág. 44), como credifone (< «crédito para o telefone») e telemóvel (< «telefone móvel»), que mantêm certa transparência decorrente de necessidades comerciais; por outro lado, outras amálgamas existem, à semelhança de setor (< «senhor doutor»), que resultam da distorção de uma sequência de dois vocábulos e da sua generalização na comunidade escolar portuguesa, num processo colectivo semelhante ao que aconteceu com a formação de você (< «vossa mercê»). Fora destes âmbitos, e num plano criativo mais restrito ou de iniciativa individual, a criação de neologismos costuma ser criteriosa e lança normalmente mão de radicais gregos e latinos, formando compostos morfológicos, de acordo com certas regras, que não são acessíveis ao grande público.
Mas, concordando com o consulente quando este diz que o português deve saber usar os seus recursos, dou também a minha achega: e que tal empregar palavras já existentes? Poderíamos pensar em «assédio escolar», seguindo o exemplo francês, que, para traduzir bullying, criou a expressão «harcèlement scolaire» (= «assédio escolar; cf.<...