Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o gentílico da antiga região da Argólida, no Peloponeso, Grécia?

Muito obrigado.

Resposta:

Segundo Rebelo Gonçalves (Vocabulário da Língua Portuguesa), o natural ou habitante da Argólida (ou Argólide) é um argolidense (adjectivo e substantivo). Argólico designa o dialecto da Argólida (idem).

Pergunta:

«E se o barco afundar, vamos fazer o que (quê), Presidente?»

Acentua-se ou não o que acima?

Obrigado.

Resposta:

Acentua-se em ambas as normas, europeia e brasileira, porque as formas tónicas do pronome interrogativo terminam frases, orações ou sintagmas. No caso vertente, o pronome interrogativo termina a oração principal de uma frase interrogativa («vamos fazer o quê?»). O facto de o quê preceder um vocativo e não terminar, por isso, a frase não é relevante, porque a formas tónicas dos interrogativos ocorrem em final de oração (e não final de frase), o que significa que não têm de aparecer sempre em final de frase; p. ex.: «Choras porquê, se não há motivos para isso?»1  

1 Em frases sem verbo, observa-se que as formas tónicas de pronomes precedidos de preposição também podem aparecer à cabeça da oração:

(1) «Tantas lágrimas para quê/porquê?» = «Para quê/ Porquê tantas lágrimas?»

O mesmo acontece em interrogativas de infinitivo:

(2) «Chorar para quê/porquê?» = «Para quê/Porquê chorar?»

Não é o que acontece com os interrogativos que e o que, que assume sempre a forma átona quando surge no começo de uma oração:

(3) «O que fazer?»

Não encontro descrição nem explicação desta diferença de comportamento.

Pergunta:

Qual o gentílico da antiga região europeia da Austrásia?

Muito obrigado.

Resposta:

Austrasiano ou austrásio (José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1991).

Pergunta:

Em 14/7/2010, em consulta feita por Artur Crisóstomo, afirma ele que «num desses sítios encontrei a seguinte regra: quando uma preposição antecede o pronome relativo, caso [a preposição] possua uma sílaba usa-se que ou quem, caso possua duas ou mais sílabas usa-se qual. Deram os seguintes exemplos: «O homem com quem falei era muito rico» e «O restaurante sobre o qual te falei foi comprado pelo meu irmão.»

No que tange a essa regra, que já vi citada na Nossa Gramática, do prof. Luís Antônio Sacconi, afirma o prof. Carlos Rocha que «A respeito da relevância do número de sílabas para a selecção de pronomes relativos, tenho a dizer não existe a regra encontrada pelo consulente: 3 – «O homem OK com quem/OK sobre quem falei era muito rico.» 4 – «O restaurante OK sobre o qual/OK no qual te falei foi comprado pelo meu irmão.» No exemplo 4, já que tal regra não existe, poderíamos dizer e escrever «O restaurante sobre que te falei foi comprado pelo meu irmão»? A propósito, após a preposição sob também só se admite o qual. Ex.: «Era uma ponte em arco, sob a qual corriam águas remansosas.»

Obrigado.

Resposta:

Agradeço ao consulente as observações enviadas, que me obrigaram a rever a resposta em causa. De facto, prefere-se o emprego de o qual no exemplo em questão, se a regência de falar for construída com uma preposição dissílaba (ver Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Lisboa, Editora Lucerna, 2002, p. 200), por exemplo, sobre

1) «O restaurante sobre o qual te falei foi comprado pelo meu irmão.»

O número de sílabas da preposição tem relevância para distinguir o uso de que e o qual, mas deve ter-se em atenção que a restrição mais forte é a que recai sobre que, que se associa apenas a preposições monossílabas (?/* indica gramaticalidade duvidosa ou nula):

2) ?/*«O restaurante sobre que te falei foi comprado pelo meu irmão.»

Quanto a sob, é natural que só o qual coocorra, porque sob é interpretado como dissílabo ("sôbi" no português do Brasil; e "sôbe" no português europeu).

Pergunta:

Gostava, se possível, de saber a etimologia do apelido Mota, a sua origem e o seu brasão.

Obrigado.

Resposta:

Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), Mota é apelido atestado desde o século XIV, com origem no topónimo Mota, por sua vez, evolução do germânico motta, «"monte de terra", elevação natural ou artificial onde por vezes se construíam castelos».

A Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura (1972), que confirma a génese portuguesa do nome, dá informação sobre os brasões a ele associados:

«Apelido de origem port[uguesa]. O 1.º que conhecemos é Ruy Gomes de Gundar, chamado o M[ota], por ter residência no solar da M[ota]. Parece que este solar era nas margens do rio Ave, nas terras de Lanhoso. Muitos autores fazem sugestões sobre o local onde foi construído este solar: na Quinta da Mota, na freg[uesia] de S. Miguel de Fervença, no conc[elho] de Celorico de Basto; ou na freg[uesia] de S. Martinho de Campo, no mesmo conc[elho], ou em S. Miguel de Travanca, o con[celho] referido, ou ainda em Chã, Gestaçô, próximo de Gundar. O marquês de Montebelo em nota ao L[ivro de] L[inhagens] – 4 [Nobiliário do Conde D. Pedro] diz que o solar era nas terras de Lanhoso, junto do rio Ave, sem dar mais elementos de informação. Ruy Gomes de Gundar, chamado [..] o Mota, era casado com D. Mayor Afonso, filha de Afonso Sanches Maravilha, e de sua mulher D. Teresa Roiz Moreira. Era bisneto de um ... valeroso e muito honrado cavaleiro (sic) ..., que acompanhou na sua vinda para Portugal o conde D. Henrique, pai do 1.º rei de Portugal, a quem serviu lealmente. Foi em cavaleiro D. Mem de Gundar, natural das Astúrias, que faz em Telões. Era casado com D. Goda, que nasceu na Galiza. Desta fam[ília], dizem as crónicas, houve geração que continuou o apelido. As armas d...