Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Apesar de ter já efectuado alguma pesquisa, não consigo encontrar uma regra de pontuação específica a aplicar nas legendas de imagens. Seja em trabalhos, livros ou outros, ao legendarmos uma determinada imagem, deveremos colocar pontuação se a nossa legenda for um texto e não pontuar se se tratar de um título ou uma descrição breve da imagem (ex.: nomes de pessoas, lugares, etc.)? No caso específico de termos de descrever, por exemplo, a posição das pessoas numa imagem (ex.: da esquerda para a direita, aninhados, em pé, etc.), deveremos colocar ponto final?

Resposta:

A prática que pude observar em várias obras parece resumir-se a duas grandes tendências:

1. A legenda é constituída apenas por um nome ou uma sequência curta de palavras que descrevem uma imagem. Não há ponto final, embora seja possível encontrar dois-pontos e travessão no interior da sequência; p. ex.:

«Teatro de São João (1909) — Marques da Silva» (José-Augusto França, A Arte em Portugal no Século XIX, volume II, Lisboa, Bertrand Editora, 1990, pág. 165.)

2. Há legendas com certa extensão, constituídas por várias frases, nas quais se usa a pontuação como em qualquer outro texto; p. ex.:

«Em baixo, Costa Pinheiro, D. João III, 1966, Pintura (col. Manuel de Brito). As ondas do mar, em baixo, representadas com linhas tensas, adquirem características ornamentais.» (Rui Mário Gonçalves, A Arte Portuguesa do Século XX, Lisboa, Círculo de Leitores, 1988, pág. 22.)

Cf.: Os tantos erros nas legendas televisivas

Pergunta:

Qual a origem da expressão copo d´água para designar a festa do casamento?

Resposta:

Trata-se de um composto hifenizado: copo-d´água (ver Edite Estrela et al., Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Subtilezas da Língua Portuguesa (Lisboa, D. Quixote, 2010). O Dicionário Houaiss, regista copo-d´água com dois significados:

a) no Brasil, «pequena reunião com doces, bebidas etc., oferecida por amigos, para homenagear alguém»;

b) em Portugal, «festa de casamento ou batizado»

Note-se que, no século XIX, a palavra estava registada com o significado a) no dicionário de Domingos Vieira (Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Lingua Portugueza, 1873; ortografia original):

«Dar um cópo d´água, dar uma pequena refeição, merenda de dôces, etc.»

A palavra terá, portanto, aparecido como designação de comida ligeira, não sei se por metáfora («tão ligeira como um copo de água»). Fica feita a sugestão etimológica, muito embora não conheça fontes que esclareçam de forma fundamentada a origem do termo.

 

Cf. «Copo de água» é erro de português?

Pergunta:

A frase «Será uma competição com o objetivo de incentivar o estudo e despertar o interesse» está correta?

Me parece estranho que objetivo esteja no singular, já que apresento dois objetivos.

Resposta:

Tem duas opções:

a) atendendo ao facto de, em certos contextos (p. ex., na planificação da actividade pedagógica), cada objectivo ser definido por uma sequência iniciada por um infinitivo (incentivar, despertar, estimular, etc.), deverá escrever-se «os objectivos de incentivar o estudo e despertar o interesse»;

b) no entanto, a expressão «com o objectivo de», tal como «com a finalidade de», ocorre praticamente como expressão fixa, o que permite usá-la sempre no singular, mesmo seguida de um complemento complexo como «incentivar o estudo e despertar o interesse».

Pergunta:

Que expressão se esconde por detrás do que parece ser o acrónimo GALP? Não consegui encontrá-la em lado nenhum.

Resposta:

Sem fontes que o confirmem, sugiro que Galp (só com maiúscula inicial) é uma designação comercial criada com base na terminação -gal do nome próprio Portugal e no p de petróleo. Considero que, em vez de acrónimo, se trata de um nome inventado que alude, pela sonoridade, à terminação do nome Portugal. Para conhecer a história da empresa petrolífera portuguesa Galp, consulte o respectivo sítio.

Pergunta:

Recentemente, consultei o Ciberdúvidas a respeito do gentílico da Bucovina, região romena, e, como resposta, me foi enviado um correio eletrônico apontando um parecer do nuperfalecido consultor Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca exarado, em 17 de janeiro de 2008, para uma consulente portuguesa sobre o tema da minha consulta deste ano de 2010. [...]

Pois bem, em que pese a alta erudição do Sr. Fernando da Fonseca, atrevo-me a dizer que são bastante discutíveis as formas por ele abonadas para os gentílicos das regiões romenas. Examinarei abaixo caso por caso.

A julgar pelo o que se lê, o gentílico da Bucovina seria "bucovineano", e não "bucovino", como eu cuidava. Ocorre que a terminação –eano somente aparece em gentílicos derivados de topônimos terminados em –eia ou -eio, sendo o e parte do topônimo antes ia ou io finais. Neste caso, o sufixo é apenas –ano. Em português, há –ano antecedido por e, em casos como o mencionado, -ano não antecedido de e, e –iano. O que digo é o que se depreende do que afirmou o saudoso João Carreira Bom em uma resposta sua de 13 de julho de 1999. Então, como Bucovina não termina em –eia ou –eio, "bucovineano" só pode estar errado.

Por outro lado, bucovino e suas variações bucovina, bucovinos, bucovinas estão de acordo com a formação de gentílicos a partir de topônimos terminados em –ina e –inas. Exemplos: de Filipinas, se fizeram filipino(s), filipina

Resposta:

Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as suas observações sobre a formação dos gentílicos que refere. A resposta em causa vai ser reformulada.

Sobre os nomes de países (corónimos discutidos na pergunta e respectivos gentílicos):

Bucovina (ou Bucóvina, conforme indicado no Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves): tem razão o consulente em relação aos gentílicos, que deverão ser bucoviniano ou bucovino.

Olténia, Ruténia, Munténia:com a excepção de Ruténia, que tem o gentílico ruteno (forma registada por R. Gonçalves, op. cit.), não há gentílico registado em dicionário nem forma consagrada, pelo que as formas constituídas pelos radicais de Olténia e Munténiaolten-, munten- — podem ter associadas as terminações -io ou -iano ou até simplesmente verem acrescentado o índice temático -o (ou -a para o feminino), de forma a criar olteno e munteno.

Dobruja (e não "Dobrogea", forma romena): é a forma portuguesa, registada em enciclopédias publicadas no séc. XX em Portugal (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura); não existe forma gentílica tradicional nem dicionarizada, pelo que são possíveis dobrujano, dobrujês, dobrujense

Banato (melhor que Banat; ver José Pedro M...