Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Queria saber por quê o português europeu é tão consonântico?

Resposta:

Porque há a tendência de as vogais que se encontram em sílaba átona passarem a vogais ditas mais "fechadas" (u, â e o chamado e mudo). Mas a impressão de as palavras em português europeu parecerem aglomerados de consoantes, nos quais apenas se destaca a vogal da sílaba tónica, deve-se sobretudo ao e mudo, que muitas vezes desaparece simplesmente. É assim que, por exemplo, desesperar soa "dzchprar", e professor, "prufsor".

Pergunta:

Quais são os gentílicos de Cambridge, Liverpool e Cornualha (Inglaterra)?

Muito obrigado.

Resposta:

Cambridge: existem os substantivos Cambrígia e Cantabrígia, sendo este último uma adaptação do nome em latim (ver Rebelo Gonçalves, Vocabulário da Língua Portuguesa, 1966); não encontro dicionarizados os gentílicos respectivos, mas, dado haver em latim cantabrigensis, é possível em português "cantabrigense", que pode dar passo a "cambrigense", tendo em conta Cambrígia; trata-se, como sempre, nestes casos, de meras sugestões, que poderão não corresponder às opções de certos falantes.

Liverpool: não encontro gentílico dicionarizado; tendo em conta o inglês liverpudlian, poderia propor-se "liverpudliano", que não encontro atestado.

Cornualha: encontram-se cornualhês e cornualês (ver Gonçalves, op. cit.).

Pergunta:

Gostava de saber se, na frase «o futuro depende dos recursos naturais», «recursos naturais» exerce a função de complemento indirecto.

Gostava também de saber porque é que, na resposta à pergunta 2911 (Qual a função do termo «de peixes», na frase «Alguns animais alimentam-se de peixes»?), a função «de peixes» não pode ser complemento circunstancial de meio.

Muito obrigada.

Resposta:

A expressão «recursos naturais» é um objecto indirecto no contexto em apreço, se utilizar a terminologia de Celso Cunha e Lindley Cintra, tal como a aplicam na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984, pág. 144).

Numa terminologia mais recente, a que é apresentada no Dicionário Terminológico, destinado aos ensinos básico e secundário, diz-se que se trata de um complemento oblíquo, isto é, um complemento introduzido por preposição que não pode ser substituído pelo pronome pessoal lhe.

Quanto à segunda questão, a resposta em causa recorre à terminologia de Cunha e Cintra (ver acima). No entanto, se tivermos em conta a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, é possível a classificação que propõe.

Pergunta:

Qual é o gentílico de Gangra, capital da antiga região da Paflagônia, Ásia Menor?

Muito obrigado.

Resposta:

Não encontro nem forma dicionarizada nem forma de uso corrente, o que não admira, já que se trata de um nome referido apenas em discussões eruditas. Deste modo, são possíveis formas sufixadas em -ano, -iano, -ense, -ês: gangrano, gangriano, gangrense ou gangrês.

Pergunta:

Chamo-me Natallia, sou de Minsk, Bielorrússia.

Queria saber se o nome do meu país — República da Bielorrússia — é considerado oficial nos países de expressão portuguesa. É que Bielorrússia é uma transcrição em russo do nome antigo do país (Белоруссия) que foi usado nos tempos da União Soviética (antes de 1991). Em 19 de Setembro 1991, o país informou a Organização das Nações Unidas de que a partir deste dia o nome oficial seria Belarus. Neste âmbito, queria perguntar se será correto utilizar o nome a República de Belarus e o adjetivo pátrio "belarusso". Agradeço muito a sua bondosa atenção e assistência.

Resposta:

Em relação ao português europeu, regista-se Bielorrússia no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Porto Editora. Para a variedade brasileira, o VOLP da Academia Brasileira de Letras regista igualmente bielorrusso, donde se infere a grafia do nome do país, Bielorrússsia; bielorrusso é também as forma que a edição de 2009 do Dicionário Houaiss apresenta, a par de Bielorrússia que ocorre na definição que consta no verbete correspondente.* No entanto, a versão portuguesa do Código de Redacção Interinstitucional da Comissão Europeia admite a forma República de Belarus para efeitos protocolares, ao mesmo tempo que indica Republica da Bielorrússia como nome oficial.

Atenção, que nunca se acolhe a forma "belarusso". As fontes referidas só elencam a forma bielorrusso.

Parece-me de concluir que a forma Belarus se usa, pelo menos, em português europeu, só por imperativos diplomáticos e protocolares. Caso contrário, nessa variedade aplica-se a designação (República da) Bielorrússia.

* A versão impressa, publicada em 2009, grafa "bielo-russo", mas o Encarte com as correções e aditamentos do VOLP, que surgiu posteriormente, corrige esta forma para a fixar definitivamente como bielorrusso.

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