Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Adquiri a edição do conto para crianças de José Saramago, A Maior Flor do Mundo, numa edição da Porto Editora. Considerei uma brilhante ideia as «sugestões» finais e, quando cheguei a "Palavras raras", fiquei surpreendido com a palavra "colióptilo", que desconhecia.

Atirei-me a todos dicionários da língua portuguesa que tenho e não encontrei a palavra, julgando mesmo que se trata de um erro de português, sendo a palavra correta coleóptilo, «camada protetora dos rebentos emergentes de monocotiledóneas como as gramíneas» (Wikipédia), ou, como se informa no Dicionário Houaiss, «primeira folha do embrião das plantas monocotiledóneas».

[Qual a grafia correta?]

Coloco a questão ao Ciberdúvidas.

Resposta:

A forma correta é de facto coleóptilo.

Na Infopédia, o nome coleóptilo, que é usado nas aceções referidas na pergunta, não tem entrada no dicionário de língua portuguesa, mas consta da nomenclatura dos dicionários bilingues português-inglês e português-alemão, tendo associado o registo existente na Base Terminológica da União Europeia (IATE). O vocábulo também não figura no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Contudo, surge grafado coleóptilo no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, outro recurso da mesma instituição.

Do lado da lexicografia brasileira, confirma-se igualmente que a grafia correta é coleóptilo, com e, não só no Dicionário Houaiss, como aponta o consulente, mas também no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras.

Se dúvidas ainda houvesse, bastaria lembrar que na palavra em questão o primeiro elemento de composição – coleo-, que significa «estojo, bainha e (figuradamente) vagina» (Dicionário Houaiss...

Pergunta:

Porque é que se escreve halogéneos em referência aos elementos pertencentes ao grupo 17 da Tabela Periódica, mas os do grupo 16 se escreve calcogénios (conforme Infopédia – Dicionários Porto Editora)?

Agradecido desde já pelo esclarecimento.

Resposta:

A mesma pronúncia (homofonia) das terminações -géneo e -génio e até a sua afinidade etimológica têm levado a certa arbitrariedade no seu uso, que, por enquanto, os vocabulários ortográficos e os dicionários não esclarecem.

Assim, seria de esperar que na Infopédia se escrevesse calcogéneo, tal como se grafa halogéneo, que é forma com registo já antigo1. Não é o que acontece, e, portanto, a conclusão que se tira da consulta de vários dicionários (portugueses e brasileiros)2 é que as duas terminações – -géneo e -génio –, são aceitáveis.

É certo que o Dicionário Houaiss (DH) define critérios para os usos de um e outro elemento:

«[-gêneo é] pospositivo, depreendido do grego homogenês, és 'da mesma raça, semelhante', pela forma assumida no latim eclesiástica homogeneus; já em 1813 está documentada essa palavra em português, passando, a partir dos fins do século XIX, a ser sua terminação contraposta a -gênio, ambas praticamente homofônicas; a distinção gráfica, aos poucos consolidada, postula em -gênio substantivos (raro adjetiváveis), enquanto em -gêneo postula adjetivos (às vezes substantivados): acridogêneo, digêneo, electrogêneo, fitogêneo, halogêneo, heterogêneo, histogêneo, homogêneo, lacrimogêneo, paleogêneo, pirogêneo, pterigogêneo [...].»

«[-gênio é] pospositivo, conexo com -genia [...] e a noção de 'nascimento, origem, descendência, raça', em compostos do século XIX em diante; a relação é de todo estreita com os compostos em –geno [...], que, transmitidos por via do grego ou do latim...

Pergunta:

Antes de mais, desculpai pela pergunta tão elementar, mas, numa aula de Português, um aluno queria saber por que razão a primeira pessoa do plural tempo presente do conjuntivo não leva acento, verbi gratia, dar e ir.

A minha gratidão antecipada pela resposta.

Resposta:

As formas demos e vamos, da 1.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo (ou subjuntivo) não levam acento, pelo menos, no Brasil, porque, geralmente, as palavras paroxítonas (acento tónico na penúltima sílaba) não se escrevem com acento gráfico. Por outras palavras, assim como se escreve, sem acento gráfico, cama, amamos, remo e amemos, também se escreve sem acento gráfico vamos e demos.

Observe-se, porém, o seguinte:

a) a forma vamos ocorre no presente do conjuntivo e também no presente do indicativo, sempre sem acento;

b) a forma demos ocorre quer no presente do conjuntivo quer no pretérito perfeito do indicativo.

O que atrás descrevemos é válido no Brasil.

Contudo, em Portugal e nos outros países de língua portuguesa, há uma diferença: vamos escreve-se sempre sem acento, mas a forma do presente do conjuntivo escreve-se dêmos – «é preciso que dêmos mais apoio aos idosos» –, com acento gráfico, para indicar que a vogal é fechada. Esta última forma distingue-se, portanto, da forma demos do pretérito perfeito do indicativo, a qual se pronuncia com e aberto – «na semana passada, demos um grande passeio em Sintra».

É de lembrar ainda que, em Portugal e noutros países de língua portuguesa, as formas da 1.ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo dos verbos da 1.ª conjugação (terminados em -ar), também têm acento gráfico na penúltima sílaba, para se distinguirem das formas do presente do indicativo:

(1) Normalmente, cantamos na igreja. – presente do indicativo

(2) Ontem, cantámos na igreja. – pretérito perfeito do indicativo...

Galiza festeja o Dia das Letras Galegas
Francisco Fernández del Riego homenageado em 17/05/2023

Na Galiza, celebra-se em 17 de maio o Dia das Letras Galegas A data é festajada como forma de recordar escritores e outras figuras cujo trabalho contribuiu para a afirmação da cultura e do idioma galegos. Em 2023, a figura homenageada é Francisco Fernández del Riego (1912-2010), miltante galeguista e um dos grandes impulsionadores da importante Editorial Galaxia, sediada em Vigo.

Pergunta:

"Laissa"/"Laíssa" leva acento agudo?

Obrigado.

Resposta:

É um nome que pode escrever-se das duas maneiras, com ou sem acento agudo.

Laissa/Laíssa parece ter introdução relativamente recente em Portugal e, portanto, não tem registo estável em obras de referência como sejam dicionários de nomes próprios (dicionários onomásticos). No entanto, a lista de nomes autorizados pelo Instituto do Registos e do Notariado inclui e, por isso, legitima ambas as formas em questão, com e sem acento gráfico – Laíssa e Laissa.

O nome Laissa/Laíssa parece ser uma variante de Laís/Lais, nome de origem grega, talvez forma do nome masculino Laios, de origem e significado obscuros1, que em português assume a forma Laio.

De acordo com a plataforma Forebearers, o nome Laíssa/Laissa tem especial concentração no Brasil.

 

1 Ver Laios no portal de língua inglesa Behind the Name.

2 Cf. M.ª Helena T. Costa Ureña Prieto, Do Grego e do Latim ao Português, Lisboa: Fundaçao Calouste Gulbenkian, 1995, p. 156.