Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Preciso saber como é que se escreve o verbo expedir e o verbo remeter no seguinte contexto: «Espero que vossa direcção... o documento mencionado» (quando eu solicito da maneira apropriada um documento e espero que mo entreguem).

Agradeço vossa resposta.

Resposta:

O verbo expedir segue a mesma conjugação de pedir: «Espero que a vossa direção me expeça.» Quanto ao verbo remeter, tem este a mesma conjugação de meter: «Espero que a vossa direção expeça e me remeta o documento mencionado.»

Pergunta:

É comum ver consultor no lugar de corretor, por ser considerado mais «chique»! Mas neste caso pode escrever: «consultor em imóveis», ou «consultor para imóveis», ou «consultor de imóveis»? E por que não «conselheiro em imóveis»? Pode ser?

Agradeço, desde já, as respostas.

Resposta:

Partindo do princípio de que as expressões mais corretas são «corretor de imóveis» e «consultor de imóveis», refira-se que corretor,1 no contexto da compra e venda de imóveis no Brasil, designa «agente comercial (de publicidade, de imóveis etc.)» (Dicionário Houaiss).2 O iDicionário Aulete confirma esta definição: «Aquele que trabalha como intermediário na compra e venda de imóveis, ações, seguros.» Sobre consultor usado no mesmo contexto, não encontro referência específica nos dicionários consultados, para além das aceções que aí se atribuem à palavra. Aliás, a consulta do corpus NILC/São Carlos (Linguateca), constituído por «textos brasileiros do registo jornalístico, didáctico, epistolar e redacções de alunos» (idem), mostra que a expressão «corretor de imóveis» ocorre 18 vezes, enquanto não se deteta nenhuma de ocorrência de «consultor de imóveis», o que sugere que a expressão consagrada é efetivamente «corretor de imóveis».

Mesmo assim, porque o mundo muda e a língua também, assinalo que há quem diferencie entre «corretor de imóveis» e «consultor de imóveis». É que se faz num blogue brasileiro:

«O mercado costuma denominar "corretor" o profissional devidamente inscrito no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis — CRECI. Refere-se, de outro lado, a "consultor" para denominar o profissional não escrito (pseudocorretor/irregular).»

Contudo, na mesma fonte, propõe-se outro entendimento da expressão «consultor de imóveis», concebendo-a como d...

Pergunta:

Gostaria de saber a origem das palavras: sarrabulho/serrabulho e chanfana.

Muito obrigado.

Resposta:

A respeito de sarrabulho (ou serrabulho), o Dicionário Houaiss e o Dicionário Etimológico Resumido (Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro/Ministério da Educação e Cultura, 1966), de Antenor Nascentes, consideram que se trata de palavra de «origem obscura». José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, é da mesma opinião, mas aventa a hipótese de se tratar de formação expressiva: «A ser assim, creio que o sentido mais antigo seria o de "barulho, desordem" [...] Daqui sairia o nome do tão célebre prato português, dada a "mistura, aparente desordem" em cuja composição entram sangue, miúdos de porco, torresmos, toucinho, etc.»

Não é esta a perspetiva de Silveira Bueno, no seu Grande Dicionário Etimológico Prosódico da Língua Portuguesa (São Paulo, Edição Saraiva, 1967; mantive a ortografia original): «a forma primitiva foi sarabulho e até sarbulho com o significado de cobreiro, vermelhidão que aparece na péle e atribuido à passagem de algum animal peçonhento, geralmente, cobra. Daqui serpulho e em esp[anhol] serpullido aplicado não só ao que acima chamamos cobreiro, mas a qualquer impinge, e até as pintas vermelhas deixadas na péle pelas pulgas. Passou o nome a significar o prato [português] [...] pela presença do sangue de porco que fica depois de ido ao forno, co pintas mais escuras umas, mais vermelhas outras. A base de sarpulho, serpulho, sarbulho, sarabulho, sarrabulho é o lat[im] tard[io] serpusculus, herpes, cobreiro, de serpĕre, justamente o que acima dissemos a respeito da passagem das cobras nas roupas e depois na péle, produzindo cobreiro.»

A proposta de Bueno pode encontrar vários problemas, entre ...

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado da expressão «grifo meu». De onde vem essa expressão e em que contexto deve ser empregada?

Obrigada.

Resposta:

Falando de tipo de letra, grifo é o mesmo que itálico, conforme se indica no Dicionário Houaiss, que, sobre a origem de ambos os termos, adianta que «[o] tipo itálico foi desenhado para o impressor Aldus Manutius, em 1501, a partir da letra chanceleresca cursiva, por Francesco Griffo da Bologna (donde o sinônimo grifo), e, posteriormente, aperfeiçoado por Ludovico degli Arrighi».

Pergunta:

Os nossos jornalistas ligam o prefixo sub por hífen antes do cardinal 17. No Jornal de Angola do dia 22 de Junho de 2012 [p. 47], por exemplo, leu-se isto: «A Selecção Nacional de Futebol de "Sub-17" para os Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) perdeu ontem diante da equipa do escalão de juniores do 1.° de Agosto, por 1-2, no Estádio da Cidadela, em partida de preparação.»

É correcto isto?

Obrigado.

Resposta:

É aceitável e até mesmo recomendável a forma sub-17 (maiúscula opcional para a designação para esta categoria desportiva).

O acordo de 1945 e o de 1990 (AO 90) são omissos quanto à associação de prefixos a algarismos. No entanto, sabendo que, na aplicação do AO 90, se adotou o critério de fazer seguir prefixos de hífen antes de estrangeirismos (anti-doping), nomes próprios (anti-Bush), e siglas (anti-FMI)1, parece lícito incluir entre estes casos o dos algarismos e escrever sub-17.

1 Nos critérios adotados pelo Vocabulário Ortográfico do Português na aplicação do AO 90, lê-se que «[o] hífen é usado após estes elementos [prefixos e radicais (elementos não autónomos como mini- ou agro-)] quando [...] a palavra a que se juntam é um estrangeirismo, um nome próprio ou uma sigla: anti-apartheid, anti-Europa, mini-GPS