Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o significado das palavras teosofia, antroposofia e teologia?

Resposta:

O termo teosofia (do gr[ego] theosophía, "sabedoria divina") significa «doutrina que se apresenta como o conhecimento de Deus e das coisas divinas mediante o aprofundamento da vida interior como forma de elevação progressiva do espírito até à iluminação» ou «inspiração da sabedoria divina».

A palavra antroposofia vem «do gr[ego] ánthropos, "homem" + sophía, "sabedoria"» e quer dizer «estudo do homem, do ponto de vista moral».

Quanto a teologia (do gr[ego] theología, "ciência da divindade", pelo lat[im] theologĭa-), trata-se de «estudo dos princípios e questões de uma religião» ou «meditação a respeito da existência de Deus e dos Seus atributos e relações com o Universo» [cf. Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora].

O Dicionário Eletrônico Houaiss, por sua vez, diz que teosofia é «conjunto de doutrinas religiosas de caráter sincrético, místico e iniciático, acrescidas eventualmente de reflexões filosóficas, que buscam o conhecimento da divindade e, assim, a elevação espiritual; teosofismo [Dentre estas várias doutrinas, destacam-se as de Paracelso (c1493-1541), Jakob Boehme (1575-1624) e Emanuel Swedenborg (1688-1772)]».

Em relação a antroposofia, este dicionário remete-nos para antropossofia (termo preferível) e diz que se trata de «qualquer doutrina a respeito da natureza espiritual do ser humano» ou, em «filosofia, religião», de «doutrina mística formulada pelo pensador espiritualista austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) que, com base na teosofia de Blavatski (1831-1891) e em questionamentos filosóficos, políticos e religiosos, procura refletir a respeito da condição humana».

Pergunta:

Agradeço me informem sobre o género deste nome proveniente do japonês: «um bonsai», ou «uma bonsai»?

O meu reconhecimento.

Resposta:

De acordo com os dicionários consultados, a "arvorezinha" bonsai, originária do Japão, é do género masculino. Este termo vem «do jap[onês] bonsai, "árvore em vaso"». O bonsai é, pois, uma pequena árvore «obtida pelo corte de determinados ramos e raízes e da aplicação de ligaduras ao tronco de determinados espécimes» [Dicionário da Língua Portuguesa 2003, da Porto Editora].

Pergunta:

 Gostaria de saber qual a grafia correcta do seguinte substantivo: "agrafes", ou "agrafos"?

Muito obrigado.

Resposta:

Em Portugal, o Dicionário da Língua Portuguesa 2003 (Porto Editora) regista agrafe, diz que é «palavra francesa» e remete-nos para agrafo. Trata-se de «grampo metálico, geralmente curvo nas pontas, que serve para prender folhas de papel» ou «instrumento metálico em forma de grampo, usado para unir as partes de uma ferida». A palavra agrafo vem «do fr[ancês] agrafe».

No Brasil, o Dicionário Eletrônico Houaiss regista agrafo, diz que é termo da medicina e remete-nos para agrafe. Em relação a este termo, diz que é «grampo de cabelo ou de roupa» ou, como regionalismo de Portugal, «grampo para prender papel». Ainda como regionalismo, mas do Maranhão, trata-se de «alfinete de fralda». Em medicina, é «pequena lâmina de metal us[ada] para suturar as feridas».

Em conclusão, ambos os vocábulos são correctos, embora agrafo seja o preferido em Portugal, e agrafe no Brasil.

Pergunta:

É usual usar-se o verbo enviar quando nos referimos a uma carta ou um e-mail. Mas vi no vosso artigo Netspeak: «pergunte às pessoas quando foi a primeira vez em que elas mandaram um e-mail». Pergunto se se pode «mandar uma carta» ou «mandar um e-mail».

Obrigado.

Resposta:

Embora o texto em causa seja da responsabilidade da revista brasileira Veja, o verbo mandar, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, quer dizer, entre outras coisas, «fazer sair (alguém ou algo) para (determinada direção ou remetente); enviar, expedir, remeter», como por exemplo na pergunta «já lhe mandaram a encomenda?». Assim, apesar de, neste contexto, se usar geralmente o verbo enviar, pode-se dizer «... elas mandaram um e-mail».

Pergunta:

Como é correcto escrever: "talhe doce", "talhe-doce", "talho-doce"?

Resposta:

No Dicionário Eletrônico Houaiss escreve-se talho-doce, mas no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, a forma registada é talhe-doce. Seja como for, tem hífen.

Trata-se de termo da área da gravura e diz-se «gravura a talho-doce». Na mesma área, e por metonímia, é «qualquer reprodução obtida por esse processo» (Dicionário Houaiss). Em economia, trata-se de «impressão feita em títulos com grande circulação no mercado de capitais [Exigência feita pelas principais bolsas de valores mundiais para negociar tais papéis]» (idem).

O plural de talho-doce/talhe-doce é talhos-doces/talhes-doces.