Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Quais são as diferenças entre estruturalismo, gestaltismo, behaviorismo e psicanálise?

Resposta:

Estruturalismo, na área da linguística, é «toda abordagem de análise que define os fatos linguísticos a partir das noções saussurianas de estrutura e de sistema; linguística estrutural [Aplica-se à escola de Praga, à glossemática (escola dinamarquesa) e às teorias descritivistas norte-americanas; após 1945, o estruturalismo saiu do domínio da linguística e conquistou posição noutras áreas do saber, como etnologia, antropologia, filosofia, sociologia, economia e teoria literária]». Trata-se ainda de «teoria segundo a qual o estudo de uma categoria de fatos deve enfocar esp[ecialmente] as estruturas». Por extensão de sentido, o estruturalismo é «qualquer escola, sistema etc. que se fundamenta em determinados métodos e concepções ligados à definição de estrutura». Em antropologia, trata-se de «movimento associado esp[ecialmente] a Claude Lévi-Strauss (1908-), que se propõe analisar as relações sociais em termos de estruturas relacionais altamente abstratas, não raro expressas em simbolismo lógico» e, em antropologia cultural, de «método de análise que se concentra nos padrões reincidentes do pensamento e do comportamento». Na área da psicologia, é a «teoria que enfatiza as ligações entre os componentes afetivos e o conteúdo vivido, independente da fisiologia do sistema nervoso».

Gestaltismo (termo da psicologia) é a «teoria psicológica que considera os fenômenos como conjuntos constitutivos de unidades autônomas, dotadas de solidariedade interna e de leis próprias; teoria da forma».

Behaviorismo é, em psicologia, «teoria e método de investigação psicológica que procura examinar do modo mais objetivo o comportamento humano e dos animais, com ênfase nos fatos objetivos (estímulos e reações), sem fazer recurso à introspecção» e, em linguística, «doutrina apoiada na psicologia ...

Pergunta:

Os adjectivos desumano e inumano são sinónimos? Podem ser utilizados no mesmo contexto (p. ex., «a violência doméstica é um comportamento inumano/desumano» e «um monstro é um ser desumano/inumano»)?

Obrigada.

Resposta:

O adjectivo desumano («de des- + humano») significa «que não tem humanidade; cruel; feroz», e o adjectivo inumano («do lat[im] inhumānu-») quer dizer «desumano; cruel». Assim, são sinónimos, embora a utilização de um ou de outro dependa muito do contexto; em Portugal, usa-se desumano no primeiro exemplo: «a violência doméstica é um comportamento desumano»; já inumano pode ser utilizado no segundo exemplo, mas desumano também é usual.

Parece-me que desumano se emprega, regra geral, com pessoas («o João é desumano»), enquanto inumano se utiliza, habitualmente, com coisas, paisagens, etc., a exemplo de «a cidade é inumana».

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]

Pergunta:

Gostaria de saber se o verbo apreender pode ser usado com relação a pessoas, como sinónimo de prender. Tenho visto este uso algumas vezes em jornais e causa-me um certo estranhamento.

Obrigado.

Resposta:

Apreender pode ser usado em relação a coisas que se encontrem na posse de pessoas, como, por exemplo, «apreendeu-lhe os cigarros para que não fumasse». Por extensão de sentido, e na qualidade de termo jurídico, significa «tomar posse por direito; confiscar», a exemplo de «a polícia apreendeu o contrabando de cocaína».

Apreender ainda quer dizer «assimilar mentalmente, abarcar com profundidade; compreender, captar», como na frase «foi difícil apreender o sentido daquelas palavras».

Dado que prender é, essencialmente, «privar (alguém) da liberdade; recolher à prisão; aprisionar, encarcerar», apreender não «pode ser usado com relação a pessoas, como sinónimo de prender». A polícia prende o ladrão e apreende-lhe o produto do roubo.

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

Seria possível ajudarem-me quanto à definição destas palavras?

Resposta:

O verbo consignar («do lat[im] consignāre, "marcar com um sinal; selar"») significa «determinar uma quantia para certa despesa; confiar mercadorias a um comissário; entregar à comissão; notar; afirmar; declarar».

Consignador («do lat[im] consignatōre-») é «que ou aquele que consigna».

Quanto a consignatário («do lat[im] consignatarĭu-»), trata-se de «aquele que recebe mercadorias à consignação; vendedor por conta de outrem; credor em favor do qual se consigna rendimento; depositário de valores litigiosos ou destinados a certas despesas; agente de navegação».

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora]

Pergunta:

Tal como existe o substantivo rescisão, relacionado com o verbo rescindir, existirá algum substantivo relacionado como verbo prescindir (sugestão: "prescisão")?

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss regista o substantivo (nome) prescindibilidade (de «prescindível com o suf[ixo] –vel sob a f[orma] lat[ina] -bil(i)- + -dade»), tratando-se de «qualidade ou condição do que é prescindível»; acolhe ainda o substantivo (nome) prescindência («ação de prescindir»), proveniente de «prescindir + -ência», embora este me pareça muito pouco usual em Portugal.