Pergunta:
1. Na frase «O Luís comprou, ontem, um fato preto», qual é o predicado: «comprou, ontem, um fato preto», ou «comprou um fato preto»? E se «ontem» estiver no início da frase?
2. Os complementos circunstanciais integram, numa análise sintáctica, o predicado? Há regras para realidades específicas?
Grata pelos esclarecimentos sempre importantes.
Resposta:
Na frase que indica — «O Luís comprou, ontem, um fato preto» —, o predicado é «comprou, ontem, um fato preto». O predicado é o constituinte que inclui o grupo verbal e os modificadores do grupo verbal. O grupo verbal é o grupo de palavras que funciona como uma unidade sintáctica e que é constituído pelo núcleo (verbo) e pelos complementos exigidos por esse verbo:
[comprou] v [um fato preto] complemento directo
Os modificadores são constituintes não seleccionados pelo núcleo do grupo sintáctico que modificam (na gramática tradicional são também denominados de adjuntos ou complementos circunstanciais).
O modificador do grupo verbal «comprou um fato preto», presente na frase «O Luís comprou, ontem, um fato preto», é o advérbio ontem e desempenha a função sintáctica de modificador adverbial. O advérbio ontem é um constituinte adverbial que não é seleccionado por nenhum item lexical presente na frase. Seja qual for a posição que ocupe, o advérbio ontem, na frase em apreço, é sempre um modificador do predicado.
O facto de um modificador ser considerado modificador da frase ou do predicado depende do seu grau de abrangência. Por exemplo, na frase «Naturalmente, o Luís comprou um fato preto ontem», o modificador naturalmente transmite um sentido avaliativo («como era de esperar») e está num nível superior ao predicado, condicionando toda a frase.
De forma a distinguir um modificador de frase de um modificador de grupo verbal, poderão ser feitos alguns testes. Assim, os modificadores de frase permitem testes com interrogação por clivagem, sendo ...