Pergunta:
Nesta frase, excerto de um texto de Saramago, «Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais», a oração «que são iguais» é substantiva completiva, mas, tratando-se de Saramago, eu dei voltas à oração e parece-me que poderia ser adjetiva relativa restritiva, sendo «que» um pronome relativo cujo antecedente é «dias»: «Nós sabemos dos dias que são iguais.» («que são iguais» pode ser substituído pelo adjetivo iguais – «Nós sabemos dos dias iguais»).
Não sei se faz sentido a minha dúvida. Isto deixou-me baralhada porque eu vejo «dias» como o antecedente.
Obrigada.
Resposta:
No caso em apreço, a oração «que são iguais» é uma subordinada substantiva completiva.
O verbo saber pode ser usado como transitivo direto1:
(1) «Ela sabe duas línguas.»
Também pode funcionar como transitivo indireto1:
(2) «Ele sabe dos resultados do exame.»
No caso da frase de José Saramago2, o autor usa o verbo saber como transitivo direto e indireto, como se pode observar pela reorganização dos elementos da oração em questão:
(3) «Nós sabemos dos dias que são iguais.»
Trata-se de um uso não habitual do verbo saber. Não obstante, é possível verificar que em (3), a oração «que são iguais» desempenha a função de complemento direto, como se comprova pela possibilidade de pronominalização:
(4) «Nós sabemos isso dos dias.»
A oração «que são iguais» não é, por esta razão, uma subordinada adjetiva relativa que assume como antecedente o grupo nominal «os dias».
Disponha sempre!