Pergunta:
Como se distingue diegese de discurso e se aborda a questão dos desencontros temporais entre uma e outra? Quais as implicações e as consequências da relação entre esses dois níveis temporais?
Resposta:
Apesar da complexidade que envolve a resposta à pergunta que nos faz o consulente, tentaremos, em poucas linhas, explicar a relação entre os dois conceitos.
A diegese, como um conceito de narratologia, diz respeito à dimensão ficcional de uma narrativa, designando o conjunto de acções desenvolvidas ao longo da mesma. O tempo e o espaço da diegese são, por assim dizer, o tempo e o espaço ficcionais. Por sua vez, o narrador, conforme a sua posição na diegese, pode ser homodiegético (se for uma personagem da história que narra), heterodiegético (se narrar uma história na qual não participa) e autodiegético (se narra a sua própria história). Quanto ao discurso, este pode ser construído de várias formas na representação da diegese, por exemplo: pela narração (na 1.ª pessoa do singular ou do plural) e descrição, através de um monólogo, e, ainda, através de diálogos (no discurso directo ou indirecto, etc.).
O tempo da diegese, como dissemos, consiste no tempo durante o qual a acção se desenrola, em que podem, ou não, surgir referências temporais como a passagem de horas, dias, meses, anos, etc. Já o tempo do discurso consiste no modo como o narrador relata os acontecimentos, podendo coincidir, ou não, com o tempo da diegese, por exemplo; falamos de sincronia quando coincidem (o caso de diálogos ou quando o narrador segue os eventos de uma forma linear, à medida que estes vão acontecendo), mas também podem ser anacrónicos se, no presente, o narrador relatar acontecimentos já passados (fenómeno designado por analepse), ou, por sua vez, o narrador revelar/antecipar acontecimentos futuros (ao que se chama prolepse).
O tempo da diegese pode ainda ser maior ou menor do que o do discurso (anisocronia ...