A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

"Planificador" é uma palavra que não aparece nos dicionários da língua portuguesa que consultei. Mas será incorrecto usá-la? Por exemplo, posso escrever «O Estado impôs as suas linhas planificadoras», ou devo antes escrever «O Estado impôs as suas linhas de planificação»?

Desde já muito obrigado pela vossa atenção.

Resposta:

A palavra planificador pode ser encontrada no Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, com o seguinte registo: «Planificador, adjectivo, que planifica, que aplana, nivelador, igualador.»

Vemos, portanto, que «linhas planificadoras» correspondem a «linhas de planificação». Se «linhas de planificação» for a expressão mais compreensível para os destinatários da mensagem, então, será esta a forma preferível.

Pergunta:

Qual é a interpretação do provérbio «só manda quem pode»?

Resposta:

«Só manda quem pode» é uma expressão popular que usamos em diversas situações. Está basicamente relacionada com o exercício do poder.

Nas sociedades organizadas, manda quem foi escolhido para mandar ou por eleição ou por nomeação de uma autoridade.

Nas colectividades desportivas, culturais, humanitárias e outras, bem como nas empresas, existem regras para a escolha dos dirigentes e para o funcionamento destas instituições.

Nas famílias, o poder é organizado de acordo com as capacidades físicas e financeiras dos seus membros. Normalmente, comandam os mais idosos. Quando estes estão total ou parcialmente incapacitados, o poder passa para a geração seguinte se essa for a melhor solução.

Nos grupos formados espontaneamente e de curta duração, o comando é mais flexível e adaptável às circunstâncias.

Pergunta:

Qual o superlativo de vago? Será "vaguíssimo", ou "vaguérrimo"?

Resposta:

Os superlativos absolutos simples ou sintéticos da língua portuguesa tiveram origem na língua latina.

Os substantivos latinos terminados em -er, como pauper, faziam o superlativo em pauperrimus, que deu lugar à forma paupérrimo na língua portuguesa.

Os adjectivos latinos terminados em -ilis faziam o superlativo em ilimus, como facillis/facilimus. Por este motivo, a palavra fácil tem como superlativo facílimo.

A forma mais generalizada terminava com o sufixo -issimus/-issima. Para além das palavras que já se usavam na língua latina, aplicamos para todos os adjectivos modernos. Por este motivo, o superlativo de vago será vaguíssimo ou vaguíssima.

A terminação -érrimo/-érrima surge apenas em textos jocosos, como, por exemplo: «Ela é uma mulher elegantérrima.»

Pergunta:

Tendo encontrado dicionarizada a palavra quadrilheiro, com sentido de «coscuvilheiro, bisbilhoteiro», estranhei não encontrar "quadrilhice", que é uma palavra de uso corrente na zona oeste [Portugal], e penso que também em Lisboa, pelo menos.

Outra situação com algum paralelo talvez seja "pastelar", com o sentido de «preguiçar», ou «demorar a fazer», que não encontro dicionarizada, e me parece de uso generalizado.

Estranho sempre a nossa facilidade em adoptar vocabulário estrangeiro, enquanto há tanta resistência em assumir vocabulário deste tipo, que faz parte do léxico de tantos falantes. Gostaria de saber como as classificam quanto à generalização do uso e se consideram aceitável o seu uso escrito.

Resposta:

Em relação à palavra quadrilhice, parece-nos que já está consolidada pelo uso. No entanto, poderá ainda não ter a expansão suficiente e ser, por enquanto, apenas um regionalismo. Dada a larga utilização do sufixo -ice, que indica qualidade ou estado, na língua portuguesa, é previsível a entrada da palavra quadrilhice nos dicionários.

Em relação à palavra pastelar com os significados apresentados, talvez seja apenas um modismo passageiro. Só a sua expansão e persistência poderão dar lugar à sua entrada nos dicionários. Muitas palavras têm uso restrito e efémero, não passando nunca à posteridade.

Pergunta:

Gostava de saber qual a origem, data, evolução e uso da palavra valor, nas diferentes perspectivas.

Antecipadamente grato.

Resposta:

A palavra valor teve origem no vocábulo latino tardio valore, visto que não figura nos textos latinos clássicos. Encontra-se registada em textos de língua portuguesa desde o século XIII.

Inicialmente, significava «coragem» e «valentia». Posteriormente, passou a significar «quantia que se dá em paga de uma mercadoria ou de um serviço».

Esta palavra mostra bem a evolução da sociedade medieval, que, depois de um longo período de guerras, se transformou numa sociedade mais calma e, economicamente, mais desenvolvida.