A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O que significa a palavra itifálico(a)? Ocorre no seguinte contexto:

«Na pose itifálica do deus Min (...)» (História das Mitologias, 1.º volume, Edições 70)

Resposta:

Itifálico — [adjectivo] — relativo ao itifalo; relativo aos versos que eram cantados nas procissões do itifalo [falo erecto] que figurava em certas festas dos Gregos.

Itifalo também designa um género de fungos da família das Falácias.

Pergunta:

Em que circunstâncias se usam «até o» e «até ao»? Alguma dessas construções é errada?

No Brasil, usa-se mais a primeira construção e, ao que parece, em Portugal, a segunda é mais freqüente. Seria assim mesmo?

Dêem-me exemplos, por favor.

Muito obrigado.

Resposta:

Até ao século XVII, a preposição até não era acompanhada pela preposição a. Foi durante esse século que a preposição até passou a ser acompanhada pela preposição a.

Em Portugal, é a forma mais comum, mas não é a única. Vejamos um exemplo prático: «Ele queria ir até ao Luxemburgo, mas foi apenas até Paris.» Como não usamos artigo antes de Paris, também não usamos a segunda preposição.

Se usarmos até como advérbio, não usaremos a preposição a. Exemplo: «Naquela confusão, até o gato miou e o cão ladrou.»

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Edição do Círculo de Leitores (Lisboa), as duas formas são também usadas no Brasil e igualmente correctas. O referido dicionário refere, como exemplo, Machado de Assis, que usou as duas formas nas suas obras.

Pergunta:

Gostaria de saber o aumentativo e o diminutivo das palavras abelha, dado, índio, rádio, uva, violão e xícara.

Grata.

Resposta:

As abelhas só são identificadas pelos apicultores. Quem não lida constantemente com as abelhas não dá denominação especial para as abelhas adultas. A única abelha que se distingue é a abelha-mestra ou rainha. O macho tem designação especial, zângão ou abelhão. Assim, não tem uso o aumentativo de abelha. Apenas se usam os diminutivos abelhinha, abelhita, abelhazinha, abelhazita e, depreciativamente, abelhazeca. Na prática, estas palavras surgem sobretudo em narrativas infantis.

O dado é um objecto de tamanho normalizado e, portanto, de dimensões limitadas. Não se justifica o uso do aumentativo e do diminutivo sintéticos. Apenas, em casos excepcionais surgirão diminutivos ou aumentativos formados de forma analítica: «pequeno dado», «dado que excede as medidas normais», etc.

Em relação à palavra índio, como o diminutivo também possui carga afectiva, é normal dizermos: indiozinho ou indiozito. Depreciativamente, poderá alguém dizer: indiozeco. O aumentativo sintético não é usual porque as formas analíticas são mais expressivas: «índio corpulento», «índio valentão», etc.

O aspecto afectivo pode também influenciar alguns falantes a designarem um pequeno rádio como radiozinho, ou radiozito e, depreciativamente, radiozeco. O aumentativo sintético não é frequente porque os rádios ...

Pergunta:

Em relação à expressão «em claro fenómeno de "locus de controle externo"», o que se pode depreender da mesma?

Resposta:

Não é possível darmos uma resposta definitiva porque não dispomos do contexto em que se encontra a expressão apresentada. Apenas poderemos dizer que o conjunto «locus de contole externo» nos merece o seguinte comentário.

A palavra locus é de origem latina e é usada na língua inglesa com diversos significados e entre eles: «local» e «localização».

A palavra controle corresponde ao vocábulo francês contrôle, adaptada à língua inglesa como control e à língua portuguesa como controlo.

Por estas razões, a presumível tradução deverá ser «em claro fenómeno de localização de controlo externo».

Pergunta:

Agradeço antecipadamente a vossa colaboração. Indo ao ponto, gostaria que me dessem alguma informação sobre a forma de tratamento ajustada a Deus. Quando nos dirigimos a Ele, que forma de tratamento utilizar? Questiono-vos por ter notado em alguns livros religiosos uma "salada russa descomunal" como podem verificar nestas duas passagens que vos envio: «... o Seu rebanho...», «... no Teu trono...»

Resposta:

Os textos religiosos existentes na língua portuguesa podem ter tido origem na língua latina ou em línguas modernas. Por isso, as diferenças podem provir das traduções ou dos diferentes autores que viveram em diversas épocas.

Na língua latina usada no tempo de Cristo, o interlocutor era tratado na segunda pessoa do singular (tu).  Posteriormente, o interlocutor mais distinto era tratado na segunda pessoa do plural (vós).

Na língua portuguesa contemporânea, tratamos por tu o interlocutor mais íntimo e, por isso, em algumas invocações, Deus é referido na segunda pessoa do singular. Noutras invocações, existe um certo distanciamento e, por isso, Deus é invocado na segunda pessoa do plural (Vós).

Como actualmente tratamos por deferência o interlocutor na terceira pessoa do singular, também poderão surgir invocações a Deus na terceira pessoa do singular.