O linguista, professor universitário, escritor, poeta e jornalista Calane da Silva – vítima de complicações de saúde associadas à covid-19 – faleceu em Maputo, no dia 29 de janeiro de 2021.
Nascido na então Lourenço Marques (20 de outubro de 1945), dotado de forte personalidade, Raul Alves Calane da Silva marcou a vida cultural moçambicana no último meio século e viveu as grandezas e as tragédias do seu país. Atento ao mundo, homem de múltiplos saberes, tendo integrado, ainda antes do 25 de Abril, em 1971, a redação da recém-criada revista Tempo, dirigida pelo jornalista Rui Cartaxana (1929 — 2009). Em 1985 coordenou o suplemento Gazeta das Artes e Letras desta revista, tendo uma ação importante na divulgação de jovens escritores moçambicanos e, dois anos depois, passou ai chefiar a redação da Televisão Experimental de Moçambique.
Licenciou-se em Letras pela Universidade Eduardo Mondlane, com um mestrado em Linguística e um doutoramento na Universidade do Porto com a dissertação Do Léxico à Possibilidade de Campos Isotópicos Literários, baseando-se em duas obras do poeta José Craveirinha (1922-2003), Xigubo e Karingana wa Karingana. No seu doutoramento analisou em detalhe «as concentrações dos lexemas bantos, dos neologismos luso-rongas, anglo-banto e banto-afrikanse e das demais escolhas lexicais de base nominal, verbal e adjetival nas obras Xigubo e Karingana wa Karingana de José Craveirinha», para defender que «na sua função estilístico-metafórica poderão constituir Campos Isotópicos Literários, no caso vertente de pan-africanismo, negritude e nacionalismo, na perspetiva anticolonial, de identidade, de resistência e de afirmação cultural».
Foi presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa de 2014 a 2018 e docente da Universidade Pedagógica de Maputo. Colaborou ainda na imprensa moçambicana com poemas, contos, crónicas e ensaios, incluídos na antologia Sonha Mamana África (1987). Da sua obra literária, destacam-se, entre outros, os livros de poesia, Dos Meninos da Malanga (1982), Xicandarinha na Lenha do Mundo (1987), Olhar Moçambique (1994), Lírica do Imponderável (2004).
Em novembro de 2011, venceu o Prémio José Craveirinha, o maior galardão literário do país, que distinguiu a sua carreira na literatura e no ensaio.