Mais de quarenta anos depois das independências dos países africanos de língua portuguesa, é tempo de balanço. Balanço de tudo. O livro Políticas Linguísticas em Português, coordenado por Paulo Feytor Pinto e Sílvia Melo-Pfeifer integra os mais variados estudos sobre uma grande diversidade de matérias na especificidade do português, variante europeia, e nas variantes de cada um dos territórios onde vive e contribui para a unidade nacional dos PALOP e do Brasil.
Uma reunião de onze textos originais da autoria de catorze especialistas: de modo diferenciado, de acordo com as especificidades dos contextos e as opções dos autores, os contributos abordam tópicos como a história social da diversidade linguística do país ou território em análise; as representações sociais; os estatutos e papéis da língua portuguesa e das outras línguas presentes; as práticas e ideologias linguísticas; e, naturalmente, a política linguística explícita, nos domínios do estatuto, do corpus e da educação.
A obra começa com o investigador brasileiro Marcos Bagno, "Duas línguas, quantas políticas?" que defende a tese da existência de «dois sistemas linguísticos e, portanto, duas línguas». Enuncia de seguida determinados aspetos que pretendem dar corpo à sua conhecida polémica tese. Por exemplo, os fenómenos fonéticos exclusivos do português europeu e alguns aspetos específicos da gramática brasileira, interrogando-se por fim: «Se estamos perante duas línguas porque é que ainda impera na cultura linguística brasileira e portuguesa uma conceção do português com normas diferenciadas?» No segundo capítulo Paulo Feytor Pinto enumera as políticas de educação linguística nas escolas portuguesas. O que mudou e a continuidade desde a Revolução de Abril. No terceiro capítulo, os investigadores Tjerk Hagemeijer, Rita Gonçalves e Beatriz Afonso identificam as línguas de S. Tomé e Príncipe e as políticas linguísticas do país. No quarto capítulo a investigadora do CELGA/ILTEC da Universidade de Coimbra analisa os contactos linguísticos em Angola, fazendo uma retrospetiva e aludindo a perspetivas para uma política linguística do país. No quinto capítulo, que consideramos extremamente interessante, o linguista moçambicano Feliciano Chimbutane associa as políticas e práticas linguísticas à formação do Estado-Nação em Moçambique, realçando o papel da língua portuguesa na unidade do país no contexto da diversidade linguística que caracteriza o país. No capítulo sexto, a professora Ana Josefa Cardoso analisa a situação linguística de Cabo Verde. O papel do português e do kabuverdianu. No capítulo sétimo, o professor japonês, Atsushi Ichinose, Diretor do Departamento de Estudos Luso-Brasileiro da Universidade Sophia de Tóquio reporta-nos para as angústias e esperanças na promoção do português na Guiné - Bissau. O oitavo capítulo é dedicado a Macau com autoria de Maria José Grosso, onde sobressai a relevância que o Estado chinês tem dado à promoção do português no país e à formação de quadros chineses que trabalham nos países africanos de língua oficial portuguesa. No nono capítulo, a professora da Universidade de Aveiro Lúcia Vidal Soares alude aos "sinuosos caminhos das políticas das políticas linguísticas em Timor - Leste", e à pouca dimensão que o português tem no país, apesar de ser a par com o tétum, língua oficial. No décimo capítulo, a professora Edleise Mendes, da Universidade Federal da Bahia, analisa as políticas linguísticas para a promoção do português no mundo e a cooperação que começa a dar os primeiros passos com os restantes países, nomeadamente com Portugal. Por último um capítulo dedicado às políticas linguísticas para o ensino do português como língua de herança para a diáspora com autoria de Teresa Ferreira e Sílvia Melo-Pfeifer, professoras da Escola Superior de Educação do Porto e da Universidade de Hamburgo, respetivamente.
Em suma, trata-se de uma obra de extrema utilidade dirigida a professores, investigadores e estudantes das áreas da Linguística, da Sociologia, da Ciência Política, das Relações Internacionais e dos Estudos Lusófonos e também a todos os interessados na cooperação internacional entre países de língua oficial portuguesa, em especial nos domínios da Educação e Cultura.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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