Ensaísta e professor universitário na Brown University (Providence, EUA), Onésimo Teotónio de Almeida tem nos últimos tempos publicado uma série de volumes em que é constante a reflexão sobre questões da cultura e da língua portuguesa, na perspetiva de Portugal, não excluindo embora a inevitável relação com os outros países de língua portuguesa. Prosseguindo, portanto, nesta linha de intervenção, surge Diálogos Lusitanos (Quetzal Editores), novo livro em que este autor reúne 25 ensaios, originariamente elaborados como artigos para várias publicações ou como intervenções em encontros de especialistas e cerimónias oficiais.
Sugestivamente intitulada "Aviso prévio – para não perder o fio à meada", a introdução identifica o timbre que dá unidade aos textos selecionados:
«Quase todos os ensaios presentemente reunidos são sobre autores acerca dos quais já escrevi: Fernando Pessoa, Vergílio Ferreira, José Saramago, Eduardo Lourenço, Natália Correia, José Rodrigues Miguéis, José Enes ou Jorge de Sena. Não se debruçam propriamente sobre questões literárias – e aqui está mais um elemento de unidade deste volume –, mas sobre a problemática dos valores (nas suas dimensões ética e estética) relacionados com a obra de cada um desses autores. Mesmo o ensaio sobre o cânone literário, ou até esse outro sobre o humor na literatura portuguesa, podem ser enquadrados num paradigma comum.»
Os tópicos tratados são, pois, variados e vão de aspetos e figuras da vida literária portuguesa, sobretudo da segunda metade do século XX, até à atualidade norte-americana, centrada principalmente no trumpismo. A este fenómeno político são dedicados quatro capítulos (p. 264 à p. 315), que espelham a enorme preocupação do autor, também cidadão americano, com «situações nunca até agora sonhadas» não só nos Estados Unidos mas também em todo o mundo ocidental.
Onésimo Teotónio Almeida aborda igualmente as relações entre pensamento e linguagem, incluindo na discussão a língua portuguesa. Tece, por exemplo, considerações críticas quanto ao uso do português nas universidades ("ideias claras e distintas", pp. 19-37) e como veículo do saber que é próprio das Humanidades ("Humanidades – uma inutilidade mais do que útil", pp. 45-57). Não esquece a efemeridade de qualquer língua, como é o caso do português nas comunidades emigrantes, em "Jorge de Sena as suas 'Noções de Linguística' aprendidas na diáspora" (pp. 205-208). Finalmente, num dos três capítulos que constituem o Apêndice (pp. 319-357), refere-se ao presente e ao futuro das culturas associadas à língua portuguesa ("Lusofonia – a inevitabilidade de uma questão", pp. 319-334).
Como se diz na sinopse com que a Quetzal Editores promove Diálogos Lusitanos, «o fio de unidade deste livro consiste no desenvolvimento de conversas em linguagem clara e distinta com autores tutelares da cultura portuguesa do século XX». E, na verdade, o que seduz nestas páginas e faz delas uma leitura cativante é a clareza e nitidez do pensamento, que, perante temas complexos, se aliam à veia humorística das muitas observações que tanta vivacidade dão à prosa de Onésimo Teotónio de Almeida.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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