Há cinquenta anos, no fim do mês de abril, acontecia em Portugal um golpe que mudaria o rumo do país para sempre. A 25 de Abril de 1974, um grupo de militares, com o apoio da população portuguesa, pôs fim ao regime ditatorial que vigorava há 48 anos. Este golpe entraria para a história como a Revolução dos Cravos, sendo motivo para que, meio século depois, ainda seja comemorado com alegria e entusiasmo. No âmbito desta celebração, a Universidade de Aveiro publicou, em dois volumes, a obra «As cores de Abril». O seu objetivo principal é, segundo os seus editores, «promover a “cultura da memória” contra a “incultura do esquecimento”, celebrando abril, para que, nestes tempos de incertezas e de esquecimento anestesiante, a memória deste dia transformador das nossas vidas não mais se apague» (pág. 9).
O primeiro volume, objeto desta Montra de Livros e designado por «o florir dos cravos», é composto por artigos que abordam o fim da censura e a conquista da liberdade através de análises daquilo que era dito pela imprensa nacional e internacional sobre as consequências da revolução. Deste grupo de textos, destacamos, em primeiro lugar, «Jornais, jornalistas e jornalismo na Revolução de Abril», da autoria de Pedro Marques Gomes (Instituto Politécnico de Lisboa), que apresenta uma síntese sobre os media durante o processo revolucionário que decorreu entre o 25 de abril e o 25 de novembro. Este trabalho dá conta das importantes transformações que ocorreram na imprensa portuguesa e que contribuíram para a institucionalização da democracia portuguesa.
Outro artigo cujo tema está relacionado com a língua e os seus usos é assinado por Luiz Humberto Marques (Universidade da Maia/ Universidade do Minho) e intitula-se «Censura: a máquina salazarada. Veneno e verniz da realidade». Neste texto, explora-se o processo de censura aplicado a tudo o que era publicado em Portugal e que ficou conhecido como lápis azul, instrumento simbólico usado pela máquina censória da ditadura. Nesta análise são ainda descritos alguns casos de escritores portugueses cujas obras sofreram censura, mas que continuaram a lutar pelo seu fim, como Natália Correia ou Ferreira de Castro. O artigo termina com a seguinte questão ao leitor: Terão os instrumentos censórios terminado de vez? Segundo o autor «é de crer que sim, embora a liberdade obrigue a lutas permanentes, contra intolerâncias e fanatismos. Apesar das ameaças de asfixia, o oxigénio da liberdade continua a circular…» (pág. 51).
Por fim, salienta-se o texto de Lourenço do Rosário, premiado contista moçambicano, com o título «Os impérios também se abatem» e que reflete sobre a queda do império colonial português, que aconteceu após a revolução de 25 de abril de 1974, e as marcas que esse processo deixou na relação entre Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Em síntese, este primeiro volume da obra «O florir dos cravos» dá ao seu leitor uma visão interessante sobre a revolução de abril de 74, deixando claro que, apesar dos anos, é importante que os ideiais que há cinquenta anos colocaram Portugal nas bocas do mundo não caiam no esquecimento.
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