Os sociolinguistas e os psicolinguistas muito terão de estudar a linguagem dos jornalistas que fazem a cobertura da presente "guerra no Iraque". Ou, para sermos mais rigorosos com a semântica, não estaremos, antes, em presença de uma "invasão" do Iraque pelas forças coligadas dos EUA, do Reino Unido e da Austrália?
Alguns exemplos destes metadiscursos:
O fogo amigo. O que é "o fogo amigo"? "O fogo amigo" é referido sempre que um míssil apontado para um alvo iraquiano se mostra menos "inteligente" (outra subtileza linguística deste conflito…) e, em vez de atingir o "inimigo" pretendido, lança a morte nas suas próprias forças. Se as "baixas" (outro vocábulo ora muito em voga) não falassem inglês, o "fogo amigo" passaria a ..."danos colaterais".
Ajuda humanitária. A população de Bassorá, a segunda cidade iraquiana, acaso resista aos escombros da metralha "aliada" (outro recurso linguístico precioso nestes tempos de ONU torpedeada), dificilmente escapará à sede e à fome, segundo os alertas de várias organizações humanitárias, impotentes em fazer chegar água potável e alimentos.
E entre a tragédia (humana) anunciada e a ajuda (humanitária) bloqueada, até já se ouve e lê por aí que, nesta última, a parte de leão caberá às grandes companhias da construção civil. Claro, norte-americanas, a maioria, inglesas e australianas… na linha da frente.