Vale a pena dar revelo a uma palavra que muitas vezes passa despercebida, mas que faz muita diferença na interpretação dos enunciados: a preposição.
Tome-se para primeiro exemplo este título: «Alan Greenspan em Lisboa para conferência do Sol e DD» (Diário Digital, 3/10/07). Conhecemos as «conferências de imprensa, de paz, da ONU, do Casino»…, mas não de um ou dois jornais. Houve a intenção de puxar para o título o facto de a conferência ter como receptores exclusivos o Sol e o DD. É claro que a fórmula «conferência dada ao Sol» criava um trocadilho desnecessário. Ora, como um título é um produto condensado, omitiram-se palavras — indevidamente: afinal tratou-se de uma «conferência a convite do Sol e do DD».
Outro título: «Liga para a Democracia da Birmânia não dialoga com Junta Militar…» (Lusa, 9/10/07). A preposição para introduz complemento com o valor semântico de finalidade: a Liga tem por objectivo um determinado estado de coisas, estado esse ainda não vigente. Porém, esta informação é negada nas duas palavras seguintes — da Birmânia —, pois de indica, justamente, que a Birmânia já está abrangida por um regime democrático. No título devia simplesmente estar: «Liga para a Democracia na Birmânia».
Agora este: «Críticas à falta de planeamento do ministro» (TSF Online, 8/10/07). Se o ministro não planeou algo, não se pode dizer «planeamento do ministro», porque de introduz um complemento que dá o ministro como agente da acção, coisa que, segundo as críticas, ele não é. Devíamos ter: «Críticas ao ministro por falta de planeamento».
São coisas miúdas que, no correr de um texto, passam ao lado. Porém, num título, ou seja, na montra ou rosto da notícia (onde se extingue, tantas vezes, a leitura integral do texto), estas imprecisões são amplificadas. É que com duas letrinhas apenas se compõe — ou se estraga — um bom título.
Artigo publicado no semanário Sol de 13 de Outubro de 2007, na coluna Ver como Se Diz