De um modo geral, a redundância, isto é, a reiteração de uma informação num sintagma ou frase, é descrita, no comum dos prontuários, como um deslize de linguagem: «Descer por ali abaixo» ou «Entrar por ali dentro» são exemplos de redundâncias.
É preciso ver, todavia, que a redundância tem também, em qualquer texto (breve ou longo, oral ou escrito), uma função reconhecidamente válida: retomar, consolidar ou sedimentar um dado conteúdo para, a partir daí, fazer avançar o discurso e introduzir informação nova. O texto é, então, fruto de um equilíbrio funcional entre repetição e progressão informativa.
Noutros casos, a redundância serve para assinalar que uma dada situação é inquestionável ou plena. É o que nos dizem certas expressões fixas, como «guerra é guerra» ou «viver a vida».
Mas outras vezes — muitas vezes — a redundância é simplesmente um enchimento para um vazio informativo. Veja-se esta declaração de Luís Filipe Menezes à TSF (17/12/07): «Há manifestamente problemas graves ao nível da coordenação da investigação criminal no que respeita à articulação das diversas forças que têm responsabilidades». Coordenação e articulação são sinónimos e «investigação criminal» pressupõe «forças que têm responsabilidades»; no entanto, a expressão «no que respeita» indicia (falsamente) que se vai especificar alguma coisa — o que não acontece, de facto.
É muito comum este tipo de redundância, não apenas no discurso político e institucional, mas também na imprensa (por exemplo, «Igualdade de Oportunidade para Todos», Diário de Notícias, 15/12/07).
Ora, como a língua é o que dá corpo ao pensamento, aquilo que se pode concluir, no mínimo, é que os portugueses andam a pensar mal.
Artigo publicado no semanário Sol de 22 de Dezembro de 2007, na coluna Ver como Se Diz