«Porque se houver muito mais gente a querer votar nesta "chincana" de incoerência, então o problema é de nós todos, e é um problema gravíssimo»
SIC Notícias, 19 de abril de 2025
Na frase supra, dita numa televisão, aparece "chincana", mas deveria ser chicana. A palavra chicana tem hoje curso sobretudo no discurso político, sendo utilizada para caracterizar uma argumentação falaciosa e intelectualmente desonesta, característica da baixa política. Teve origem no socioleto jurídico, onde era usada para caracterizar um argumento ardiloso, de má-fé ou baseado num detalhe irrelevante, como um formalismo ou uma tecnicalidade jurídica, cujo objetivo era retardar o andamento de um processo judicial e/ou obter ganho de causa. Porém, hoje é maioritariamente utilizada no discurso político, sendo frequente o uso da expressão «chicana política» e outras aparentadas. Consultando o CETEMPúblico facilmente se deteta que a esmagadora maioria dos usos estão, de facto, relacionados com a realidade política, existindo ainda as expressões «chicana mediática» e «chicana eleitoral», afinal derivações de «chicana política». Existem, mas são muito minoritários os usos de chicana, relacionados com a realidade jurídica, embora também se encontrem as expressões «chicana judicial» e «chicana processual».
Além do nome, existem os verbos chicanar e chicanear, que significam contestar sem fundamento
A palavra chicana, já conformada ao português, e chicane, decalcada do francês, também são utilizadas no automobilismo, sobretudo na Fórmula 1, para caracterizar uma série de curvas acentuadas em ziguezague ou em formato de S, que obrigam os carros a diminuir a velocidade. Surgem normalmente a seguir a grandes retas e permitem testar as competências dos pilotos e as manobras de ultrapassagem entre os carros, além de servirem para aumentar a segurança em pista.
Sem certezas, aventa-se que a utilização daquela inexistente "chincana" possa ter a ver com uma confusão fonética com a palavra gincana ou até com chinquilho ou chinfrim, em que as primeiras sílabas terminam em -in (gin- e chin-).