Nenhum falante conhece todas as palavras da sua língua materna. Por exemplo, escaque, soleto ou epónimo são palavras de que, seguramente, a maioria dos falantes nativos do português nunca ouviu falar.
Mas não basta ter ouvido ou lido uma palavra para se poder dizer que se conhece essa palavra. Conhecer uma palavra implica, naturalmente, saber como se pronuncia ou escreve, mas também como se flexiona, de que palavra derivou (ou de que formas se compôs), a que classe pertence, que posições ocupa e que relações de dependência estabelece com outras palavras na frase, que sentidos (próprio, figurado, afectivo) assume, em que contextos ou situações pode (ou não) ser usada.
Atente-se em dois casos em que o uso indevido de uma palavra se situa ao nível da significação, resultando daí efeitos contrários.
A propósito da substituição da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, leu-se no JN: «Inimigos de antigas lutas (…) vangloriando-se por uma medida que já tardava» (30/1/08). Confundiu-se aí vangloriar-se (de vanglória, vã glória, sinónimo de orgulhar-se), com congratular-se ou regozijar-se. O jornalista acertou na palavra ao lado.
Há tempos, a ministra da Educação declarou à TSF não compreender a prioridade solicitada pelo procurador-geral da República para a investigação de casos de violência escolar — e justificava: «Estamos sempre a falar de actos muito marginais» (30/10/07). Marginal é um adjectivo derivado de margem, com o significado de «alheio à lei ou à vida em sociedade, delinquente». A ministra acertou na palavra em cheio.
Artigo publicado no semanário Sol de 16 de Fevereiro de 2008, na coluna Ver como Se Diz