O misterioso CPP... quê?
Paulo Pena e José António Cerejo
Público, 27/09/2014
No princípio era assim: “O membro fundador Pedro Manuel Mamede Passos Coelho tomou a palavra.” Foi a primeira palavra dita em nome do Centro Português Para a Cooperação (CPPC), fundado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, “aos onze dias do mês de Outubro”, de 1996. O acto teve lugar no escritório do advogado Fraústo da Silva, que tinha redigido os estatutos do CPPC a pedido de Passos Coelho, com o qual tinha estado, até cerca de um ano antes, nos órgãos dirigentes da JSD, na condição de presidente do Conselho Nacional de Jurisdição.
(…)
Afinal, a tal ideia para Cabo Verde não era nem do CPPC, nem de Passos Coelho. Fora-lhes transmitida por João de Deus Pinheiro, na altura Comissário Europeu, numa reunião em Bruxelas: “Fomos lá apresentar o CPPC, o que nos propúnhamos fazer e saber da sensibilidade dele, nomeadamente que possibilidades de financiamentos havia para os PALOPs. E o João de Deus Pinheiro até nos deu logo uma ideia, dizendo que a Comissão Europeia estava a pensar num projecto para Cabo Verde, que era a criação de um instituto para formação de funcionários públicos. E que este instituto deveria servir também para formar pessoas para os outros PALOPs porque os quadros deles da administração pública eram muito deficitários. Disse-nos ainda que seria bom que criássemos um instituto em Cabo Verde e que a Comissão Europeia estava disposta a apoiar financeiramente uma coisa dessas.” Falhou…(…)
Ainda se concede o tropeção na oralidade, propício por regra a descuidos de linguagem – como é o caso da pluralização de uma sigla correspondendo ela já a um sintagma no plural1. Mas em registo escrito (e, ainda por cima, num jornal que faz do Acordo Ortográfico a fonte de todas as malfeitorias à língua portuguesa)?! Basta(va) pensar duas vezes: afinal, o que quer dizer PALOP? E se o P é a inicial de países, para quê o plural na sigla2? E mesmo que, até pelo sentido próprio, PALOP não fosse um termo invariável – como acontece, obrigatoriamente, com qualquer qualquer sigla –, desde quando se faz assim o plural em português (juntando duas consoantes3)?!
1 Exemplos deste uso são as expressões «as ONGs» (ou seja, «as organizações não governamentais») e «as TVs», muito embora neste último caso a sigla se tenha convertido em palavra dissilábica, tevê, que tem o plural tevês.
2 Como a sigla PALOP se pronuncia silabicamente, como uma palavra, essa particularidade vocabular caracteriza-a também como acrónimo. Daí, a tendência, na oralidade, para a sua pluralização.
3 Excetua-se o caso dos substantivos e adjetivos terminados em -m, que fazem o plural em -ns: imagem/imagens; fim/fins; bom/bons; álbum/álbuns.