Todas as línguas incluem termos vagos no seu léxico, termos que se situam numa penumbra de significação, que não apresentam um conteúdo conceptual preciso ou delimitado. «Coisa» é uma palavra que apresenta um grau máximo de imprecisão semântica, mas há outras, com graus intermédios, como «questão», «matéria», «elemento». São palavras que apresentam os mais longos verbetes nos dicionários. Dada a sua vagueza, estas palavras servem para orientar o discurso tanto numa dada direcção comunicativa como na direcção oposta.
Por isso é que, quando se ensina um aluno do secundário (ou do superior) a redigir um texto expositivo/explicativo de alguma extensão – em que se exige a apresentação de dados discretos e a descrição de relações entre factos –, insiste-se na instrução de que estes termos devem ser evitados.
No entanto, no discurso dos governantes e no discurso dos media – discursos que deveriam estar norteados por uma função expositiva ou explicativa –, estes termos são claramente dominantes.
Esteja o leitor atento e dê conta de quantas vezes ouve ou lê a palavra «ideia». A ideia dá-se, reitera-se, recusa-se, reforça-se, confirma-se, é partilhada, é defendida, é corroborada…
A ideia é e a ideia não é: «A ideia é aumentar a capacidade financeira do FEDER» (“Apresentação do Programa Operacional Transfronteiriço Portugal-Espanha”, Portal do Governo, 6/2/08); «A ideia não é arrastar isto desnecessariamente» (Mário Lino, TSF, 27/1/08).
Mais do que um termo vago, «ideia» é, nestes contextos, uma muleta onde se firma um vazio informativo.
Artigo publicado no semanário Sol de 8 de Março de 2008, na coluna Ver como Se Diz