A União Europeia acaba de integrar dez novos membros, passando de 15 para 25. Este alargamento teve como consequência a introdução de um conjunto de mudanças na sua arquitectura jurídico-política. Contudo, há um problema que tem sido pouco abordado pelos analistas: a questão das línguas de trabalho ou oficiais.
Antes do alargamento, a UE tinha onze línguas oficiais. O Parlamento Europeu era já uma autêntica Babel. Um dia inteiro de traduções simultâneas tinha encargos de milhares de euros diários. Actualmente há 19 línguas oficiais. Por imperativos de natureza financeira, de funcionalidade e até de natureza democrática, o historiador inglês Timothy Ash interrogava-se, recentemente, sobre a possibilidade de conduzir uma democracia com 20 línguas diferentes, começam a surgir vozes defendendo que a União Europeia deveria adoptar línguas de trabalho.
Mas que línguas? O inglês, claro... falado por pelo menos 55 por cento dos cidadãos da UE. O que é paradoxal, dado estar a conferir-se um privilégio especial a uma língua de um Estado-membro que é dos mais contestatários ao desenvolvimento do processo de integração europeia. O francês... que continua a ter uma expansão notória no Norte e no Centro da Europa e de consistente afirmação cultural. O alemão... a Alemanha que continua a ser a maior potência económica da UE. E o espanhol? E o italiano? E até o polaco?
E o português, perguntamos nós? A revista “Visão” fez, no seu número de 09-06-2004, um questionário aos cabeças-de-lista das maiores forças políticas candidatas ao Parlamento Europeu sobre o que Portugal deve fazer na defesa e promoção do português como língua viva da União Europeia. Obviamente que as respostas revelam grande convergência na defesa da língua portuguesa.
Escrito antes do seu brutal falecimento, o Prof. Sousa Franco (era o cabeça-de-lista do Partido Socialista) invocava o facto de o português ser a terceira língua europeia mais falada no mundo.
Ilda Figueiredo, candidata eleita pela coligação liderada pelo PCP, assumiu que a defesa do português «será uma das nossas prioridades» no Parlamento de Estrasburgo.
Miguel Portas, eleito pelo Bloco de Esquerda, escrevia que o «português vive e viverá como língua de cultura», propondo-se contribuir para «vencer a batalha por uma Europa mosaico de diversidades, rejeitando o centralismo burocrático e uniformizador».
Finalmente, o primeiro eleito pela coligação PSD/PP, João de Deus Pinheiro, referiu-se à sua experiência de antigo comissário europeu, quando ameaçou não participar nos Conselhos de Ministros da Comissão Europeia se persistisse a má qualidade das interpretações e traduções do português. Por via dessa posição, acrescentou, levou a Comissão Europeia a financiar vários cursos de tradutores e intérpretes em Portugal.
Como se verifica, há uma real convergência dos deputados portugueses ao Parlamento Europeu na defesa da língua portuguesa. Mas que capacidade terão na defesa e promoção do português como língua viva da União Europeia? Mais: e que faz o Estado português? Acaso o Instituto Camões tem estratégias para a promoção e difusão do português, especialmente dirigidas aos novos países membros da União Europeia, e para a Europa em geral? E o que pensou, e faz, o Instituto Camões nas estruturas da própria UE, através do apoio a tradutores e intérpretes?